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Lula (Arthur Menescal/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 8 de agosto de 2023 às 11h24.
Última atualização em 8 de agosto de 2023 às 16h25.
A Cupúla da Amazônia, em Belém, começou oficialmente na manhã desta terça-feira, 8, com um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, Lula reforçou a importância do evento que não acontecia desde 1978. "Desde que o Tratado de Cooperação da Amazônia foi assinado, em 1978, os chefes de Estado só se encontraram três vezes: em 1989, 1992 e 2009. Todas elas em Manaus. Há quatorze anos que não nos reuníamos. É a primeira vez que o fazemos aqui no Pará e a primeira vez num contexto de severo agravamento da crise climática. Nunca foi tão urgente retomar e ampliar essa cooperação. Os desafios da nossa era e as oportunidades que surgem demandam ação conjunta", afirmou.
A Cupúla deve abordar, ao longo de dois dias, as políticas públicas da região amazônica e o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia (OTCA). Participam os oito países que possuem a floresta no seu território, além da sociedade civil. O objetivo é definir políticas e estratégias para o desenvolvimento sustentável da região.
"São muitas as Amazônias. Estão representadas aqui, nesta sessão, as Amazônias da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do Suriname e da Venezuela. Em seu conjunto, essas Amazônias abrigam muitas outras: a Amazônia da floresta e das cidades; a Amazônia dos trabalhadores, das mulheres e jovens; a Amazônia dos povos indígenas e das comunidades tradicionais; a Amazônia da cultura, da ciência e dos saberes ancestrais", disse Lula.
Em seguida, Helder Barbalho, governador do Pará, afirmou que a Cupúla é o coramento do empenho de todos aqueles que dedicam suas vidas à região, e adimite os problemas. "Após tantas tragédias e devastações, chegou o momento de olharmos para esse patrimônio. A resiliência da natureza já mostra limites cuja a transposição terá consequências nefastas que extrapolam a Amazônia. Estamos diante de um desafio social e climático. É preciso mitigar a pobreza e os gases causadores de efeito estufa ao promover uma nova economia baseada na floresta viva".
Alexandra Moreira, secretária-geral Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, lembra da urgência para o fim das práticas nocivas na região."A região possuí uma lacuna socioeconomica. As políticas precisam levar em consideração a bioeconomia e a diversidade amazônia. Para isto, necessitamos novas ferramentas e uma gestão que trabalhe com a realidade a partir de investimentos para mitigar a vulnerabilidade climática", diz. Na última segunda-feira, 7, dezenove bancos públicos de desenvolvimento de países amazônicos firmaram um acordo para oferecer R$ 4,5 bilhões em financiamento para negócios considerados sustentáveis ambientalmente na região amazônica.
A abertura da Cúpula da Amazônia contou também com a fala de representantes de diferentes países. Para Pablo Solon, da Bolívia, a meta de acabar com o desmatamento em 2030 é insuficiente. "É preciso proteger pelo menos 80% da amazonia até 2025. Precisamos reabilitar as terras arrasadas pelo fogo e monocultura. Os rios, peixes e povos indígenas estão sendo afetados pela mineração, petróleo e o mercúrio". O porta-voz reforçou a necessidade de que os 100 milhões de dólares dos países ricos destinados aos países em desenvolvimento, de acordo com as discussões das últimas Conferências das Partes (COP), sejam de fato redirecionados para a mitigação das mudanças climáticas.
A importância da inclusão da diversidade foi reforçada por Manuela Salomé Villafuente, liderança da sociedade civil do Equador, que abordou como as mulheres estão entre as pessoas que mais sofrem com os problemas da região. "Reivindico que reconheçam a vulnerabilidade das populaões andinas amazônicas para haja espaço definido de escuta das mulheres e povos indígenas e povos negros. Pois são esses que estão na linha de frente dos conflitos e desafios".
Eslin Enrique Landaeta, venezuelano do Amazônias Negras, pede o reconhecimento do racismo ambiental pelos países que integram a OTCA. "É fundamental construir uma agenda para enfrentar a crise ambiental a partir do monitoramento das condições de vida das populações negras, a regularização de territórios quilombolas e planos dedicados à sociobioverisdade e contribuição das populações negras".
Já Pablo Neri, dirigente do MST, afirmou ser necessário combater a monocultura e o uso de agrotóxicos que estão ligados aos câmbios climáticos. "Nosso países devem fazer um controle dos processos de exploração dos bens da natureza. Avançar na demarcação das terra indígenas e regularação dos territórios quilombolas é essencial para que os direitos sejam preservados".
Além de Lula, devem comparecer os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro; da Venezuela, Luis Arce; a presidente do Peru, Dina Boluarte e o primeiro-ministro da Guiana, Mark Phillips. Equador e o Suriname devem enviar ministros. A sociedade civil também tem participação, e segue com demandas após o evento dos últimos dias, chamado Diálogos Amazônicos.
De acordo com o documento do Observatório do Clima, estudos recentes têm levantado a hipótese de bioma amazônico entrar em colapso por conta do efeito combinado de desmatamento e mudança do clima. Isso poderia ocasionar em um desmatamento em cerca de 25% da área da floresta. “A Amazônia tem mudado muito. Na região nordeste da floresta, por exemplo, o desmatamento chega a 40%. Isto significa um colapso climático que já chegou e pode piorar”, diz Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Em 2021, um grupo do Inpe mostrou, após coletar nove anos de dados, que algumas regiões da Amazônia brasileira já emitem mais gás carbônico para a atmosfera do que capturam, revertendo o papel do ecossistema de sorvedouro para ao menos uma parte do carbono extra lançado pelos seres humanos no ar.
Apesar dos dados alarmantes, o presidente Lula aborda a Cúpula como momento para a organização das políticas e fim do desmatamento. “O Brasil vai cumprir com aquilo que foi prometido, nós vamos chegar ao desmatamento zero em 2030, escrevam e guardem para me cobrar", disse em café da manhã com correspondentes da imprensa internacional. Além disto, um documento elaborado no evento deve ser apresentado na COP28, em dezembro, em Dubai.