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COP30, em Belém: Países seguem divididos sobre fim dos combustíveis fósseis enquanto conferência entra em prorrogação oficial. (Leandro Fonseca /Exame)
Editora ESG
Publicado em 22 de novembro de 2025 às 07h18.
Última atualização em 22 de novembro de 2025 às 07h26.
A COP30 entrará oficialmente em período de prorrogação neste sábado, 22. O evento, que originalmente estava previsto para terminar na sexta-feira, 21, segue sem divulgação de novas versões dos rascunhos dos textos finais, pelo menos até as 7h da manhã.
Embora adiamentos sejam comuns nas conferências do clima, a situação no Brasil traz contornos particularmente delicados.
A presidência brasileira da COP enfrenta forte pressão para equilibrar interesses divergentes em torno da questão dos combustíveis fósseis, com relatos de que estaria privilegiando posições mais conservadoras, o que gerou desconforto entre delegações que esperavam liderança climática mais assertiva do país-sede.
Segundo um comunicado oficial divulgado à 1h40, as consultas aos países e as negociações estavam programadas para continuar ao longo de toda a madrugada.
A ausência de novos documentos nesta manhã dá pistas das dificuldades enfrentadas pelos negociadores para alcançar o consenso necessário entre os mais de 190 países participantes.
A conferência se dividiu em dois grandes blocos com posições aparentemente opostas. De um lado, mais de 80 países, entre desenvolvidos e em desenvolvimento, defendem que a COP30 inicie um processo para elaborar um roteiro de transição energética.
Essa primeira proposta permitiria que cada governo adotasse suas próprias medidas e definisse seu cronograma para abandonar os combustíveis fósseis. Do outro lado, um grupo igualmente numeroso, liderado por Arábia Saudita e Rússia, rejeita até mesmo essa abordagem flexível.
O bloco inclui outros grandes produtores de petróleo e países dependentes do consumo de combustíveis fósseis. E foi a pedido desse grupo que as referências ao roteiro foram removidas da versão preliminar divulgada na manhã de sexta-feira.
A versão preliminar dos acordos divulgada na sexta-feira foi duramente criticada pelas delegações e também por observadores.
O texto foi classificado como "fraco", com "furos inaceitáveis" e caracterizado como uma "traição à ciência" por não mencionar os combustíveis fósseis nem especificar a origem do financiamento para países pobres.
E até a noite de ontem, pessoas envolvidas nas negociações traziam uma perspectiva pouco otimista, alertando que o novo rascunho - esperado até então para o final da noite ou início da manhã deste sábado - poderia trazer apenas pequenos "ajustes".
A União Europeia sinalizou que pode vetar o acordo caso não haja mudanças substanciais. O comissário europeu de Clima, Wopke Hoekstra, foi categórico em declarações na sexta pela manhã: o texto "não tem ciência, não tem transição e mostra fraqueza".
O bloco europeu, contudo, também enfrenta críticas nos bastidores por supostamente dificultar as negociações ao resistir em ampliar os recursos destinados ao combate à crise climática.
Isto porque o principal gargalo envolve também o financiamento climático: os países ainda não chegaram a um acordo sobre valores, fontes de recursos e regras de distribuição para apoiar as nações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Após a repercussão, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, fez um pronunciamento pedindo que ministros e altos funcionários presentes em Belém tentassem buscar consensos.
Corrêa do Lago alertou que a conferência precisa preservar o regime estabelecido pelo Acordo de Paris "com espírito de cooperação, não com espírito de quem vai ganhar ou está disposto a perder", advertindo que "se não o fortalecermos, todos perderão".
As negociações continuam a portas fechadas, com a presidência brasileira organizando grupos menores de nações para debater questões específicas e tentar destravar os impasses. Um novo texto oficial é aguardado ainda para hoje, mas sem previsão de horário definida.