ESG

Patrocínio:

espro_fa64bd
Afya Cinza
Copasa Cinza
Danone Cinza
Ypê cinza

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Crise hídrica na Austrália: os efeitos da comercialização da água na bacia Murray-Darling

A experiência australiana escancara desafios ambientais, sociais e políticos da gestão de recursos hídricos

Rio Murray, na Austrália: modelo de mercado de água causa impactos socioambientais no pais (Ignacio Palacios/Getty Images)

Rio Murray, na Austrália: modelo de mercado de água causa impactos socioambientais no pais (Ignacio Palacios/Getty Images)

Com sua dimensão continental, a Austrália convive com padrões de chuva irregulares, uma aridez implacável e solos pobres em nutrientes. Diante desse cenário, grande parte da população vive na bacia Murray-Darling, que concentra 85% da área irrigada do país e dois quintos da produção nacional de alimentos.
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, o país formalizou o comércio de água por meio da separação entre os direitos de uso da água e os títulos de propriedade. Essa estrutura permitiu que agricultores vendessem seus direitos de uso para quem pudesse pagar mais.

Por um lado, o mercado da água impulsionou as exportações agrícolas e criou uma indústria de corretores e fundos de irrigação. Por outro, gerou desequilíbrios socioeconômicos ao favorecer os grandes produtores em detrimento dos pequenos.

Crise hídrica levou à criação de agência reguladora

A chamada “Seca do Milênio”, que durou de 2001 a 2009, forçou o governo a intervir. Foi necessário comprar direitos de uso a preços acima do mercado para evitar o colapso do rio Murray. Nesse contexto, em 2008, foi criada a Murray-Darling Basin Authority, agência independente responsável pela gestão das águas e da infraestrutura hídrica da região.
Em 2012, surgiu o Plano da Bacia Murray-Darling, um acordo histórico voltado à sustentabilidade do uso da água para o meio ambiente, a agricultura e as comunidades. O plano estabeleceu limites para a retirada de água do sistema fluvial. Ainda assim, segundo estudo de 2024, os investimentos e reformas promovidos ao longo de 30 anos não resultaram em benefícios socioambientais efetivos.

Impactos ambientais e novos rumos para a bacia

A retirada excessiva de água para irrigação causou problemas graves, como a proliferação de algas tóxicas, o colapso das populações de peixes e a salinização da água e dos solos, comprometendo a potabilidade. Programas que deveriam incluir os povos indígenas no sistema comercial de água não foram implementados. A exclusão de comunidades tradicionais é uma das maiores falhas da atual política hídrica australiana.
Apesar disso, há sinais de mudança. Em 2023, foi aprovada a emenda legislativa “Restoring Our Rivers”, cujo objetivo é devolver mais água ao meio ambiente. Além disso, o plano da bacia passará por revisão em 2026, abrindo caminho para possíveis correções de rota.
Ainda há muito a ser debatido sobre o acesso equitativo à água, sobretudo diante das mudanças climáticas. A experiência da bacia Murray-Darling revela os desafios de equilibrar produção e preservação ambiental em um contexto de escassez hídrica. A lição australiana pode inspirar políticas mais justas e sustentáveis em outras partes do mundo.

Acompanhe tudo sobre:branded-contentPSR Energia em foco

Mais de ESG

Organizações ambientais sobem o tom por veto integral ao PL do licenciamento

Risco como oportunidade: o papel das garantias no financiamento climático

Governo quer plantar 300 mil hectares nas cidades até 2050 para enfrentar desigualdades climáticas

Tubarões meteorologistas? Como animais se tornaram caçadores de furacões no Atlântico