Patrocínio:
Parceiro institucional:
BNDES: Nova apoiar a estruturação dos catadores e catadoras no novo mercado de reciclagem, permitindo que as cooperativas aproveitem as oportunidades na economia circular. (Sergio Moraes/Reuters)
Plataforma feminina
Publicado em 23 de junho de 2025 às 09h43.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 15h24.
*Por Onara Lima
Levando em consideração um mundo com elevada velocidade de mudança e constante movimentos disruptivos, as instituições financeiras precisam criar uma estratégia e um roteiro sustentável para enfrentar os novos desafios de riscos, até então, considerados como externalidades e capitalizar as oportunidades emergentes.
Implementar análises de risco financeiro de última geração pode ser um bom começo. Mas, incorporar uma mentalidade holística e estratégica de risco vai além, trazendo consigo a cobrança quanto as soluções de gestão de risco financeiro integrado às principais tendências que moldarão a tomada de decisão nos próximos anos.
Neste cenário, ferramentas tecnologicamente robustas de modelagem de portfólio pré-negociação, conectividade ágil e global, ferramentas de conformidade para alocação e análise de risco integrada para melhores insights de investimento e tomada de decisões, devem ter capacidade de inserir os aspectos ESG, levando em consideração realidades quanto a vocação socioambiental e econômica regional.
Voltando para a frase inicial, como mapear e se preparar para captação de recursos para escalar o crescimento sustentável dos negócios e ampliar portfólio?
Existem várias fontes de financiamento para projetos que se conectam com soluções sustentáveis em todo o mundo, incluindo agências governamentais, fundações, instituições financeiras e projetos de investimento socialmente responsáveis.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou o Tudo na Circularidade – Investindo nas cooperativas de material reciclável.
Com a iniciativa, o Banco vai apoiar a estruturação dos catadores e catadoras no novo mercado de reciclagem, permitindo que as cooperativas aproveitem as oportunidades na economia circular, obtendo mais produtividade e maior rendimento.
O anúncio foi feito durante webinar para apresentar a abertura de seleção pública para parceiros gestores, com recursos de R$ 20 milhões do Fundo Socioambiental do BNDES. O projeto pode chegar a R$ 100 milhões, com novas captações.
Ainda liberou, em apenas sete meses de 2024, o correspondente a 2,5 vezes todas as aprovações da história do programa BNDES Fundo Clima de 2013 a 2023 (R$ 3 bilhões, a valores de hoje).
De abril a outubro 2024, o banco aprovou R$ 7,3 bilhões para operações do Fundo Clima. Isso representa 70% dos cerca de R$ 10,4 bilhões aportados pela União ao BNDES, para financiamento de projetos de mitigação da mudança climática e dos seus efeitos.
O Itaú anunciou um compromisso de investir R$ 1 trilhão em finanças sustentáveis até 2030, expandindo significativamente sua estratégia ESG. Essa iniciativa visa apoiar projetos que geram impacto positivo na sociedade e na economia, promovendo a transição para uma economia de baixo carbono.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que são necessários 6,9 trilhões de dólares anualmente até 2030 para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável.
A visão para estruturar e preparar o acesso ao chamado “dinheiro verde", traz caminhos possíveis para identificar as oportunidades, estar atento às opções de linhas de crédito conectadas com o modelo de negócio, processo, inovação, produto e ter a elegibilidade para captar esses recursos, com um bom planejamento, objetivos bem definidos na estruturação do projeto com metas claras e mensuráveis, conectadas na estratégia que o negócio pode usar para aproveitar as oportunidades.
A estruturação de emissões de títulos de dívida ESG no mercado de capitais tanto no mercado local quanto no externo, devem seguir as diretrizes da International Capital Markets Association (“ICMA”) e melhores práticas de mercado, por exemplo, o Guia para Ofertas de Títulos Sustentáveis da ANBIMA.
Estas operações podem conter características verde, social, sustentável, de transição e/ou com características atreladas a metas de sustentabilidade.
De acordo com informações publicadas pelo Banco Central do Brasil, o acumulado de 2015 a jun/2024, as emissões globais somam USD 4 trilhões de dólares. A América Latina representa em torno de 3 a 4%.
O Brasil está entre os três principais emissores da América Latina, junto com México e Chile. O volume acumulado de emissões brasileiras desde 2015 é de USD 31,1 bilhões.
Os emissores brasileiros se beneficiaram do ambiente externo de maior liquidez e menores custos de financiamento, e levantaram USD12 bi em dívida sustentável.
Empresas são os principais emissores. Desde 2015 foram emitidos USD 31,1 bilhões de dólares em títulos sustentáveis no mercado externo, por empresas, bancos e o Tesouro Nacional.
No Brasil, predominam emissões de empresas, com os bancos em segundo lugar, e terceiro o Tesouro Nacional.
Tesouro Nacional – as emissões soberanas são 13% do volume financeiro dos títulos sustentáveis emitidos no mercado externo.
Empresas – correspondem a 71% do volume financeiro emitido. São USD 21,7 bilhões distribuídos entre 21 emissores de 13 setores econômicos. As emissões sustentáveis de empresas são 14% do total das emissões externas de empresas.
Os títulos do tipo propósitos gerais – sustainability-linked bonds - foram predominantes. 36% das emissões foram classificadas com grau de investimento na data da emissão, ante 27% das emissões convencionais.
Bancos - Os bancos representam 16% das emissões brasileiras de títulos sustentáveis no mercado externo. São 9 os bancos emissores. Desde 2015 são 13 emissões no valor total de USD5,1 bilhões.
Para os bancos, predominaram os títulos do tipo uso dos recursos: sustainability bonds (50% do volume financeiro emitido), green bonds (35%) e social bonds (15%).
Títulos sustentáveis podem ser mais atrativos para emissores com grau de investimento
Empresas emissoras com melhor nota de crédito podem beneficiar-se de melhores condições na emissão de títulos sustentáveis em relação aos convencionais do que emissores sem grau de investimento.
Podemos citar algumas tendências trazidas pela Morningstar, empresa de pesquisa independente de investimentos:
"Á medida que investidores preocupados com a sustentabilidade olham para 2025, seis temas provavelmente dominarão suas listas. Eles incluem regulamentações ambientais, sociais e de governança, investimentos na transição de carbono, títulos sustentáveis, a reformulação do cenário global de fundos ESG, financiamento da biodiversidade e a ética da inteligência artificial”.
A Moody´s, agência de classificação de risco de crédito, traz a projeção sobre emissão de títulos sustentáveis deve ficar estável, segundo a previsão dos analistas para 2025 seria mantida, pelo quinto ano consecutivo cerca de US$ 1 trilhão em emissão de títulos sustentáveis.
A agência espera que projetos de mitigação e adaptação climática, como a oferta de energia renovável e desenvolvimento de edifícios verdes, siga no foco dos emissores, destacando o crescente interesse em soluções baseadas na natureza (TNFD - Taskforce on Nature-related Financial Disclosures).
Estudos recentes revelam que as classificações ESG (ratings) variam drasticamente dependendo do provedor, como MSCI, Sustainalytics ou Refinitiv, entre outros, usados para avaliar o desempenho da mesma empresa.
Essa inconsistência pode afetar fundamentalmente as decisões tomadas por investidores, empresas e até mesmo formuladores de políticas.
Se as classificações diferem tão significativamente, a confiabilidade do investimento ESG tende a ser questionada. Podemos realmente confiar nas classificações para orientar investimentos sustentáveis, se não houver acordo sobre o que torna uma empresa sustentável?
De forma mais ampla, essas discrepâncias não afetam apenas os portfólios de investimento, mas também moldam as estratégias globais de sustentabilidade. Padronizar as classificações ESG é crucial para alcançar o nível de transparência e confiança esperado pelos stakeholders.
Neste ambiente de ratings, algumas tendências englobam: maior escrutínio das agências de classificação por parte dos reguladores; avanços em direção a estruturas padronizadas de relatórios ESG (Normas IFRS S1 e S2); pesquisa qualitativa/quantitativa mais profunda para entender as influências reais e significativas setorialmente e regionalmente nas classificações de sustentabilidade.
Para construir confiança genuína nas métricas de sustentabilidade, precisamos de transparência e consistência.
*Onara Lima é founder e diretora da ESG Advisory