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COP29, no Azerbaijão, chega ao fim da primeira semana com carta protesto de ex-autoridades da ONU (Leandro Fonseca/Exame)
Editora ESG
Publicado em 15 de novembro de 2024 às 05h14.
Última atualização em 15 de novembro de 2024 às 05h17.
Como era de se esperar, as declarações dadas por Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, na abertura da COP29, ainda estão rendendo nesta sexta-feira, 15. Confirmando expectativas sobre a nação, altamente dependente da produção de petróleo e gás, que correspondem a 48% do total do PIB, Aliyev defendeu sem qualquer constrangimento a produção e utilização de combustíveis fósseis na contramão do que se discute em Baku.
Entre muitos desdobramentos, a declaração foi a gota d´água para que, por exemplo, a ministra de Transição Energética da França, Agnès Pannier-Runacher, cancelasse sua participação nas negociações como principal representante de seu país, numa conferência já bastante esvaziada de lideranças relevantes. Um dia antes, o presidente do país-sede ainda acusou Paris e os franceses de crimes coloniais contra territórios ultramarinos.
Agora, a exemplo do que ocorreu na COP16, "irmã mais nova" da COP do Clima, especialistas do mundo todo enviaram uma carta protesto endereçada à Organização das Nações Unidas (ONU), onde declaram como já está claro que as negociações climáticas da COP "perderam sua eficácia" e demandam uma reformulação urgente.. Entre os signatários,estão um ex-secretário-geral e uma ex-chefe climática da ONU.
Chega de COP para países sem compromisso
Uma das premissas defendidas no documento é a de que países sem compromisso com a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis não deveriam sediar as conferências - questão já amplamente questionada desde as cúpulas anteriores, sediadas no Egito e em Dubai. A abertura polêmica no Azerbaijão precede uma filmagem, dias antes, de um alto funcionário azerbaijano que usou de sua posição como chefe da COP29 para articular negociações envolvendo combustíveis fósseis.
Apesar dos avanços recentes nas negociações climáticas da ONU, que requerem a delicada costura de unanimidade entre cerca de 200 nações, alguns dos mesmos desafios persistem. Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu diretrizes para conter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C neste século, incluindo metas para abandonar combustíveis fósseis e triplicar o uso de energia renovável até 2030.
Os autores da carta reconhecem estes progressos. Contudo, argumentam que o ritmo atual nas Cúpulas do Clima é insuficiente diante da urgência da crise climática. Com 2024 se encaminhando para ser o ano mais quente já registrado e emissões ainda em ascensão, o cientista Johan Rockström, um dos signatários, advertiu sobre o estado crítico do planeta. E ressalta que ainda existe uma oportunidade para estabilizar o clima, mas isso exige transformações políticas globais mais ágeis e impactantes.
Entre os signatários estão o político sul-coreano Ban-Ki Moon, secretário-geral das Nações Unidas entre 2007 e 2016, a diplomata costarriquenha Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em julho de 2010, e Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, que também atuou como alta comissão da ONU. Todos em coro, sobre a necessidade de mudanças mais rápidas e abrangentes.