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Govinda, restaurante vegetariano de Belém, espera levar à COP30 cardápio com ingredientes da culinária paraense a sabores inspirados na Índia. (Divulgação)
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Publicado em 2 de novembro de 2025 às 13h00.
* Por Carla Fischer e Daniel Nardin, com edição Exame
Após uma polêmica que marcou o início da licitação, com a exclusão e, posteriormente, a autorização de uso de ingredientes típicos da culinária amazônica nos restaurantes e quiosques nas Zonas Azul e Verde, foi definida a lista de doze restaurantes que estarão nos espaços oficiais da COP30, em Belém.
Na Zona Azul (Blue Zone), com acesso mais restrito, sete empresas foram confirmadas para atuar nas áreas de alimentação e serviços durante o evento: Iacitata Cultura Alimentar, Govinda Restaurante Vegetariano, Catering Food Ltda, Cervejaria Araguaia Comércio e Indústria Ltda., Delícias Quilombolas, Coffee Lovers Brasil Ltda e o Consórcio CAM.
Entre elas, o Consórcio CAM terá presença mais ampla, com atuação em três pontos distintos da Zona Azul. Já Catering Food Ltda, Cervejaria Araguaia, Delícias Quilombolas e Coffee Lovers Brasil Ltda estarão em dois espaços cada. As demais empresas terão operação em um ponto.
Já na Zona Verde (Green Zone), foram nove selecionados. Quatro deles - Consórcio CAM, Catering Food Ltda, Cervejaria Araguaia Comércio e Indústria Ltda. e Delícias Quilombolas -, estarão nas duas zonas.
Outras cinco empresas foram selecionadas para a Zona Verde, que tem acesso mais livre e menor rigor no credenciamento: Fábio R. Sicilia Com. Imp. Exp., de Produtos Alimentícios Ltda., Pães e Sorvetes Cairu, Govinda Restaurante Vegetariano, Iacitata Cultura Alimentar e Coffee Lovers Brasil Ltda.
Conforme publicado no site oficial da COP 30, tanto na Zona Azul (Blue Zone) quanto na Zona Verde (Green Zone), não será permitida a entrada de alimentos externos, por questões de segurança. Assim, todo o consumo nesses espaços oficiais será feito apenas pelos estabelecimentos credenciados.
O sistema de pagamento será unificado, chamado de Cashless. Segundo o site oficial, o "cliente poderá optar fazer a recarga em cartão ou pulseira personalizados e serão exclusivos para consumo em quiosques, cafés e restaurantes".
Conforme detalhado pela organização, cada pessoa com acesso à Zona Azul fará um cadastro e poderá adicionar saldo via Pix, cartão ou dinheiro, nos totens físicos ou por link online.
Todos os pontos de venda usarão o mesmo sistema. Caso reste saldo ao final do evento, o valor será reembolsado. A medida busca reduzir filas e agilizar o atendimento.
De acordo com Tainá Marajoara, do restaurante Iacitata Cultura Alimentar, de Belém, uma nota técnica recente da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), da Prefeitura de Belém, voltou a proibir o uso do tucupi, do açaí e das cuias tradicionais.
Segundo ela, ainda segue em negociação o uso do açaí, do tucupi e da maniçoba, que estão parcialmente liberados a partir de algumas determinações.
"Isso ocorre por falta de estrutura e sensibilidade das empresas montadoras da COP e da organização do serviço de alimentação, que não adequaram as condições às realidades e culturas locais. Também não foi permitido o uso de fritadeiras, o que impede práticas tradicionais como o peixe frito com açaí e o acarajé", explicou a proprietária do estabelecimento.
Para ela, também houve ausência de diálogo com os cozinheiros e comunidades locais. "Seguimos em negociação. E é importante dizer: nós nunca nos recusamos a cumprir regras sanitárias, o problema é estrutural, não foi gerado por nós", afirmou.
Otimista, Tainá segue se preparando para levar cultura alimentar amazônica à COP30. "Povos indígenas, comunidades tradicionais e camponeses estarão presentes para garantir a melhor comida da história das COPs, uma comida sem agrotóxicos, sem transgênicos, repleta de justiça climática, bem viver e cultura", acrescenta.
Um dos confirmados, o Govinda Restaurante Vegetariano, também de Belém, promete levar à COP30 um cardápio que une ingredientes da culinária paraense a sabores inspirados na Índia.
Fundador e proprietário, Francisco Sridhara explica que a proposta é apresentar uma gastronomia sustentável e criativa, mantendo a identidade amazônica.
"Como de praxe, daremos destaque aos insumos da culinária regional. Não pode faltar, por exemplo, a nossa maniçoba vegana", explica.
O processo de seleção dos fornecedores foi marcado por uma controvérsia que mobilizou entidades ligadas à gastronomia e à produção amazônica.
Quando foi publicado em 12 de agosto, o edital de alimentação da COP30 trazia uma lista de alimentos proibidos que incluía açaí, tucupi e maniçoba — pratos tradicionais da região.
A justificativa apresentada pela OEI foi baseada em alegados riscos sanitários: o açaí poderia transmitir a doença de Chagas se não fosse pasteurizado, enquanto tucupi e maniçoba seriam perigosos se preparados incorretamente.
A decisão gerou reação imediata. Organizações como Abrasel, Fiepa, Sebrae, Fecomércio-PA, Slow Food Brasil e Instituto Regenera divulgaram uma nota conjunta criticando o que consideraram um preconceito cultural com a região.
As entidades argumentaram que esses produtos são naturais, consumidos diariamente por milhões de pessoas e já contam com controles sanitários adequados.