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Energia limpa sobra na América do Sul: o que falta para transformar o potencial em projetos reais?

Entre potencial expressivo e entraves estruturais, região segue como referência na adoção de fontes renováveis no setor elétrico

Energia renovável: América do Sul tem matriz elétrica mais limpa que a média global.

Energia renovável: América do Sul tem matriz elétrica mais limpa que a média global.

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 14h00.

A América do Sul se destaca por ter uma das maiores participações renováveis na matriz elétrica, puxada há décadas pela hidreletricidade e, mais recentemente, pelo avanço da eólica e da solar em países como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina. Em 2024, a fatia de geração a partir de fontes limpas na região ficou em torno de 70%, contra cerca de 30% no mundo. A abundância de recursos faz do continente um dos lugares mais promissores para projetos renováveis. Mas transformar potencial em realidade ainda exige superar barreiras estruturais.

Cada país guarda um “tesouro energético” particular. O Chile concentra, no Atacama, a maior radiação solar do planeta. O Brasil, sobretudo no Nordeste, combina recursos eólicos e rápida expansão solar: em agosto de 2025, essas fontes responderam por 34% da geração total do país. A Patagônia argentina desponta como polo eólico, enquanto a Colômbia tem na região de La Guajira excelentes condições para desenvolvimento de parques onshore e offshore. Nos Andes, Peru e Bolívia também contam com alta radiação solar, e Equador e Colômbia mantêm grande potencial hídrico ainda por explorar.

O Uruguai já transformou sua matriz e hoje opera com mais de 90% de energia limpa. Já o Paraguai, por sua vez, conta com grandes hidrelétricas binacionais, como Itaipu e Yacyretá, que somam cerca de 17 GW, além do projeto Corpus Christi, de 3,5 GW, em estudo com a Argentina.

Esse potencial se conecta a metas climáticas cada vez mais exigentes. A Organização Latinoamericana de Energia (OLADE) estima que a América Latina precisará adicionar 1.500 GW de renováveis até 2050 para alcançar mais de 80% de capacidade instalada limpa.

Ao mesmo tempo, cresce a pressão de mercados consumidores em setores como mineração, siderurgia e agroindústria. O “Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono” (CBAM) europeu, que a partir de 2026 passará a taxar importações dependendo da pegada de carbono, é exemplo deste movimento.

Apesar das vantagens e do avanço obtido até o momento, gargalos estruturais travam o desenvolvimento pleno da expansão. No Chile, cortes de geração solar chegaram a 6 TWh em 2024 por falta de transmissão — energia suficiente para abastecer cerca de 2,5 milhões de casas. No Brasil, restrições semelhantes têm se tornado mais frequentes. Somam-se a isso, questões sociais: comunidades indígenas e rurais contestam a instalação de parques e linhas em áreas sensíveis, como em La Guajira (Colômbia) e na Patagônia (Argentina).

Por outro lado, há iniciativas para promover maior integração dessas fontes. O desenvolvimento de projetos de armazenamento, que podem lidar com a intermitência da geração renovável, é uma delas. Neste sentido, o Chile passou a incluir baterias e projetos híbridos em seus leilões, a Argentina realizou em agosto um leilão de baterias, e o Brasil discute novas regras para contratação de armazenamento via leilões de capacidade. A integração regional, que permite aproveitar a complementariedade das fontes, também se fortalece, com destaque para o SINEA, o Sistema de Integração Elétrica Andina, que vai interligar os sistemas de Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Chile a partir de 2026.

A América do Sul reúne condições únicas para ser referência global em energia limpa. Vencer gargalos de transmissão, dar previsibilidade regulatória, engajar comunidades locais e atrair financiamento são passos cruciais para materializar o potencial regional.

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