ESG

Como esta empresa espanhola quer transformar o setor de energia mundial

Com um apetite voraz por aquisições de serviços públicos e por grandes investimentos em energia renovável, a Iberdrola é agora líder mundial em energia eólica e solar fora da China, e está prestes a construir o primeiro parque eólico offshore dos EUA

José Ignacio Sánchez Galan, presidente e executivo-chefe da empresa de energia solar e eólica Iberdrola: empresa quer revirar a indústria de utilidades elétricas (Gianfranco Tripodo/The New York Times)

José Ignacio Sánchez Galan, presidente e executivo-chefe da empresa de energia solar e eólica Iberdrola: empresa quer revirar a indústria de utilidades elétricas (Gianfranco Tripodo/The New York Times)

No início de 2015, três diretores de uma companhia elétrica de Connecticut se reuniram com um potencial comprador, certo executivo de serviços públicos espanhol chamado José Ignacio Sánchez Galán, que os surpreendeu com uma visão ousada para a indústria de serviços públicos dos EUA.

"Ele foi muito claro ao dizer que via os EUA como tendo um enorme potencial em energia renovável. Esse cara, há seis anos, já estava muito à frente da gente", disse John Lahey, que era o presidente da empresa, a United Illuminating.

Galán fechou o acordo com a United Illuminating por US$ 3 bilhões. Sua empresa, a Iberdrola, com um parceiro dinamarquês, está agora pronta para começar a construir o primeiro parque eólico offshore em larga escala nos Estados Unidos, nas águas de Massachusetts. No total, a Iberdrola e suas subsidiárias alcançam 24 estados americanos e têm investimentos em vários países, desde o Reino Unido até o Brasil e a Austrália.

Nos últimos 20 anos, desde que assumiu a Iberdrola, com sede em Bilbao, na Espanha, com 37 mil funcionários, Galán adotou a missão de mudar a indústria de serviços elétricos, uma coleção fragmentada de empresas ligadas a velhas geradoras que queimam carvão e petróleo.

Com um apetite voraz por aquisições de serviços públicos e por grandes investimentos em energia renovável, a Iberdrola é agora líder mundial em energia eólica e solar combinadas fora da China, de acordo com a Bernstein, empresa de pesquisa de mercado.

Além disso, parece bem posicionada para aproveitar o que provavelmente será um boom de energia limpa nos próximos anos, à medida que o governo Biden nos Estados Unidos e os países europeus endurecem as regulamentações e fornecem incentivos para o investimento em energia verde.

"Galán, sem dúvida, foi o primeiro executivo-chefe de uma grande concessionária a entender que a transição energética dos combustíveis fósseis para a energia limpa era inevitável e que rapidamente seria realidade", afirmou Miguel Arias Cañete, político espanhol e ex-comissário europeu de energia e ação climática.

As mudanças na Iberdrola estão se processando em outros lugares, já que a indústria de energia elétrica está sendo reconfigurada não apenas por leis ambientais mais duras, mas também pelas vantagens na compra em grande escala de turbinas eólicas ou painéis solares.

A Iberdrola se une a um punhado de fornecedoras – a Enel na Itália, a Orsted na Dinamarca e a NextEra Energy nos Estados Unidos – que muitos analistas veem como líderes de uma nova geração de "grandes renováveis", comparável à forma como grandes petrolíferas como a Exxon Mobil e a Royal Dutch Shell exerceram enorme influência sobre como o mundo usava energia.

"Isso tudo está apontando para uma indústria com um número relativamente pequeno de atores influentes, que alcançam escala em renováveis e reduzem cada vez mais os custos", disse Sam Arie, analista do UBS em Londres.

A Iberdrola era basicamente uma companhia elétrica espanhola em 2001, quando Galán se tornou seu executivo-chefe. Apenas alguns anos antes, em 1997, o Protocolo de Quioto havia sido assinado, o primeiro grande acordo internacional a pedir a redução dos gases de efeito estufa para evitar o aquecimento global.

Muitos gigantes industriais prometeram lutar contra as leis que visavam reduzir as emissões, mas Galán se inspirou. Ele declarou em uma entrevista que via o acordo como uma abertura para as empresas preparadas para investir em tecnologias que ajudariam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa – como a energia eólica e a solar. "Em vez de ser um problema, vi isso como uma oportunidade", afirmou ele, acrescentando que as tendências geopolíticas representadas por Quioto lhe eram favoráveis.

Com um plano de reestruturação de 12 bilhões de euros, que foi considerado radical na época, a Iberdrola vendeu grande parte de seu portfólio de usinas a carvão e petróleo para investir em energias renováveis, bem como em redes para fornecimento de eletricidade.

Galán admite que suas propostas pareciam arriscadas, uma vez que coincidiam como espetacular colapso da Enron, outra ambiciosa empresa de energia elétrica. Mas ele buscou a expansão, especialmente no exterior. Galán mencionou ter sido atraído para o investimento nos Estados Unidos quando, durante uma visita, notou os inúmeros postes de madeira que sustentavam fios elétricos. Se um país de tamanha proeza tecnológica ainda precisava de postes de madeira para transportar sua eletricidade, ele imaginou que havia muito espaço para uma empresa como a Iberdrola.

"Ele transformou a empresa de seguidora em líder, não só em eletricidade, mas em energia em geral", disse Óscar Fanjul, ex-presidente da empresa espanhola de energia Repsol.

Galán agora planeja dobrar a capacidade de geração de energia limpa da Iberdrola nos próximos cinco anos, investindo mais 35 bilhões de euros não só em energia eólica e solar, mas também em setores emergentes como o hidrogênio, que a empresa diz estar pronto para decolar, como a energia eólica estava há 20 anos.

Quase 80 por cento dos investimentos planejados estão fora do mercado doméstico, segundo a Iberdrola, que reportou lucro líquido de 3,5 bilhões de euros sobre receitas de 36,4 bilhões de euros em 2020.

Gerar eletricidade é apenas parte dos negócios da Iberdrola. A empresa também constrói e gerencia redes de energia elétrica, e espera-se que essa área receba uma onda de investimentos. A eletricidade está se tornando central para carros e caminhões, bem como para o aquecimento doméstico, de modo que os sistemas de rede necessários para fornecer energia às casas exigirão grandes atualizações.

É provável que o campo se torne mais competitivo à medida que as gigantes petrolíferas, especialmente na Europa, investem bilhões de dólares em renováveis para ajudar a reduzir o teor global de carbono de seus produtos. Em fevereiro, grandes companhias petrolíferas entraram em uma licitação para construir parques eólicos na costa britânica, e os preços pagos foram criticados por alguns, que os consideraram muito altos.

Em entrevista, Galán considerou a ameaça competitiva das grandes empresas petrolíferas como uma confirmação do que a Iberdrola vinha fazendo havia décadas. "Estou muito satisfeito com o fato de já estarem usando uma fotocópia da estratégia que a Iberdrola imprimiu há 20 anos."

** Por Stanley Reed e Raphael Minder, c. 2021 The New York Times Company.

Fique por dentro das principais tendências das empresas ESG. Assine a EXAME.

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

Acompanhe tudo sobre:Energia eólicaEnergia renovávelThe New York Times

Mais de ESG

O chamado de Gaia: o impacto da crise climática sobre as mulheres

Ibovespa cai e dólar sobe após cancelamento de reunião sobre pacote fiscal

O que é o mercado de carbono e por que ele pode alavancar a luta contra a crise climática

Receita Federal atualiza declaração de bens para viajante; veja o que muda