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Engenharia afetiva e racismo ambiental: como salvar vidas antes de tragédias climáticas acontecerem?

A engenharia desenvolveu técnicas que podem monitorar e prever com antecedência esses sinistros. Para além disso, é preciso a capacidade de afeto aos indivíduos

Imagem aérea da Barra do Sahy, em São Sebastião (FERNANDO MARRON/Getty Images)

Imagem aérea da Barra do Sahy, em São Sebastião (FERNANDO MARRON/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 25 de fevereiro de 2023 às 08h03.

A história se repete: entra ano e sai ano, centenas de pessoas morrem no Brasil por causa de tragédias climáticas. É muito comum ouvir que, infelizmente, foi um fenômeno natural e que as mortes não poderiam ser evitadas, porém mais do que previsível é esperado que chova.

A engenharia desenvolveu técnicas avançadas que podem monitorar e prever com antecedência esses sinistros. Para além disso, é preciso que a engenharia seja aplicada com a capacidade de afeto aos indivíduos, somada aos cálculos e tenhamos em mente que tragédias causadas pelas chuvas colocam em xeque algo extremamente precioso e de valor incalculável: a vida das pessoas.

Ano passado, somente em dezembro de 2022, mais de 188 mil pessoas foram atingidas pelas chuvas na Bahia, segundo informações da Superintendência de Proteção e Defesa Civil do estado (Sudec). No mesmo período, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) soltou um alerta de que as previsões climáticas até janeiro deste ano poderiam ficar próximas ou acima da média no Norte, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Pois bem, sinal amarelo aceso. Saber que vai chover acima da média é muito importante, contudo, só saber que vai chover não é o suficiente.

Ampliando um pouco mais o panorama histórico, em 1967, cerca de 487 morreram em decorrência das chuvas no município de Caraguatatuba (estima-se que esse número foi bem maior na época).  De lá para cá, segundo informações do Governo Federal, as tragédias seguem acontecendo cada vez mais violentas. O município de Itaóca, no Vale do Ribeira, sofreu com inundações em 2014. Os 150 milímetros de chuva deixaram um rastro de destruição, com 25 óbitos, dois desaparecidos, 21 desabrigados e 332 pessoas desalojadas.

No ano de 2020, em Guarujá, 34 pessoas morreram vítimas de deslizamento de terra depois de 121 mm de acumulado de chuva.  Já em 2022, Petrópolis (RJ), registrou a sua maior tragédia climática da história, deixando 4 mil desabrigados ou desalojados e 235 mortos; em contrapartida, a prefeitura da cidade gastou apenas 15% do orçado em habitação, segundo informações do Portal da Transparência da Prefeitura de Petrópolis.

Neste ano, o Litoral Norte do estado recebeu o maior acumulado de chuvas que se tem registro no país, com 682 milímetros e um rastro incalculável de destruição. Ainda há 40 pessoas desaparecidas, com mais de 1.730 desalojados e 766 desabrigados. Cidades como São Sebastião e Bertioga foram as mais afetadas [até o fechamento deste artigo].

E vale ressaltar que a engenharia dispõe de ferramentas e tecnologia que podem ser aplicadas em áreas de deslizamento e enchentes. A instalação de instrumentos e o monitoramento geotécnico, que se faz a partir das leituras desses equipamentos é uma prática usual que acontece diariamente nas principais obras de engenharia, como túneis, barragens, aterros controlados, edificações, etc.

Veja bem o que quero dizer: bem antes de todas essas tragédias acontecerem, no período de estiagem, é preciso que o poder público se mobilize em todas as suas esferas (Federal, Estadual e Municipal), desenvolvendo possibilidades de projetos, obras de recuperação e estabilização de áreas de risco para que, quando por alguma motivo (prazo, local ou custo) não for possível a execução dessas obras, o mínimo que se deve ser feito é o  monitoramento dessas regiões, para que seja possível a programação de uma evacuação organizada das pessoas que moram nesses locais, assim que forem identificados os riscos eminentes da ocorrência de acidentes, evitando que se tornem vítimas das tragédias climáticas.

Soma-se a isso, a falta de revisão de Planos Diretores de cada município espalhado pelo país. Pessoas que moram em encostas e áreas de risco, na grande maioria das vezes, constroem casas nesses locais porque não têm para onde ir. A desigualdade social potencializa um problema previsível, mas que pode ser evitado.

Outro dado que também choca são os números que revelam um racismo ambiental brutal no país. Um estudo realizado pelo Instituto Polis nas cidades de São Paulo, Recife e Belém, em agosto de 2022, revelou que pessoas negras e pobres  são os grupos mais impactados pelas tragédias ambientais. Em Recife, o estudo identificou 677 áreas de risco de deslizamento, sendo que 68% da população que mora nestes locais é negra.

Em Belém, uma em cada cinco moradias em áreas de risco de inundação ou de erosão causada pela água é comandada por mulheres de baixa renda. Na capital, Pará, das 125 áreas sob risco de uma tragédia ambiental não coincidem com os bairros de maior poder aquisitivo da cidade, em que a proporção da população branca também é maior.

Para frear o ritmo constante deste tipo de tragédia no país é preciso desenvolver políticas públicas eficazes neste sentido, mobilizando o poder público em todas as esferas, medidas foram tomadas e a legislação alterada em relação ao tipo de monitoramento que é realizado na mineração, algo semelhante precisa acontecer nas áreas de risco.. Chover todos os anos a gente sabe que vai, é natural e esperado que chova, mas desenvolver medidas de prevenção é fundamental para evitar esse ciclo recorrente e  que mais vidas sejam perdidas.

*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista pós graduado em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC), filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul e sócio fundador da MMF Projetos.

 

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