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"COP30 será vitrine para negócios de bioeconomia na Amazônia", diz fundador da Manioca

Natural de Belém, o empreendedor Paulo Reis está à frente de pequenas empresas locais que utilizam ingredientes amazônicos, visando gerar renda e impacto positivo para comunidades tradicionais

Paulo Reis, fundador da Manioca e Amazonique: "Não acho que o caminho seja buscarmos unicórnios de tecnologia no Brasil, e sim encontrarmos um modelo que valorize nossos potenciais como país e Amazônia" (Divulgação)

Paulo Reis, fundador da Manioca e Amazonique: "Não acho que o caminho seja buscarmos unicórnios de tecnologia no Brasil, e sim encontrarmos um modelo que valorize nossos potenciais como país e Amazônia" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 12h49.

Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 12h51.

Pensar em uma economia do bioma, que não agrida o ambiente e reproduza aquilo que a Amazônia tem de mais valioso: sua enorme biodiversidade. É assim que Paulo Reis, co-fundador da Manioca e Amazonique, entende o conceito de bioeconomia e o aplica em seus pequenos negócios de impacto socioambiental.

Natural de Belém do Pará, o empreendedor chegou a se formar na faculdade de Direito, mas sentiu que este não era seu propósito. Após realizar uma consultoria com Joanna Martins, filha de chefs do restaurante referência na região conhecido como "Lá em Casa", Paulo decidiu seguir carreira no empreendedorismo e em 2014, fundou ao lado dela, a Manioca.

Completand0 dez anos em 2024, a empresa de alimentos utiliza ingredientes amazônicos em seus produtos, buscando gerar renda e impacto positivo para comunidades tradicionais a partir da cultura e sociobiodiversidade da região. E nome não é à toa: Manioca se refere à mandioca, que origina a maior parte dos produtos e base alimentar amazônica. 

São pelo menos 21 itens diferentes, entre temperos, molhos, geleias, granolas, farinhas, farofas e até "churrasco", tudo produzido a partir de matérias-primas naturais como Tucupi, Cupuaçu e Cumaru. Já a Amazonique, é o projeto mais recente de Paulo: nasceu há dois anos atrás e tem como foco a produção de sucos com frutas típicas. Ambos os negócios vendem no varejo e também no e-commerce, com os maiores clientes nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Pará. 

Em entrevista à EXAME, Paulo conta que não há nenhuma possibilidade de saírem de Belém, mas a ideia é comercializar para todo Brasil nos próximos anos. A prioridade será em alguns estados com poder aquisitivo mais alto e em locais onde se tenha mais clareza da importância da Amazônia e interesse em conhecer sua biodiversidade.

"Estar aqui é um propósito nosso. Nós teríamos todos os motivos para se mudar para São Paulo, seria muito mais conveniente. Afinal, os nossos clientes estão lá. Mas não queremos virar mais um caso de exportação de matéria-prima da região", destacou. 

Embora seja muito mais fácil agregar valor e ter um produto inovador nas regiões que têm mais acesso ao capital humano e tecnológico como o Sudeste, Paulo acredita em um modelo de desenvolvimento que aproveita o conhecimento tradicional de povos ancestrais.

"Há técnicas muito importantes, como por exemplo, usar a biotecnologia da fermentação para fazer tucupi não é uma coisa trivial, e não é simples", disse. Em Belém, a Manioca e a Amazonique só contratam mão de obra local, remuneram as comunidades de forma justa por meio de um programa chamado "Raízes" e ajudam a girar a economia. 

De olho na Conferência do Clima da ONU (COP30) do ano que vem no Brasil, o empreendedor também enxerga uma grande oportunidade de 'vitrine' para negócios de bioeconomia da Amazônia.

Neste sentido, ele também é presidente da Associação ASSOBIO, que reúne cerca de 25 pequenas empresas de diferentes setores -- como alimentos e bebidas, cosméticos, moda e acessórios -- visando impulsionar o desenvolvimento sustentável da região. 

"A COP também será um momento de aumento do turismo, tanto internacional como de brasileiros que não conhecem o Pará e todas as riquezas do bioma. É uma oportunidade de provarem o nosso açaí, experimentarem nossos sucos e outros alimentos. E isso envolve a visibilidade das nossas iniciativas e negócios. Tudo isto gira a economia da floresta", destacou. 

Além disto, é uma forma de nos posicionarmos como um país de soluções verdes, acrescentou Paulo. "A Amazônia terá um papel central e nos dá a possibilidade de sentar à mesa, discutir alternativas e tomar decisões. Precisamos estabelecer um modelo de desenvolvimento regional que se conecte com aquilo que já temos em potencial: medicamentos, ativos naturais e vegetais", frisou. 

Economia da floresta

Para Paulo, apenas zerar o desmatamento amanhã não acaba com os problemas estruturais da Amazônia. Com cerca de 80% da população vivendo em centros urbanos, a pobreza é um desafio estrutural que persiste e leva a piores indicadores de desenvolvimento humano (IDH) na região Norte.

Em Belém do Pará, cidade com 1,7 milhões de habitantes, o acesso ao esgoto e água é um desafio. E o empreendedor acredita que a solução pode estar nos pequenos negócios e no desenvolvimento de uma economia baseada na floresta.

"Nossos centros urbanos podem ser lugares de criar inovações, agregar valores, de fazer essa economia ganhar um pouco mais de qualificação dentro da região. É preciso reduzir as desigualdades", ressaltou. 

Não é sobre 'buscar unicórnios'

O empreendedor também refuta o modelo de desenvolvimento que se repete no mundo, baseado em referências de empreendedorismo como Mark Zuckerberg, Steve Jobs ou Jeff Bezos -- concentradas principalmente nos Estados Unidos.

Segundo ele, o Brasil deveria estar procurando um modelo próprio, de olho nos seus potenciais. "Repetir condições que existem em outros países e que não necessariamente estão aqui, é uma armadilha muito perigosa. Não acredito que deveríamos ficar buscando unicórnios, que valem R$ 1 bilhão -- e muitos nunca se pagam. Nós não somos avançados em tecnologia". 

Por outro lado, somos um país com potenciais em medicamentos, em clima, estoque de carbono e outras soluções verdes, relembrou Paulo. E talvez, mesmo com todos os desafios estruturais da Amazônia, seja este o caminho para que surjam mais "unicórnios" no futuro -- ou se avance mais rapidamente na descabonização global. 

Atualmente, as emissões brasileiras são principalmente ligadas ao setor de uso da terra e desmatamento (44%). "É muito mais fácil mudar isto do que a matriz energética, que é a necessidade do Norte global. Os EUA teria que substituir algo muito mais complexo, que é toda cadeia de produção de energia. Já nós, temos solução  para renovar e recurso natural em abundância", complementou. 

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