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Crédito de carbono: empresas multadas pelo IBAMA faturam US$ 15 Mi na Amazônia

Investigação expõe como violadores de legislação florestal acessaram mercado que atende Boeing, Telefónica e outras multinacionais

Projetos de carbono na Amazônia: 67% envolvem infratores ambientais multados. (Alex Ribeiro/Ag.Pará/Divulgação)

Projetos de carbono na Amazônia: 67% envolvem infratores ambientais multados. (Alex Ribeiro/Ag.Pará/Divulgação)

Publicado em 11 de julho de 2025 às 09h46.

Última atualização em 11 de julho de 2025 às 09h49.

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Uma investigação conduzida pela Reuters identificou falhas graves no controle de beneficiários do mercado voluntário de carbono na Amazônia.

Das 36 iniciativas de conservação florestal analisadas, 24 envolvem pessoas físicas ou jurídicas penalizadas pelo IBAMA por infrações ambientais.

Os projetos foram aprovados pela Verra e Cercarbono, organizações responsáveis por validar e registrar iniciativas no mercado voluntário global de carbono, conferindo-lhes credibilidade para comercialização internacional.

A Verra opera o VCS (Verified Carbon Standard), plataforma que concentra o maior volume de créditos de carbono certificados mundialmente.

Já a Cercarbono é uma entidade colombiana especializada no mercado latino-americano, que opera sob metodologias próprias adaptadas às características regionais.

O resultado expõe falhas importantes no processo de due diligence aplicado por companhias que movimentam bilhões de dólares no setor e servem como referência de qualidade para compradores corporativos globais.

O levantamento mostrou, entre outras coisas, que em ao menos 20 casos os responsáveis acumulavam histórico de multas antes da certificação dos projetos, enquanto em outras sete situações as infrações continuaram após o registro.

Particularmente grave, cinco projetos apresentaram violações dentro dos próprios limites das áreas protegidas.

Padrão de infrações

As violações documentadas incluem derrubada de vegetação nativa sem autorização, transporte de madeira sem documentação válida, falsificação de informações em sistemas de rastreamento governamental e exploração irregular em terras públicas.

O valor total das penalidades aplicadas pelo IBAMA aos envolvidos supera R$ 125 milhões, considerando infrações registradas desde 2008.

A análise temporal revelou que muitas dessas empresas e indivíduos conseguiram não apenas acessar o mercado de carbono, mas manter atividades irregulares durante a comercialização dos créditos.

O caso mais emblemático identificado pela Reuters envolve Ricardo Stoppe Junior, médico e empresário de carbono que comercializou aproximadamente US$ 15 milhões em créditos entre 2020 e 2024.

Preso em junho de 2024 durante a "Operação Greenwashing" da Polícia Federal, Stoppe é acusado de liderar esquema de legalização de madeira extraída ilegalmente através de projetos de carbono.

O empresário acumula multas do IBAMA desde 2014, totalizando R$ 8,6 milhões por diversas infrações ambientais.

O relatório policial de 302 páginas, acessado pela Reuters, detalha como o grupo supostamente utilizava as iniciativas de conservação para lavar aproximadamente 1,1 milhão de metros cúbicos de madeira irregular.

O método alegadamente empregado envolvia a falsificação de títulos de terra em unidades de conservação, posteriormente agrupadas em projetos de carbono.

Estas iniciativas serviam como cobertura para emissão de licenças de manejo florestal que, segundo a investigação, eram utilizadas para legalizar madeira extraída de outras áreas públicas, incluindo a reserva indígena Kaxarari.

Reações do mercado e reguladores

Após os resultados da investigação tornarem-se públicos, a Verra anunciou uma revisão formal de todos os projetos identificados na investigação e suspendeu preventivamente as iniciativas de Stoppe.

A organização afirmou tratar "seriamente quaisquer alegações de atividades ilegais relacionadas a projetos registrados".

A Cercarbono também disse ter aberto investigação formal mas negou comprometimento da integridade das iniciativas.

A empresa destacou não haver "indicação de que a integridade dos projetos referenciados tenha sido comprometida".

As descobertas surgem em um momento especialmente relevante para o Brasil, que aprovou em 2024 legislação criando mercado regulado nacional de carbono, similar aos sistemas europeu, chinês e californiano.

A nova lei estabeleceu controles mais rigorosos para projetos futuros e priorizará iniciativas de restauração ativa sobre conservação passiva.

O mercado voluntário global de carbono movimentou US$ 7,6 bilhões nos últimos cinco anos, com participação significativa de projetos amazônicos devido ao potencial de conservação da região.

Entre os compradores de créditos dos projetos problemáticos identificados estão multinacionais como Boeing, Telefónica e Ecopetrol, que geralmente dependem das certificadoras para controle de qualidade.

O Ministério do Meio Ambiente, responsável pela supervisão do IBAMA, não comentou os casos, mas reforçou a confiabilidade dos dados de fiscalização e recomendou sua utilização para verificação da efetividade de projetos de carbono.

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