ESG

Dono do LA Times quer lutar contra racismo antiasiático

O jornal de Soon-Shiong, o Los Angeles Times, tem a vantagem de cobrir questões raciais que afetam os asiático-americanos porque a Califórnia abriga a maior população asiática do país

Patrick Soon-Shiong (à direita), dono do jornal Los Angeles Times (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

Patrick Soon-Shiong (à direita), dono do jornal Los Angeles Times (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

B

Bloomberg

Publicado em 11 de maio de 2021 às 11h42.

Última atualização em 11 de maio de 2021 às 12h46.

Por Yueqi Yang

Como o único americano descendente de asiáticos que é proprietário de um dos cinco maiores jornais dos EUA, o bilionário Patrick Soon-Shiong disse que se encontra em uma posição única para lutar contra o crescente ódio e racismo antiasiáticos.

O jornal de Soon-Shiong, o Los Angeles Times, tem a vantagem de cobrir questões raciais que afetam os asiático-americanos porque a Califórnia abriga a maior população asiática do país. Mas ele pretende não apenas lançar luz sobre as questões étnicas por meio de seu jornal, como também cobrir as opiniões sobre os dois extremos políticos, conforme disse.

“Uma das minhas metas no nosso jornal é ser verdadeiramente objetivo e dar uma exposição justa a ambos os lados”, disse ele em entrevista em Los Angeles. “Talvez você discorde totalmente, mas pelo menos tente entender” a opinião do outro lado, disse ele.

Quando Soon-Shiong e sua esposa, Michele B. Chan, compraram o Times por US$ 500 milhões em 2018, eles se tornaram os primeiros proprietários não-brancos na história centenária do jornal de Los Angeles. A venda também incluiu o San Diego Union-Tribune.

A redação do Times se expandiu com seu investimento, mas também enfrentou críticas internas sobre a falta de diversidade entre sua equipe e na cobertura jornalística. No ano passado, em meio à onda de protestos após a morte de George Floyd, membros negros da redação publicaram uma carta aberta a Soon-Shiong, exigindo maior representatividade e um pedido de desculpas.

“O debate do país sobre raça colocou um holofote muito necessário sobre as desigualdades no The Times”, diz a carta. “Muitos de nós que trabalhamos aqui somos frequentemente ignorados, marginalizados, subvalorizados e deixados à deriva ao longo de carreiras que oferecem poucas oportunidades de progresso.”

No ano passado, o jornal e seu ex-proprietário, Tribune Publishing, concordaram em pagar US$ 3 milhões para uma ação coletiva formada por um grupo multiétnico de jornalistas, que disseram que recebem menos do que seus colegas brancos do gênero masculino. O próprio jornal também publicou uma história sobre sua própria “dolorosa avaliação de raça”.

Soon-Shiong escreveu uma carta em setembro passado, comprometendo-se a contratar mais funcionários que façam parte de minorias, a fim de refletir as comunidades que cobre. Ele também estabeleceu uma meta para que latinos constituam um quarto da equipe da redação dentro de cinco anos. No início desta semana, ele nomeou Kevin Merida, um veterano jornalista negro que trabalhou no Washington Post e ESPN, como seu próximo editor executivo.

O recente surto de violência antiasiática em todo o país fez com que líderes empresariais da comunidade se manifestassem contra o racismo nas ruas e nas salas de reuniões. Centenas de executivos asiáticos assinaram uma carta aberta para pedir o fim da violência após o tiroteio em Atlanta que matou oito pessoas, incluindo seis mulheres asiáticas. Na semana passada, uma fundação que acabou de ser lançada prometeu alcançar US$ 125 milhões, com líderes corporativos asiáticos incluindo Joseph Bae, co-presidente da firma de private equity KKR, e Jerry Yang, co-fundador do Yahoo, entre seus doadores.

Além dos EUA, Soon-Shiong está olhando para trás, para sua própria história, que moldou suas opiniões. O médico e cirurgião de transplantes sino-americano de 68 anos cresceu durante o apartheid na África do Sul, depois que seu pai fugiu da China durante a Segunda Guerra Mundial. Eles tiveram negado o direito de votar e enfrentaram obstáculos, como uma cota étnica limitada para a faculdade de medicina. Como um jovem médico, ele recebia metade do que os seus colegas de hospital ganhavam e seu primeiro paciente branco inicialmente se recusou a ser examinado por ele.

Depois de se mudar para os Estados Unidos na década de 1980, ele acumulou riqueza em biotecnologia. Com uma fortuna de US$ 15,7 bilhões, é um dos mais ricos asiáticos-americanos, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Olhando para trás, Soon-Shiong destacou o painel de Nelson Mandela para investigar crimes cometidos durante os anos do apartheid e disse que a África do Sul provavelmente está mais “esclarecida” em questões raciais do que os EUA neste momento. Ele acrescentou que a pandemia “desenterrou” uma série de outras questões na América, desde disparidades de saúde até “desorganização” nas respostas do governo ao racismo de longa data.

“O racismo nunca deixou este país, seja ele negro, latino, indígena e agora, asiático”, disse ele. “Até que você reconheça isso, aceite isso, digira internamente e resolva isso, nunca seremos capazes de ir para o próximo nível.”

Ao compartilhar sua experiência pessoal, Soon-Shiong disse que está convocando outros, especialmente os líderes empresariais asiático-americanos, a serem mais proativos e se manifestarem. “Sempre fez parte da nossa cultura ficar quieto, reticente, não dizer nada, abaixar a cabeça e simplesmente continuar trabalhando”, disse ele. “Precisamos encontrar uma maneira em nossa própria cultura de dizer que queremos ter uma voz.”

  • Fique por dentro das principais tendências das empresas ESG. Assine a EXAME.
Acompanhe tudo sobre:ÁsiaJornaisRacismo

Mais de ESG

"Apenas 1% do que é anunciado nas Cúpulas do Clima chega nos povos indígenas", diz Sonia Guajajara

Receita abre nesta sexta-feira consulta ao lote residual de restituição do IR

Indique Uma Preta: consultoria que nasceu no Facebook já impactou 27 mil profissionais negros

A COP29 está no limite e o fracasso não é uma opção, diz Guterres