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Cúpula do Príncipe William no Rio firma US$ 150 milhões contra crime ambiental

Evento realizado às vésperas da COP30 reuniu governos, setor privado e filantropia e destacou uma parceria inédita que vai proteger defensores indígenas na Amazônia

Príncipe William de Gales: "Não podemos cuidar de nossas florestas enquanto seus protetores vivem com medo" (Daniel Ramalho/POOL/AFP)

Príncipe William de Gales: "Não podemos cuidar de nossas florestas enquanto seus protetores vivem com medo" (Daniel Ramalho/POOL/AFP)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2025 às 06h16.

"A América Latina se destaca como líder global em biodiversidade e conservação ambiental. Como anfitrião da COP30, o Brasil desempenhará papel essencial na formulação da resposta mundial à perda da natureza", declarou o Príncipe William em discurso na quarta Cúpula Global do United for Wildlife, realizada nesta terça-feira, 5, no Rio de Janeiro.

O evento, que reuniu mais de 300 líderes de governos, setor privado e organizações internacionais, marcou um momento decisivo na luta contra o crime ambiental, com anúncios que somam mais de US$ 150 milhões em compromissos e a articulação de uma coalizão governamental liderada pelo Brasil.

Às vésperas da grande conferência do clima em Belém, no coração do bioma amazônico, a mensagem foi clara: vozes indígenas e locais devem ser centrais na conservação das florestas e equilíbrio do clima.

Um dos principais destaques foi o anúncio de uma parceria inédita entre a Royal Foundation, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e o Fundo Podáali – o primeiro fundo liderado por indígenas da Amazônia brasileira.

A iniciativa, que conta com apoio estratégico da Rainforest Foundation Norway e da Re:wild, nasce em resposta a uma realidade alarmante: em 2024, a América Latina registrou 120 protetores ambientais mortos ou desaparecidos, representando mais de 80% de todos os casos no mundo.

Em 2024, o príncipe já havia firmado um compromisso com guardiões florestais junto a Game Rangers Association of Africa e a Tusk Trust. Com a meta de garantir a segurança de 10 mil vidas em cinco anos, ultrapassou os 6 mil apenas no primeiro ano – e agora a ideia é replicar globalmente.

"Não podemos cuidar de nossas florestas enquanto seus protetores vivem com medo", destacou William diante de 400 parceiros.

"Para as comunidades indígenas, essas perdas não são apenas ambientais, mas existenciais. À medida que as florestas são destruídas, também são destruídas suas terras ancestrais, locais sagrados e até vidas", acrescentou.

O príncipe também foi enfático ao destacar o papel de protagonismo dos guardiões no combate à crise climática: em terras indígenas da Amazônia, as taxas de desmatamento são até 83% mais baixas do que em áreas desprotegidas.

"Devemos acabar com as redes criminosas que impulsionam a destruição, apoiar aqueles que todos os dias estão defendendo a natureza e reconhecer e celebrar esses protetores, não apenas com palavras, mas através de nossas ações", frisou William.

Crime ambiental alimenta violência

Os números revelam a dimensão da crise. No último ano, mais de 1,7 milhão de hectares da Amazônia foram desmatados na região, grande parte impulsionada por atividades ilícitas como extração ilegal de madeira, garimpo e grilagem de terras.

++ Leia mais: Desmatamento amazônico cai 11% e consolida quatro anos de queda

Entre 2023 e 2024, foram registrados 393 casos de violência contra defensores ambientais no Brasil, com comunidades indígenas e afrodescendentes sendo desproporcionalmente afetadas.

A nova parceria mira eliminar barreiras à segurança de líderes indígenas em nove estados da Amazônia brasileira e impactar 750 mil pessoas em situação de maior vulnerabilidade em uma área de aproximadamente 110 milhões de hectares.

O foco será em três pilares principais: expandir o acesso à assistência jurídica, estabelecer um fundo de resposta a emergências para evacuações, comunicações seguras e casas de abrigo, e aumentar a conscientização global sobre os direitos dos povos originários. 

"Para nós, o território é sagrado: é onde o espiritual e o material se unem, sustentando o nosso bem-estar e a preservação do nosso planeta", afirmou a indígena Toya Manchineri, coordenadora executiva da COIAB, também presente na Cúpula.

"Proteger os nossos territórios é uma missão herdada dos nossos ancestrais. Continuamos esta luta com as nossas próprias vidas."

Compromissos globais

Além da parceria para proteção de defensores indígenas, a cúpula firmou compromissos  bilionários.

A Indonésia comprometeu-se a reconhecer 1,4 milhão de hectares de florestas para povos indígenas, enquanto a Noruega anunciou até US$ 23 milhões para expandir o Programa de Assistência à Aplicação da Lei (LEAP), em parceria com a INTERPOL e o UNODC.

A filantropia privada também se mobilizou. A colaboração Florestas, Pessoas, Clima prometeu US$ 135 milhões alinhados ao compromisso de posse de florestas e terras dos povos indígenas e comunidades locais para os próximos cinco anos.

No setor privado, 15 CEOs e líderes empresariais, incluindo Natura, Avianca, Gol Linhas Aéreas e EB Capital, endossaram os princípios contra o crime ambiental na região, reconhecendo sua responsabilidade em tomar medidas concretas e transparentes.

Cooperação internacional é peça-chave

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou a importância da cooperação internacional no combate aos crimes ambientais.

"Toda vez que você tem uma ação integrada de diferentes países atuando juntos, o resultado é maior. Claro que cada país tem sua legislação, mas se você estabelece espaços de cooperação, o crime não tem fronteira e o combate também não deve ter", afirmou a ministra ao comentar a nova coalizão governamental anunciada durante o evento em entrevista a jornalistas.

O Príncipe William também reforçou a visão ao conclamar governos, empresas e sociedade civil em prol da agenda comum: "Cada um deve agora dar um passo à frente e desempenhar seu papel no desenvolvimento de soluções, ampliação de apoio e mudança de recursos para onde eles são mais necessários."

A África do Sul, por sua vez, mobilizou países para a primeira Declaração Ministerial do G20 sobre Crimes que Afetam o Meio Ambiente, demonstrando que nações que representam mais de 85% da economia global estão unidas nesta causa.

Até então, mais de 40 países já aderiram à Declaração de Princípios da United for Wildlife, estabelecendo uma estrutura para colaboração contra fluxos financeiros ilícitos ligados ao crime ambiental.

Rio é palco de série de eventos pré-cop

A capital carioca está com um agenda intensa nesta semana e é palco de uma série de eventos pré-cop. A programação inclui o Fórum de Líderes Locais da COP30, promovido pela Bloomberg Philantropies, junto a Cúpula de Prefeitos do C40 Cities.

Durante sua missão climática no Rio, o Príncipe William também conheceu projetos voltados à preservação dos manguezais e se reuniu com representantes do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Nesta quinta-feira, 5, o Museu do Amanhã será berço do icônico Earthshot Prize, premiação global criada pela alteza real que destina £5 milhões (cerca de R$ 36,5 milhões) para escalar cinco iniciativas ambientais anualmente.

Entre os finalistas brasileiros, estão a empresa Reegren e o Fundo de Florestas Tropicais (TFF), com grande aposta de arrecadar recursos na COP30.

Em relação ao futuro, o príncipe disse estar otimista e refletiu um tom de esperança.

"Nossa tarefa aqui hoje é clara. Devemos agir juntos. À medida que olhamos para a COP30 na Amazônia, levemos nossa determinação adiante, unidos em propósito, ousados em ambição e inabaláveis em nosso compromisso com um mundo mais seguro e saudável", concluiu.

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