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COP30: 80% das soluções para corte de metano são de baixo custo, diz ONU

Na agricultura, investir nas soluções pode gerar benefício financeiro duas vezes maior que o investimento para reduzir as emissões, segundo estudo

Desaceleração nas emissões de metano ocorre a partir do baixo crescimento dos mercados de gás natural entre 2020 e 2024 (AFP/AFP)

Desaceleração nas emissões de metano ocorre a partir do baixo crescimento dos mercados de gás natural entre 2020 e 2024 (AFP/AFP)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 18 de novembro de 2025 às 07h50.

Belém, Pará - Reparo de vazamentos em aterros sanitários, manejo hídrico em plantações de arroz e a separação dos resíduos orgânicos: estas soluções de baixo custo são algumas das recomendadas em um novo estudo do Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente para conter o avanço nas emissões de metano. O diferencial dessas respostas é o preço: a pesquisa descobriu que 80% das ações de controle dessas emissões é de baixo custo.

A pesquisa, publicada durante a Conferência do Clima da ONU, aponta que as emissões de metano ainda estão em crescimento, mas abaixo do projetado por cientistas para esta década. O metano representa hoje quase um terço das emissões de gases de efeito estufa.

O “Relatório Global sobre o status do Metano”, divulgado em parceria com a Coalizão Clima e Ar Limpos, indica que a desaceleração nas emissões de metano ocorre a partir do baixo crescimento dos mercados de gás natural entre 2020 e 2024 — especialmente por conta do aumento dos preços gerado pela guerra da Ucrânia, uma vez que a Rússia é a principal fornecedora dos combustíveis.

Outro motivo são as novas regulações para resíduos na Europa e América do Norte, com foco em capturar o metano antes da sua liberação na atmosfera. Isso inclui a reciclagem de materiais orgânicos, evitando que essas fontes parem em aterros sanitários, utilizando tecnologias como biodigestores ou sistemas de reaproveitamento do gás gerado no processo.

Urgência de soluções para o metano

Entre as soluções para reduzir a produção de metano está a combinação de políticas nacionais, regulamentações setoriais e mudanças de mercado. Os fatores podem levar ao atingimento da meta do Compromisso Global com o Metano, acordo feito durante a COP26, que busca reduzir as emissões em 30% até 2030, na comparação com os níveis de 2020.

A maior urgência, de acordo com o estudo da ONU, está nos setores de energia, agricultura e resíduos. O setor de energia conta com 72% do potencial total de mitigação, seguido por resíduos (18%) e agricultura (10%).

Para a energia, a mudança de infraestrutura necessária custaria apenas 2% de toda a receita do setor em 2023, um gasto pequeno perto das oportunidades de melhorias ambientais. Na área da saúde, o estudo indica que seriam evitadas 180 mil mortes prematuras a partir da adoção nas medidas. Já na agricultura, 19 milhões de toneladas de safras a cada ano até 2030 seriam salvas.

O material também pede por compromissos mais ousados no combate às emissões de metano: as Contribuições Nacionalmente Determinadas já entregues na COP30 (são, ao todo, 118 planos climáticos até a manhã desta terça-feira) impactariam na redução de apenas 8% das emissões até 2030.

Metano como 'freio de emergência' do clima

Ruth Zugman do Coutto, diretora da divisão de Mudanças Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conta que o trabalho com metano é importante na redução das emissões porque é muito mais barato e fácil de gerenciar do que as emissões de carbono, considerado o principal vilão das mudanças do clima. “Reduzi-lo é uma das maneiras mais rápidas e mais econômicas de desacelerar a crise climática, fazendo dele nosso ‘freio de emergência climático’”, explica.

Martina Otto, secretária-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, afirma que mais de dois terços das nações no Acordo de Paris já incluem o metano nas suas NDCs, representando 38% de aumento do número na comparação com antes de 2020. “O metano está, aos poucos, ganhando um novo papel na reconstrução das prioridades nacionais. Isso muda o ponteiro, mas ainda não acontece na velocidade que precisamos”, diz.

Otto explica que o trabalho com metano trata-se de um potencial tecnicamente viável que já está sendo realizado com baixo custo: o que falta é a escala. Ela conta que o metano também é um precursor do ozônio troposférico, um agente fortemente prejudicial e de alto potencial de aquecimento. Evitar as perdas só na agricultura poderia gerar mais de US$ 330 bilhões em benefícios econômicos. “Gostaria de enfatizar isso: o retorno sobre o investimento é extraordinário. É mais que o dobro do custo das ações necessárias”, afirma. "Devemos realmente explorar esse potencial e usá-lo de forma eficaz, mesmo em pequena escala."

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