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Simone Damaceno, da Getnet: "Maternidade é um laboratório vivo de plasticidade cognitiva." (Getnet/Divulgação)
Plataforma feminina
Publicado em 11 de maio de 2025 às 07h01.
*Por Simone Damaceno
Gosto muito de uma frase que diz “ninguém é, todo mundo está”; e, com ela em mente, percebo como a maternidade me instiga a estar em constante evolução.
A cada dia, vejo que ser mãe me trouxe a chance de observar o mundo sob o olhar de uma criança novamente, e descobri pelo caminho aprendizados valiosos sobre gestão, liderança e a própria vida.
Minha experiência como mãe veio mais tarde e coincidiu com um momento de grande ascensão na minha carreira. Nosso encontro aconteceu de uma forma singular: através da adoção.
Laura chegou em nossas vidas aos três anos, e com ela uma revolução intensa e repleta de amor. Sua autonomia e o apoio incondicional do meu marido foram fundamentais para que essa jornada fosse mais leve, ainda que desafiadora.
A minha maternidade, que é também um encontro interracial, se fez como uma ponte para vivências que antes eram distantes e apenas teóricas para mim. De repente, tudo passou a ser vivido na pele, de forma real e avassaladora. Nada mais seria como antes.
Ao receber minha filha, vi um novo mundo se abrir, repleto de novas camadas — de empatia, de consciência social e de aprofundamento nas questões raciais.
Essas vivências me fortaleceram e me tornaram uma líder mais consciente dentro da complexidade do mundo corporativo. Hoje, como Vice-Presidente de Operações da Getnet, lidero equipes diversas em gerações, raças, credos e experiências.
Esse ambiente me permite aprender e enxergar o outro com um novo olhar, mais sensível e ampliado. Costumam me perguntar como faço para equilibrar maternidade e carreira, e a resposta é simples, embora não seja fácil: vivo a intensidade de cada dia, sem me apegar à ilusão de um planejamento perfeito.
A maternidade nos ensina que a única certeza é a incerteza. Planejar é essencial, mas é igualmente importante acolher a vida real da forma como ela se apresenta.
Tenho sim momentos de trabalho intenso, mas faço questão de estar presente, com atenção plena, em cada compromisso que assumo — seja ele profissional ou pessoal, embora eu não faça distinção de quem sou entre esses dois mundos. Existo simultaneamente em todos os meus papéis.
E todos eles são fundamentais para que eu seja, genuinamente, quem eu de fato sou. Pois a maternidade é uma jornada que transforma profundamente a forma como nos vemos e como interagimos com o mundo à nossa volta.
De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Filhos no Currículo, 98% das mães entrevistadas afirmaram que adquiriram habilidades valiosas para suas carreiras após a maternidade, como paciência, empatia e uma capacidade aprimorada de resolução de problemas.
Essas qualidades são fundamentais para uma liderança eficaz, e vejo claramente como elas têm sido parte importante do meu desenvolvimento profissional.
Para tornar isso possível, me guio pelos meus valores. Valores estes que vieram dos meus pais, que compartilharam comigo uma imensa sabedoria, apesar da origem humilde.
Meus pais, apesar de não terem tido acesso à educação formal, eram extremamente sábios, e é por meio de suas trajetórias que aprendi desde muito nova a honrar e reconhecer o valor de todos, sem distinções.
Eles prezavam por uma tríade de valores inegociáveis, que herdei e carrego comigo até hoje. Ética, a busca incessante pelo conhecimento e a dignidade do trabalho, sendo esta última completamente desvinculada de títulos ou status.
Ser mulher em um ambiente corporativo ainda majoritariamente masculino me ensinou que ouvir com atenção e agir com empatia são forças poderosas.
Para criarmos ambientes corporativos mais produtivos, inovadores e com um bom clima organizacional, vejo o quanto é primordial que se criem vínculos de confiança, embasados na escuta ativa.
Trazendo os aprendizados que adquiri como mãe, vejo que devemos priorizar o que realmente importa e valorizar a qualidade das interações mais do que a quantidade.
Compreendo, também, que criar ambientes que valorizam a diversidade pode, inclusive, exigir que sejamos acolhedores com aqueles que precisam de horários mais flexíveis ou de outras inúmeras formas de apoio necessárias para conciliar seus diferentes papéis.
É importante ressaltar que um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a consultoria Mercer, revelou que apenas 18% das mulheres em cargos de liderança no Brasil têm filhos, em comparação com 35% dos homens na mesma posição.
Esse dado reflete as barreiras que muitas mulheres enfrentam para conciliar maternidade e carreira, algo que eu mesma vivi de perto.
Minha família, minha trajetória e, em especial, a maternidade me moldam e me despertam para ser uma líder mais humana, sensível às próprias vulnerabilidades e aberta às nuances da vida.
Maternar, para mim, é um laboratório vivo de plasticidade cognitiva — que é a capacidade do cérebro de se adaptar, aprender e se reorganizar em resposta a novas experiências — essa que é, sem dúvida, uma das competências mais valiosas no mundo corporativo atual.
E ao compartilhar um pouco da minha história, faço um convite: que possamos enxergar a vida e seus desafios como oportunidades de constante evolução, e chance de construirmos ambientes mais empáticos, inclusivos e verdadeiramente diversos.
*Simone Damaceno é Vice-Presidente de Operações da Getnet