ESG

Apoio:

logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Como a Urban Flowers faturou R$ 2,2 milhões com peças feitas de pneus e guarda-chuvas reciclados

Em entrevista exclusiva à EXAME, sócio conta que impacto de reciclagem chegou a quase uma tonelada em 2024, e este ano deve focar em expansão física

A ideia de que a melhor matéria-prima é a que já existe também ajudou a pensar em novos produtos e fontes limpas

A ideia de que a melhor matéria-prima é a que já existe também ajudou a pensar em novos produtos e fontes limpas

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 16h12.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2025 às 16h15.

Jaquetas de tecido de paraquedas, cinto de pneu de bicicleta e bolsas de capa de guarda-chuva: essas são algumas das produções da Urban Flowers, loja especializada na produção de calçados e acessórios veganos e reciclados.

No último ano, a companhia atingiu um faturamento de R$ 2,2 milhões, resultado atingido sem a geração de lixo e com a reciclagem de toneladas de matérias-primas inéditas.

Desde 2013, a empresa dos gaúchos Cecília Weiler e Patrick Lenz utiliza materiais reaproveitados de outras indústrias e itens reciclados como matérias-primas inovadoras, sem deixar de lado cuidado com o trabalho digno.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Lenz conta que a prioridade do negócio era trabalhar uma produção justa. “A indústria da moda frequentemente se perde ao priorizar matéria-prima sustentável enquanto mantém a exploração da mão de obra”, explica.

O comércio foi criado em 2013 pela gaúcha Cecília Weiler quando ainda era adolescente. Já conectada com a sustentabilidade e o vegetarianismo desde jovem, Weiler decidiu criar uma loja online de revenda de roupas. Ao longo do tempo, ela usou a experiência adquirida pela região onde cresceu, o polo calçadista do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, para desenvolver coleções próprias, feitas a partir de pequenos ateliês locais.

Em 2017, Patrick Lenz, companheiro de Cecília, ingressou na empresa como sócio. Ele conta que unir causas sociais e ambientais ao negócio era, naquela época, um “bicho de sete cabeças”. A dupla encontrou nos grupos e comunidades do Facebook um espaço de compradores interessados em produtos sustentáveis.

A partir de 2019, pouco antes da pandemia, o negócio passou a utilizar de um ateliê e equipe próprios para produzir suas peças. Foi a partir da proximidade com quem produz que surgiu a possibilidade de utilizar novas matérias-primas a partir da reciclagem.

Reciclagem na moda

Um dos primeiros materiais reutilizados nas peças foram os guarda-chuvas descartados. Lenz explica que a reciclagem do item é complexa por ser uma mistura de materiais, que exige tempo para serem desmontados e separados. “Trabalhamos com cooperativas e catadores não estruturados da região para coletar o material, que é extremamente resistente, para criar ecobags”, disse. Ao todo, 343 guarda-chuvas foram transformados em sacolas no último ano.

Outro produto, dessa vez um sapato mule, foi desenvolvido a partir de redes de pesca recolhidas das praias em Florianópolis. A empresa trabalhou com pescadores locais para coletar o material e reciclá-lo.

As carteiras e cintos, feitos a partir do reuso de pneus de bicicleta descartados, se tornaram alguns dos itens mais vendidos até hoje pela Urban Flowers. “A adesão é muito grande porque segue a mesma lógica da ecobag: é um produto funcional, feito de material reaproveitado e que realmente dura”, conta Lenz. Ao todo, 439 pneus foram reutilizados.

Além de remover um material que estava na natureza e levaria centenas de anos para a sua decomposição completa, o sócio explica que as criações acabam com um dilema muito comum da indústria de moda: utilizar materiais de origem animal, que são custosos, ou produtos sintéticos, que têm uma resistência menor.

Já nos calçados, todo o tecido utilizado deriva de peças têxteis não utilizadas por grandes indústrias da região, o que totalizou 1.834 m² de reuso em 2024. “Trabalhamos com o reaproveitamento do que é descartado, como rolos de tecido com uma cor diferente do planejado ou com tamanhos menores, que utilizamos para coleções pequenas, de 30 pares de sapatos”. Até mesmo as solas dos sapatos são feitas a partir de borracha reciclada, uma reciclagem de quase 800 kg de produtos em um ano.

Outra coleção que fez grande sucesso entre os mais de 170 mil seguidores da marca nas redes sociais foi uma jaqueta feita a partir de tecido de paraquedas descartados, que não poderiam mais ser utilizados com segurança em voos. “O resultado ficou surpreendente. Fizemos um teste no fim do inverno e esgotamos todo o estoque. Uma das metas para 2025 é relançar esse produto”, anuncia.

Até mesmo os retalhos, pequenos cortes de tecido, são reutilizados pela empresa, um processo que envolveu a conscientização de costureiras e costureiros no Rio Grande do Sul. “Era difícil convencer parceiros e fornecedores da importância de dar um destino adequado aos resíduos. Quem trabalha na correria do dia a dia simplesmente corta os tecidos e joga os pedaços fora, misturando com cola, restos de comida e outros resíduos”, explica.

Os sócios passaram a conscientizar os trabalhadores do próprio ateliê e de parceiros sobre os possíveis usos dos retalhos e a importância da separação dos resíduos. “Usamos o material para produzir mais de 400 almofadas utilizadas em ONGs de proteção animal no último ano. O primeiro passo foi a separação dos resíduos, ensinando esse processo para dentro da empresa. Depois, levamos esse conceito para os parceiros”, disse.

Sustentabilidade na prática

Como reconhecimento, a empresa recebeu em 2021 o selo “Lixo Zero”. Menos de 2% dos resíduos da produção industrial têm como destinação os aterros sanitários.

Para Lenz, uma das maiores motivações para a criação de produtos a partir da reciclagem foi o alto valor nas matérias-primas sustentáveis e veganas no Brasil. “Queremos, por exemplo, lançar materiais feitos de fibra de abacaxi ou banana, mas qual a viabilidade disso? Nosso objetivo é acessibilidade”, explica.

A ideia de que a melhor matéria-prima é a que já existe também ajudou a pensar em novos produtos e fontes limpas. “O que vendemos em um ano talvez seja o que grandes marcas vendem em um dia. Mas sabemos que nosso impacto está mais nos valores e na filosofia que mostramos ao mercado”, explica.

Como próximos passos, a Urban Flowers deve aumentar a produção sustentável para demandas de outras marcas que veem em produtos veganos uma brecha de mercado. Além disso, a loja on-line vem aumentando sua presença física e lojas colaborativas de todo o país. Essa tendência deve aumentar esse ano, permitindo uma maior aproximação com o consumidor em locais estratégicos para a empresa, como São Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ReciclagemEconomia CircularModaSustentabilidadeRedes sociais

Mais de ESG

Brasil ganha primeiro mapeamento sobre finanças climáticas e reúne 37 iniciativas

Projeto de lei cria regras para resgate de animais após desastres ambientais e climáticos

Revolução do reaproveitamento: conheça a premiada trajetória da Nude

Sustentabilidade e OLUC: o papel das empresas na gestão desse resíduo