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Humanidade usa recursos 1,8 vezes mais rápido que a capacidade de regeneração da Terra e emissões de carbono representam 61% do problema (Mark Garlick/Science Photo Library/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 24 de julho de 2025 às 14h00.
Última atualização em 24 de julho de 2025 às 16h15.
Em apenas sete meses, a humanidade já entrou em "cheque especial" e consumiu hoje todos os recursos naturais que a Terra consegue regenerar durante o ano inteiro de 2025.
Se continuarmos neste ritmo, precisaríamos de 1,8 planetas para suportar a demanda de consumo. Mas nós só temos um, e garantir um equilíbrio saudável é questão de sobrevivência das espécies que o tem como lar.
O alerta vem da Global Footprint Network, organização internacional que calcula anualmente o chamado Dia da Sobrecarga da Terra (ou Earth Overshoot Day, em inglês).
Seguindo uma tendência dos últimos anos, a data está cada vez mais precoce e caiu mais cedo no calendário global de 2025: 24 de julho marca o momento em que a a demanda de consumo desenfreado supera a capacidade dos ecossistemas terrestres de se recomporem ao longo dos 365 dias.
Em relação a 2024, veio uma semana antes, quando aconteceu em 1º de agosto. Na prática, isso significa que a partir de agora até o final do ano, estamos vivendo "no vermelho" ou em "déficit" ecológico, vivendo e consumindo em um ritmo insustentável.
"Estamos empurrando os limites do dano ecológico que podemos causar. Já se passou um quarto do século XXI e devemos ao planeta pelo menos 22 anos de regeneração ", destacou Lewis Akenji, membro do conselho da Global Footprint Network.
O desequilíbrio planetário se manifesta de várias formas: aumento recorde de emissões, menor capacidade de absorção de CO2 na biosfera e pelos próprios oceanos que funcionam como grandes "sumidouros", uso excessivo de água doce, desmatamento e exploração predatória.
As emissões representam 61% da pegada ecológica total da humanidade e a descarbonização está em jogo na COP30, grande conferência do clima realizada em novembro deste ano no Brasil, em Belém do Pará.
Nesta conta negativa, os culpados são os seres humanos e suas atividades poluentes. Mesmo em meio a alertas alarmantes da ciência e o agravamento da crise climática, o consumo segue desenfreado e cada vez mais se torna necessário repensar modelos e investir em uma economia regenerativa.
Embora a data comum seja 24 de julho, há uma realidade de profunda desigualdade entre os países e a organização também incluiu essa análise. No caso dos mais desenvolvidos e industrializados do Norte global, o esgotamento dos recursos ficaria entre fevereiro e abril.
Se toda a humanidade consumisse no mesmo ritmo que a Suíça, por exemplo, o dia anteciparia para 7 de maio, exigindo quase três Terras para sustentar o padrão de vida atual.
Já Catar, Luxemburgo e Cingapura lideram o ranking de "dias de excesso" mais precoces, já em fevereiro. Entre os maiores emissores do mundo, a China bateria em 23 de maio e os Estados Unidos em 13 de março. Nesta conta, o Brasil ficaria em 1º de agosto.
Segundo a Global Footprint Network, a disparidade revela que a crise ecológica global é impulsionada principalmente pelos padrões de consumo dos mais ricos. Se essas nações conseguissem reduzir significativamente suas pegadas de carbono, o Dia da Sobrecarga da Terra poderia ser adiado, reduzindo consideravelmente a "pressão sobre o planeta".
A "sobrecarga" vai além de questões ambientais. A exploração humana dos recursos naturais contribui diretamente para crises econômicas e sociais: inflação, insegurança alimentar e energética, problemas de saúde pública e até conflitos geopolíticos.
"A data nos lembra que a humanidade está consumindo em excesso, tomando empréstimos do futuro. Se não for controlado, levará à inadimplência, pois o meio ambiente ficará muito esgotado para oferecer tudo o que as pessoas precisam", ressaltou o cientista Paul Shrivastava, da Universidade Estadual da Pensilvânia.
Do ponto de vista econômico, os especialistas classificam a situação como "uma das maiores falhas de mercado da humanidade".
Aquelas regiões e países que não se prepararem para a nova realidade do clima, enfrentam riscos significatimente maiores -- especialmente considerando que os danos são cumulativos. A cada ano de sobrecarga, a "dívida ecológica" se soma as demais e cresce.
Apesar do cenário alarmante, a Global Footprint Network destaca que existem soluções viáveis e escaláveis para reverter os danos e combater a tripla crise planetária: mudança climática, poluição e perda de biodiversidade. Ao investir nisso, o mundo poderia adiar a data e reverter os piores efeitos que colocam em xeque a vida na Terra.
Um exemplo concreto: reduzir as emissões e de combustíveis fósseis em 50% seria suficiente para adiar o Dia de Sobrecarga em três meses.
As soluções são propostas em cinco áreas principais: cidades sustentáveis, transição energética, sistemas alimentares, questões populacionais e proteção do planeta. Segundo a organização, as empresas que já adotam práticas sustentáveis podem estar melhor posicionadas para agregar valor em um futuro de mudanças climáticas e recursos limitados.