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Energia solar flutuante: Brasil pode gerar até 3.800 GW aproveitando reservatórios existentes.
Publicado em 18 de junho de 2025 às 14h30.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 15h06.
A energia solar flutuante ainda é uma tecnologia pouco explorada no Brasil. Consiste na instalação de sistemas de produção de energia solar sobre a superfície de reservatórios de usinas hidrelétricas, aproveitando áreas subutilizadas e evitando conflitos por uso da terra.
O Brasil apresenta condições favoráveis para essa tecnologia. Estudo recente da PSR indica que o país poderia instalar entre 2.265 e 3.800 gigawatts (GW) de capacidade solar flutuante (entre 20 e 40 vezes a demanda máxima de energia elétrica nacional), considerando apenas uma pequena parcela da área dos reservatórios existentes.
Apesar do potencial identificado, a adoção da tecnologia no país ainda é limitada. Os principais projetos em operação são de pequeno porte, desenvolvidos sob o regime de micro e minigeração distribuída, com capacidade de até 3 MW por unidade.
Considerando limitações técnicas e condições de mercado, o estudo da PSR aponta um potencial realista de 25.000 MW, com geração média de 4.200 MW — equivalente a 20% da produção hidrelétrica dos principais reservatórios analisados.
A vantagem competitiva da solar flutuante está na infraestrutura compartilhada. Ao utilizar as linhas de transmissão e subestações já existentes das hidrelétricas, a tecnologia evita investimentos em nova infraestrutura de escoamento — um gargalo crítico para projetos solares convencionais.
Atualmente, o custo de instalação da usina solar flutuante é cerca de 40% superior ao da solar terrestre (R$ 6,3 milhões/MW ante R$ 4,5 milhões/MW), devido às estruturas flutuantes especializadas e maior complexidade de instalação. Contudo, a economia em transmissão pode compensar essa diferença, especialmente considerando que muitos reservatórios estão próximos aos grandes centros de consumo no Sudeste.
No entanto, há desafios regulatórios significativos. A tecnologia enfrenta incertezas sobre despacho coordenado entre solar e hidrelétrica, necessidade de outorgas separadas para diferentes tecnologias e falta de regras claras para operação integrada. Esses entraves aumentam os riscos de investimento e retardam a expansão.
Do ponto de vista ambiental, é importante avaliar quais são os impactos sobre ecossistemas aquáticos e atividades como pesca e navegação, sobretudo para usinas solares flutuantes de grande porte. O processo de licenciamento precisa ser criterioso.
A tecnologia tem sinergia com o sistema elétrico brasileiro. Durante períodos de alta irradiação solar, ela pode reduzir o uso dos reservatórios, preservando água para momentos de maior necessidade. Ela também pode compensar a redução da produção hidrelétrica causada pela mudança climática, com períodos de seca mais prolongados, e pela perda de eficiência de nosso parque hidrelétrico, com idade média de 50 anos e sem modernização adequada.
Para acelerar a adoção dessa tecnologia, é necessária regulamentação mais clara sobre operação integrada, redução de barreiras para licenciamento e incentivos que reconheçam os benefícios sistêmicos da tecnologia. O potencial de transformação do setor elétrico nacional justifica esses esforços regulatórios.