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Como a tecnologia pode expandir o acesso à energia renovável na África

Gestão adequada dos recursos energéticos e interligações entre países permitem ampliar o uso das fontes eólica e solar em sistemas de energia

A geração eólica e a solar fotovoltaica estão se tornando cada vez mais competitivas em termos de custo. (UWMadison/ThinkStock)

A geração eólica e a solar fotovoltaica estão se tornando cada vez mais competitivas em termos de custo. (UWMadison/ThinkStock)

Ricardo Perez
Ricardo Perez

Colunista

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 16h00.

Quase 700 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à energia elétrica, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA) . Desse total, aproximadamente 570 milhões (quase três vezes a população do Brasil) estão na África Subsaariana. Este quadro ressalta a necessidade de ampliar a oferta de energia elétrica e expandir as redes de transmissão e distribuição de energia.

Paralelamente, as evidências dos efeitos das mudanças climáticas no planeta são cada vez mais alarmantes. Este cenário exige que os países adotem estratégias para aumentar a oferta de energia por meio de fontes renováveis. Um aspecto positivo é que a geração eólica e a solar fotovoltaica estão se tornando cada vez mais competitivas em termos de custo. No entanto, um desafio significativo é a variabilidade da produção de energia dessas fontes, devido à variação no regime e na velocidade dos ventos e na irradiação solar. Então, fica a questão: como expandir o uso de energias renováveis e, ao mesmo tempo, lidar com sua intermitência?

Um exemplo ilustrativo dessa complexidade é o mercado de energia elétrica da África Ocidental, ou West African Power Pool (WAPP), que reúne 14 países, sendo a maioria deles integralmente na África Subsaariana, com níveis de acesso à energia elétrica que variam de 19% a 86%. Devido à intermitência da geração eólica e solar, o plano diretor do WAPP de 2019 estipulou um limite conservador de 10% de participação dessas fontes no sistema elétrico da região, a fim de assegurar o funcionamento adequado do mercado de energia.

Em artigo recente publicado neste espaço, foi mostrado como ferramentas analíticas podem contribuir para a gestão dos recursos energéticos renováveis, tomando como exemplo o México. Esses modelos computacionais também podem ser extremamente úteis para melhorar o funcionamento do mercado de energia da África Ocidental.

A importância de simulações computacionais na transição energética

No caso do WAPP, um estudo liderado pela Universidade de Coimbra, em Portugal, com a participação da PSR, analisou quatro países do mercado elétrico da África Ocidental (Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana e Mali). Com o apoio da tecnologia, utilizando os modelos de planejamento da operação energética de médio e longo prazo (SDDP) e de planejamento da expansão energética (OptGen) da PSR, o trabalho concluiu que é possível aumentar a participação das fontes limpas variáveis eólica e solar no sistema para um patamar entre 12% e 41% e ainda garantir um funcionamento adequado do sistema.

Outro achado relevante do estudo foi que uma maior integração entre esses países permite economias de escala, reduzindo os custos de geração e, consequentemente, as tarifas de energia elétrica. Tais fatos ocorrem porque as interconexões inter-regionais se beneficiam dos diferentes regimes de ventos dos países e extraem valor do efeito portfólio, diminuindo custos e aumentando a segurança do abastecimento elétrico na região.

A aplicação dessas ferramentas analíticas e a integração regional permitem uma gestão mais eficiente dos recursos energéticos e são fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável dos países. Ao aumentar a participação das fontes renováveis e promover a cooperação entre nações, é possível garantir um fornecimento de energia mais seguro e acessível, impulsionando o crescimento econômico e melhorando a qualidade de vida das populações. Assim, essas iniciativas contribuem significativamente para a transição energética necessária para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e promover um futuro mais sustentável e próspero para a África Ocidental.

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