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Susana Muhamad, presidente da COP16, afirma ser necessário que se democratize o conhecimento sobre os recursos genéticos
Repórter de ESG
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 05h30.
De Cali, Colômbia*
A genética entrou no centro do debate da Conferência das Nações Unidas sobre a biodiversidade, a COP16. O tema, por vezes muito concentrado entre acadêmicos, é essencial para a garantia de conhecimento científico sobre as espécies animais e botânicas – e o entendimento de como as mudanças climáticas e ambientais podem gerar impactos nessas populações.
Em um dos principais paineis da programação da quarta, 23, Susana Muhamad, presidente da COP16 e ministra do meio ambiente da Colômbia, debateu as possibilidades e os problemas vividos atualmente nesta seara. Em suas falas, a ministra teceu algumas críticas sobre a atual regulação aplicada a propriedade intelectual dos materiais.
“Estamos falando de informação genética de animais e plantas, sequenciadas e armazenadas em bases de dados digitais. As empresas que utilizam esses recursos comercialmente nem sabem de onde provêm”, disse Susana, para quem é necessário que se democratize o conhecimento sobre os recursos genéticos.
A presidente da COP fez ainda um apelo pela melhoria da regulação desses recursos na Colômbia, salientando que apesar da existência dos tratados internacionais, há muito trabalho a ser feito dentro dos países para beneficiar as comunidades locais - grandes responsáveis pela preservação dos recursos naturais - pelo trabalho que fazem.
Para garantir o controle dos dados colombiano e que estas informações estejam sob a soberania de seu país, Susana anunciou que o Ministério da Ciência e Tecnologia atuará em conjunto com o governo do presidente Gustavo Petro para a criação de um banco de dados nacional em nuvem, garantindo que as informações genéticas.
De acordo com Sean Hoban, presidente da Coalização pela Conservação Genética, organização global que reúne pesquisadores e especialistas no tema e está presente na COP16, este é um passo positivo para a conservação dos dados e não somente pelo uso comercial. “Acredito que isso pode alavancar a preservação da diversidade biológica na Colômbia, o que é ótimo para as espécies animais e vegetais”, explica.
De acordo com pesquisa da Coalização que avaliou 900 espécies em 9 países, 58% das espécies têm populações pequenas demais para manter a diversidade genética, e apenas 19% estão em níveis seguros. Entre as consequências, estes cenários podem acarretar problemas como a endogamia, quando seres de mesmo parentesco são forçados a reproduzir, gerando baixa capacidade de sobrevivência e de adaptação.
A pesquisa também apontou que 72% dos animais e plantas contêm ao menos um dado catalogado. O Marco Global de Biodiversidade, firmado em 2022, estabelece que todas as espécies devem ter suas informações conservadas. O caminho para atingir esta meta parece ser longo, especialmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
“Se não atingirmos a ousada meta de 100% de espécies com dados genéticos catalogados até 2030, vamos todos sofrer ainda mais com as mudanças climáticas. E populações, espécies e economias serão impactados por essa ausência”, afirmou Sean Hoban.
*A jornalista viajou a convite.