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O prédio da ONU, em Nova York: última conferência sobre águas aconteceu em 1977 (Leandro Fonseca/Exame)
Editor ESG
Publicado em 22 de março de 2023 às 06h00.
A fila em frente ao escritório de credenciamento da ONU, na Rua 45, a poucos metros da sede das Nações Unidas em Nova York, se estendia por cerca de 10 metros quando a reportagem da EXAME chegou para buscar suas credenciais, nesta terça-feira, 21. Uma hora e 45 minutos depois, tempo que demorou para completar o processo (e isso contando que a foto já estava no sistema), a multidão de diplomatas, ativistas e jornalistas aguardando para entrar nas dependências alcançava a Segunda Avenida, serpenteando por quase um quarteirão novaiorquino, e dos grandes.
Há enorme expectativa pela conferência que se inicia hoje, a Water Conference 2023, o primeiro fórum de águas organizado pela entidade desde 1977. A partir desta quarta, 22, data em que é comemorado o Dia Mundial da Água, o mundo estará reunido para debater um dos assuntos mais urgentes e negligenciados entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o de número 6: água e saneamento.
Ainda na terça, a equipe de imprensa da ONU se reuniu com jornalistas para fornecer uma prévia do que será debatido nos próximos três dias. O cenário não é nada animador. De 11 indicadores estabelecidos para acompanhar as metas do ODS 6, cinco sequer contam com dados efetivos. E alguns precisam quadruplicar o desempenho se o mundo quiser resolver o problema.
Que problema é esse, afinal? Nada menos do que a falta d’água. Segundo a ONU, 26% da população mundial, o equivalente a 2 bilhões de pessoas, não contam com acesso seguro a água potável. Quando se trata de saneamento, a situação é ainda pior: mais de 3,6 bilhões de pessoas, quase metade dos humanos no planeta, carecem de tratamento adequado de seus excrementos, o que agrava outro problema urgente em se tratando de água, a poluição, um dos catalisadores da endemia de falta d’água.
“Há uma urgência em estabelecer mecanismos internacionais fortes para prevenir a crise hídrica global de sair do controle”, afirmou aos jornalistas Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, órgão da ONU que trata de educação, ciência e cultura. “Água é o nosso futuro, é essencial agir em conjunto para dividir esse recurso e gerencia-lo de maneira sustentável.”
Para Gilbert F. Houngbo, presidente do conselho da UM Water e diretor-geral da Organização Mundial do Trabalho, o tempo não está do lado da humanidade nesse caso. “Devemos ser ambiciosos e acelerar as ações”, disse Houngbo.
A boa notícia nessa enxurrada de negatividade, é que a eficiência no uso da água aumentou 9% no período pesquisado (entre 2015 e 2018). O melhor resultado veio da indústria, que elevou a eficiência em 15%, seguido do setor de agricultura, com 8%. É um sinal claro da importância do setor privado para o avanço do ODS 6.
Mesmo com o avanço, a ONU espera que a população sujeita à escassez hídrica irá dobrar até 2050, o que deve gerar prejuízos bilionários. Desde a última conferência das águas, estimasse que a economia global perdeu 700 bilhões de dólares em virtude de crises hídricas.
Na sexta-feira, 24, o Pacto Global da ONU no Brasil realiza um evento exclusivo, no prédio das Nações Unidas: “Repensando a Governança da Água no Brasil: foco na crise climática e na agenda de cooperação pela água”. O objetivo é unir líderes empresariais com organizações e o setor público para alavancar projetos de resiliência hídrica, gestão eficiente do uso da água, bem como acesso a infraestrutura de saneamento. Além disso, pretende acelerar ações de curto e longo prazo. A Fundación Avina é co-realizadora do encontro e a Exame é parceira de mídia oficial.
“Debater o tema da água é prioridade, pois a crise climática é uma realidade, com problemas como escassez e segurança hídricas, no Brasil e no mundo. Precisamos trabalhar em questões fundamentais como universalização do acesso à água potável e saneamento básico, e o setor privado tem papel fundamental nisso”, diz Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil. “É preciso agir em relação aos recursos hídricos sob o olhar da adaptação, resiliência, eficiência e acesso, com foco e alianças locais, para garantir água para abastecimento humano, produção e consumo, geração de energia, preservação dos ecossistemas e resiliência aos eventos climáticos extremos”