ESG

Desinvestir ou engajar? A dúvida existencial dos investidores ESG

Deixar de investir em petróleo é uma saída, mas talvez não resolva o problema. O que fazer? Em livro, Sônia Favaretto, ex-B3 e Itaú, entrega uma resposta

 (jannoon028/Freepik/Divulgação)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 21 de janeiro de 2022 às 13h16.

Última atualização em 21 de janeiro de 2022 às 13h54.

A lógica é simples. Para manter o aumento da temperatura global em 1,5º Celsius até 2050, como determina o Acordo de Paris, será preciso reduzir drasticamente as emissões de carbono. A melhor maneira de fazer isso é desinvestir de setores intensivos em carbono, como petróleo, mineração, cimento, entre outros. Grandes bancos e gestoras, no entanto, são pouco simpáticos à ideia.

Jane Fraser, CEO do Citi, há exatamente 1 ano, em seu primeiro dia no posto, prometeu que o banco mais global do mundo atingirá a neutralidade em carbono em 30 anos. Nesta quinta-feira, 20, Fraser divulgou seus planos para chegar à meta. Os combustíveis fósseis estão contemplados. “Chegar ao net-zero significa que precisamos dar suporte aos nossos clientes em suas próprias transições para a economia de baixo carbono”, afirmou a CEO. “Nossa intenção é trabalhar com todos, inclusive os clientes do setor de petróleo.”

(Arte/Exame)

Mas foi Larry Fink, o CEO da BlackRock, maior gestora do mundo com 9,5 trilhões em ativos, que deu o tom de como será a abordagem do setor financeiro para o problema. “Desinvestimento de setores inteiros – ou simplesmente a passagem de ativos com uso intenso de carbono de mercados públicos para mercados privados – não fará com que o mundo tenha uma emissão zero”, disse Fink, em sua tradicional carta anual aos investidores. O certo a fazer, diz ele, é convencer – o que no caso da BlackRock pode significar pressionar – as empresas a adotarem o capitalismo de stakeholder.

“Fiquei muito feliz que ele disse isso”, afirma Sônia Favaretto, executiva com mais de duas décadas no comando das áreas de sustentabilidade de grandes instituições financeiras, como Itaú, Bank Boston e B3. “E compactuo com ele. A palavra é transição. Desinvestir é jogar o problema para o outro”. Favaretto acaba de lançar o livro “Vivi para Ver”, em que traz histórias de sua carreira e apresenta um histórico da evolução do ESG no mundo. Seu ponto é que a ideia de um novo capitalismo, centrado nos aspectos socioambientais dos negócios, não surgiu recentemente. É resultado de décadas de debates sobre o tema.

Os maiores bancos brasileiros têm uma posição similar. Bradesco e Itaú, que entraram para a Net-Zero Banking Alliance e se comprometeram a descarbonizar suas carteiras, afirmam que a única forma de atingir o objetivo é engajando seus clientes. “Só seremos carbono zero se os nossos clientes também forem”, afirma Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do banco. “Precisamos ser propositivos.” Para o Bradesco, que foi o primeiro a aderir à Net-Zero Banking Alliance, o intuito por trás da iniciativa é auxiliar os clientes a fazer a transição. “Não vamos atingir o objetivo, que é comum a todos, excluindo empresas”, diz Pasquini.

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Favaretto acredita que o futuro do ESG depende de trazer as questões socioambientais para o modelo econômico padrão. “Não vamos nos iludir, as questões de curto prazo ainda são determinantes, como disse o Larry Fink. Agora vamos sair de uma fase em que o pensamento era puramente econômica, para outra em que as questões sociais e ambientais estão inseridas desde o início do processo”, afirma a escritora. Confira a entrevista com Sônia Favaretto no podcast ESG de A a Z.

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