(Klaus Vedfelt/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 09h55.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2021 às 00h37.
A empresa privada de saneamento básico BRK Ambiental entendeu na prática como ter um ambiente inclusivo e com maior diversidade étnico-racial gera melhores resultados para o negócio. Desde 2019, a partir de conversas para sensibilizar os cerca de 6 mil funcionários, se iniciou o grupo de trabalho de Raça, que ao poucos foi conquistando aliados por todas as regiões do país, compartilhando diferentes realidades, e culminando em ações como o Programa de Aceleração de Carreiras e o incentivo para um programa de estágio voltado para a diversidade a inclusão.
No Programa de Aceleração de Mulheres Negras, desenvolvido em parceria com o Grupo Mulheres do Brasil, 15 profissionais que ocupam cargos de liderança em diferentes regiões do país participam de atividades para promover o desenvolvimento pessoal e profissional. Até março deste ano, elas participam das mentorias internas, como parte da aceleração.
O programa já teve palestras e workshops de Andréia Cruz, uma das idealizadoras do projeto e fundadora da Serh1 Consultoria, e Ana Minuto, especialista em liderança feminina. Em encontros virtuais, as participantes acompanharam apresentações sobre autoconhecimento, sonho, carreira, valores, marca pessoal, ancestralidade, finanças e networking. Ao final desta etapa, todas as participantes realizaram um pitch, acompanhado por mais 50 gestores da companhia, incluindo a presidente da BRK Ambiental, Teresa Vernaglia.
"Onde há pessoas diversas, há mais inovação. Uma série de pesquisas mostram os benefícios – inclusive financeiros – de ter um ambiente de trabalho inclusivo. Isso certamente é um motivador, mas não só. A BRK Ambiental tem operações em todo o país e entende da pluralidade que vivemos, levamos água para dentro da casa das pessoas, vivemos a diversidade no nosso negócio e precisamos refletir isso dentro da empresa. Entendemos que o racismo é uma questão real no Brasil e que as empresas têm um papel importante no combate à discriminação", diz Tayana Nazario, analista de comunicação da BRK Ambiental e co-líder do Grupo de Trabalho de Raça.
Magnólia Maria de Jesus, coordenadora de operações em Alagoas, é uma das participantes e reforça que o programa contribuiu com a valorização pessoal de cada profissional. "Os treinamentos permitiram que olhássemos para dentro e pudéssemos dar atenção para a nossa raça. Com os feedbacks após o picth, por exemplo, me senti muito mais segura e percebi que consegui mostrar minha história", afirma.
Atualmente as participantes recebem mentoria de lideranças da empresa. A proposta é contribuir para identificarem os seus objetivos profissionais e alcançá-los ao longo do programa. As mentorias foram organizadas para que todas fossem acompanhadas por profissionais com quem não convivem no dia a dia.
"Como mentora, tive a oportunidade de me aproximar de uma profissional com uma formação excepcional e que dificilmente teríamos uma relação direta. Em nossas conversas, estamos focadas em como posso agregar valor ao trabalho dessa profissional, acompanhando as dificuldades e desafios diários e estimulando o seu potencial como profissional", diz Juliana Calsa, diretora de comunicação da BRK Ambiental e idealizadora do programa, por meio do GT de Raça.
A ação da BRK pensa estrategicamente na interseccionalidade das mulheres negras e em situação de vulnerabilidade dentro e fora da companhia. Assim, no ano passado, foi estruturado o Programa Reinventar, em Pernambuco, uma formação profissional para 25 mulheres encanadoras, que reuniu brasileiras e refugiadas venezuelanas para aprender uma nova profissão. Considerando as famílias das participantes do programa, são 116 pessoas indiretamente beneficiadas, sendo que 70% não estavam trabalhando. Das que trabalham, a maioria exerce atividades informais ou precárias e uma parte recorre aos programas sociais, com o Bolsa Família.
Programa de Estágio 2021
Mais do que fortalecer a atuação das lideranças negras que já atuam na empresa, ou comunidades locais específicas, a BRK Ambiental se comprometeu a dar oportunidade aos profissionais autodeclarados pretos e pardos que vão iniciar as suas carreiras. Neste ano, o Programa de Estágio 2021 contratou 59% de profissionais negros para ocupar as 95 vagas disponibilizadas.
"Na fase de estruturação do programa de estágio, o grupo de trabalho de Raça apresentou um projeto para nós do RH, para que a empresa contratasse, pelo menos, 56% de estagiários negros no escritório de São Paulo, onde o desafio de inclusão é maior. Esse número equivale ao percentual de pessoas autodeclaradas pretas e pardas no Brasil. Na última atualização do RH, em janeiro, que não contempla os novos estagiários, somos uma empresa com 53% dos profissionais negros e 23% dos estagiários negros. Nossa missão é ampliar esses números a cada ano e criar um ambiente de trabalho inclusivo, que respeite as diversidades", diz Patricia Anacleto, gerente de recursos humanos da BRK Ambiental.
Todo o processo de contratação para o estágio foi focado na seleção de pessoas com vivências distintas, para que sejam agregados diversos pontos de vista em um mesmo ambiente. Outra iniciativa da companhia foi a adoção da prática de seleção às cegas, que oculta dos gestores informações como faculdade, endereço e idade dos candidatos. Além disso, o conhecimento em inglês foi solicitado apenas para vagas específicas, em que o uso do idioma é indispensável.
"Além dos resultados quantitativos que vimos surgir já com o programa de estágio e o programa de aceleração, percebemos uma maior integração e interesse dos líderes para o tema. Temos realizado workshops, rodas de conversa e preparado a nossa liderança para entender e vivenciar a diversidade, um trabalho contínuo e necessário, que tem impacto direto no clima e no ambiente de trabalho como um todo", afirma Nazario.