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Um seleto grupo de 6% dos negócios capta um valor médio de US$ 221 milhões (R$ 1,15 bilhões), o equivalente a mais de 10% de sua receita anual (Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 13h31.
Uma ampla maioria das empresas globais (82%) já tem ganhos financeiros significativos com iniciativas de descarbonização, especialmente através do crescimento de receita e redução de custos operacionais a partir de inovações e tecnologias verdes.
Destas, um seleto grupo de 6% capta um valor médio de US$ 221 milhões (R$ 1,15 bilhões), o equivalente a mais de 10% de sua receita anual.
É o que revela a quinta edição da pesquisa Climate Survey da consultoria Boston Consulting Group (BCG) divulgada nesta quinta-feira, 18, após analisar o progresso do setor privado em 26 países na mensuração e redução de emissões carbono.
Ao todo, são contemplados 16 setores que representam aproximadamente 40% dos gases emitidos na atmosfera e atores chave no combate à crise climática.
Os benefícios econômicos vêm principalmente de cinco fontes: aumento de volume de vendas (23%), economia em despesas operacionais como contas de energia (22%), realocação de investimentos em capital (21%), crescimento de receita via aumentos de preços para produtos de baixo carbono (20%) e tributos sobre carbono evitados (14%).
Por outro lado, apenas 7% das grandes companhias conseguem mensurar integralmente seu impacto e somente 13% estabeleceram metas ESG que cobrem todos os escopos (1,2 e 3).
Em entrevista à EXAME, Santino Lacanna, diretor executivo e sócio do BGC, explica que a falta de avanço nestes itens se dá pela complexidade e desafios técnicos -- especialmente no escopo 3, onde se abrange toda a cadeia de valor e fornecedores.
"Mesmo percebendo o valor econômico das ações em curso, muitas ainda estão na fase de aprimoramento de suas capacidades de 'contabilidade climática' e tendem a focar inicialmente no que gera mais retornos diretos e fáceis de mensurar", destacou.
A exemplo, o especialista cita medidas como economia de energia ou a venda de produtos sustentáveis, em vez do investimento em compromissos climáticos mais abrangentes.
Em meio ao agravamento das mudanças climáticas, o estudo também revela que as empresas tem um risco de US$ 790 milhões (R$ 4,11 bilhões) até 2030, divididos entre físicos (US$ 411 milhões) e de transição (US$ 383 milhões).
Essa perspectiva tem motivado investimentos crescentes globalmente, com líderes planejando aumentar aportes em sustentabilidade em 16% nos próximos cinco anos -- uma média de US$ 69 milhões (R$ 358,80 milhões)F por negócio.
Entre as ações, estão aquelas que reduzem a poluição, preparam a infraestrutura e operação para lidar com os efeitos da crise do clima e diminuem o impacto de operações.
"A urgência e a escala do desafio climático são imensas e os aportes sinalizam que elas estão na direção certa, representando um passo fundamental para uma atuação mais sustentável e resiliente", destacou Santino.
O fato de metade delas que investem em adaptação climática frente a eventos extremos terem um retorno sobre o investimento (ROI) superior a 10% mostra que "os recursos estão sendo aplicados de forma eficaz e gerando valor", afirmou Santino.
Para o diretor, a inação climática representa um risco significativo para a competitividade futura dos negócios.
"Não agir agora não é apenas perder oportunidades, mas sim assumir que a falta de estratégia pode comprometer seriamente a posição da empresa no mercado", reforçou.
No Brasil, a projeção de crescimento é mais modesta que a média global: 4% em mitigação e 6% em adaptação e resiliência nos próximos cinco anos.
Entre os países com mais de 80 respondentes na pesquisa, Japão, China e Reino Unido lideram o ranking em relatórios abrangentes, definição de metas e mensuração de riscos climáticos.
Já o Brasil ocupa posição intermediária: as empresas se destacam positivamente na identificação de riscos climáticos (16% versus 12% da média global) e superam ligeiramente a média na mensuração integral de emissões (9% versus 7%). No entanto, ficam atrás no estabelecimento de metas abrangentes de redução para todos os escopos de emissões (9% versus 13% da média mundial).
Apesar de uma desaceleração em alguns indicadores, Santino ressalta que a análise não configura um retrocesso, mas sim uma pausa estratégica e uma reorientação nas ações climáticas corporativas.
"Percebemos um amadurecimento em suas abordagens, buscando maior eficácia e
alinhamento com os resultados financeiros. Em vez de aspirações amplas, há um foco crescente em como operacionalizar a ação climática de forma mais inteligente e lucrativa", disse.
Os investimentos também continuam em alta, com 70% das empresas planejando manter ou aumentar seus aportes na agenda.
"O momento é marcado pela intensificação do uso de ferramentas digitais avançadas, como a inteligência artificial e pela implementação de mecanismos de governança mais robustos, como os preços internos de carbono e os planos de transição climática", complementou o executivo.
Entre as empresas brasileiras, 11% obtiveram benefícios financeiros significativos com a descarbonização, enquanto 9% capturaram valor dos esforços de adaptação.
A pesquisa também recomenda quatro fatores-chave para maximizar benefícios: uso de soluções digitais (2,3 vezes mais chance de obter valor significativo), adoção de planos de transição climática (2,2 vezes), quantificação de impacto via precificação de carbono (1,6 vezes) e medição abrangente de emissões e riscos (1,4 vezes).