Patrocínio:
Parceiro institucional:
Com atuais 36 mil leitos, iniciativa soma mais 6 mil rumo à meta de 50 mil participantes estimados no evento (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 16 de julho de 2025 às 17h18.
Última atualização em 16 de julho de 2025 às 19h07.
Preços exorbitantes, escassez de leitos e especulação imobiliária refletem alguns dos gargalos logísticos e de infraestrutura que Belém do Pará enfrenta para a realização efetiva da COP30, conferência do clima mundial que acontece pela primeira vez no Brasil e a maior de todas as edições já realizadas em um país do Sul global.
A menos de três meses do grande evento no coração da Amazônia, a hospedagem segue nos holofotes e também foi pauta nas negociações de Bonn, levando líderes a questionarem a escolha da cidade sede com um certo ceticismo.
Com a expectativa de receber pelo menos 50 mil participantes entre 10 e 21 de novembro, a realidade atual na capital paraense é de aproximadamente 36 mil leitos disponíveis e o governo brasileiro faz 'malabarismo' para garantir a acomodação de todos. A meta é chegar a 50 mil até novembro.
Entre as soluções encontradas, estão a construção de novos hotéis, adaptação de escolas públicas e outros estabelecimentos para funcionarem como 'hostels', navios e até parcerias com o Airbnb.
Nesta quarta-feira, 16, o governo anunciou a contratação de dois cruzeiros que funcionarão como hotéis flutuantes, oferecendo cerca de 6 mil leitos para as delegações internacionais.Os navios MSC Seaview e Costa Diadema, contratados pela Embratur através da operadora Qualitours, oferecem 3.900 cabines e ficarão permanentemente atracadas no Terminal Portuário de Outeiro, que está sendo revitalizado especificamente para receber essa operação durante a COP e ficará como legado para a cidade.
Do terminal, uma ponte permitirá o acesso rápido a aproximadamente 30 minutos do Parque da Cidade, no centro de Belém, onde será realizada a programação da conferência.
A distribuição das acomodações seguirá um modelo coordenado pela própria ONU. Na primeira etapa, as cabines serão oferecidas aos 98 países menores em desenvolvimento e países insulares, com diárias de até US$ 220 (R$ 1.210)
Em seguida, as demais delegações poderão adquirir acomodações por até US$ 600 (R$ 3.300). Nas próximas semanas, a expectativa é abrir para o público em geral.
Um dos pontos positivos da solução é sua menor pegada de carbono, ao evitar a construção de novas estruturas que poderiam ficar ociosas após o evento. Além disso, a energia elétrica utilizada é fornecida pelo porto, reduzindo as emissões durante o período de atracação das embarcações.
O secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, destacou em nota que a iniciativa integra um conjunto mais amplo de soluções que incluem o setor hoteleiro tradicional, aluguel por temporada e outras modalidades.
Segundo o governo, a estratégia representa a preocupação de incluir nações com menos recursos financeiros, garantindo que todos os 198 países-membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima possam participar efetivamente das negociações.
No entanto, desafios persistem. O aeroporto de Belém, por exemplo, pode ter dificuldades para processar o volume de voos internacionais mesmo após passar por ampliações. Outros pontos de preocupação são o trânsito urbano e o sistema de transporte público.
Neste sentido, a prefeitura de Belém tem trabalhado em parceria com o governo federal para ampliar a capacidade e melhorar a infraestrutura viária, mas o cronograma apertado mantém a pressão nesta reta final.
A pressão sobre a infraestrutura hoteleira da região metropolitana da capital do Pará se intensificou nos últimos meses, com a ocupação praticamente esgotada e os preços nas alturas.
Alguns relatos nas redes sociais causaram indignação: locais que usualmente custam R$ 200 por diária já anunciaram valores superiores a R$ 1.500 no período e casos exorbitantes chegaram à casa do milhão durante os 10 dias.
Especialistas alertam que a especulação imobiliária desenfreada tem gerado um cenário de 'abusos' e contratos sem transparência, criando uma lógica perversa que exclui os próprios moradores de Belém deste mercado no evento que acontece em sua própria cidade.
Muitos belenenses relatam dificuldades para encontrar acomodações acessíveis, seja para receber familiares na conferência ou mesmo para uso próprio em caso de necessidade.
Nas redes sociais, um usuário faz piada da situação: "troco 15 dias de hospedagem na COP nesta casa charmosa no centro histórico de Belém por 15 dias em outro país", fazendo referência a uma prática conhecida como 'escambo'.
Em maio, o governo anunciou a contratação da empresa Bnetwork para operacionalizar a plataforma oficial de hospedagem da COP30. A promessa era colocar o site no ar até junho, mas houve atrasos no processo e por enquanto o serviço está disponível apenas para delegações de países.
Segundo o governo, a ideia é centralizar centralizar as reservas em um único local para facilitar o acesso dos participantes e garantir preços mais acessíveis em torno de US$ 100 (R$ 550) por diária. Inicialmente, devem ser oferecidos 6 mil leitos e depois o projeto prevê a inclusão de outras opções aos visitantes.
Em meio a atrasos, grupos e organizações civis tem lançado iniciativas próprias para ajudar a driblar o problema. É o caso de uma batizada de "hospedagens com propósito", que traz até 13 opções selecionadas por uma curadoria local.
Um dos aspectos mais controversos da preparação para a COP30 tem sido o impacto social da especulação imobiliária sobre a população local. A explosão nos preços de hospedagem não afeta apenas os participantes que chegam para a COP30, mas fere direitos dos próprios moradores que precisam de acomodações durante o período.
Organizações sociais locais alertam para o risco de "gentrificação temporária", onde eventos de grande porte podem deslocar economicamente pessoas de suas casas e do acesso a serviços básicos.
A situação evidencia um paradoxo: enquanto se discute justiça climática global, há risco de aumentar as desigualdades e caminhar na contramão da inclusão.