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Com óleo de licuri e jaboticaba, a L’Occitane busca seu plano “B” na Caatinga

Empresa de cosméticos e perfumaria estabelece parceria com cooperativas no bioma brasileiro fortalecer o negócio global

L'Occitane no Brasil: empresa alcança certificação de sustentabilidade de "Empresa B" (Benjamin Girette/Bloomberg/Getty Images)

L'Occitane no Brasil: empresa alcança certificação de sustentabilidade de "Empresa B" (Benjamin Girette/Bloomberg/Getty Images)

Fernanda Bastos
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 25 de setembro de 2023 às 14h48.

Última atualização em 25 de setembro de 2023 às 14h55.

A empresa de cosméticos e perfumaria L’Occitane, que surgiu no sul da França, atua no Brasil com duas marcas – L’Occitane au Brésil e a L’Occitane en Provence – e uma fábrica em Itupeva, no interior de São Paulo. Mas é na Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, que a companhia tem encontrado respostas para um dos principais desafios do negócio: o clima.

“Dentro do grupo, os principais temas que trabalhamos são ligados às mudanças climáticas, biodiversidade, diversidade e inclusão. E, a partir disso, cada marca tem um posicionamento específico em relação à sustentabilidade”, afirmou Paula Bonazzi, head de sustentabilidade da L’Occitane no Brasil, em entrevista à EXAME.

Um dos compromissos da companhia, no Brasil, é a preservação da biodiversidade da Costa Brasileira. “Incluímos a costa como um ecossistema que deve ser preservado, nós olhamos para os biomas brasileiros como um todo, já que contamos com ingredientes de biomas pouco óbvios e ameaçados, como é o caso da Caatinga”, disse Bonazzi. Além do foco ambiental, a empresa conta com projetos de preservação cultural das comunidades envolvidas na cadeia produtiva.

Em uma das linhas, a L’Occitane au Brésil utiliza o óleo de licuri – uma amêndoa que é retirada de uma árvore chamada Licurizeiro – usado para hidratação e reparação da pele. Mas, o que poucos conhecem é que essa amêndoa é um grande símbolo para o nordeste brasileiro, visto que muitas comunidades chefiadas por mulheres conseguem se manter financeiramente pela atividade de extração do óleo deste fruto. Pensando nesse contexto, a marca de cosméticos fez uma parceria com a Cooperativa de Produção da Região de Piemonte e Diamantina (Coopes) para apoiar a extração local.

Por meio da parceria, as mulheres da região da caatinga de Capim Grosso, mais especificamente localizada na Bahia, conseguem fazer a extração do material com um impacto ambiental menor. São vários processos envolvidos, como a colheita de licuri, a quebra dos frutos, a torra e a prensagem das amêndoas, e a parceria com a companhia auxilia no acompanhamento técnico dos processos – além da distribuição de caixas de abelhas para a polinização da região e a geração de renda do mel dos insetos.

Em fevereiro de 2023, a L’Occitane ainda implementou duas agro-catatingas para implantação de cerca de 700 mudas nativas de jaboticaba nas regiões degradadas. A ação entra em consonância com a visão de valorização da empresa que, internamente, conta com 80% de funcionárias mulheres.

Já em um contexto global, a L’Occitane en Provence apoia um projeto onde mulheres são responsáveis pela produção da manteiga de karité, em Burkina Faso. A manteiga é muito utilizada pela marca francesa nos produtos, e a empresa compra a manteiga produzida pela cooperativa de mulheres com o objetivo de impactar positivamente a região. Em Burkina Faso ainda existe o RESIST Program – que faz alusão à resiliência, ecologia, fortalecimento, independência, estrutura e treinamento – para benefício das comunidades locais e para a preservação da biodiversidade, diante de acidentes ambientais. Em 2021, cerca de 8 mil colhedoras foram capacitadas sobre técnicas agroflorestais de colheita da manteiga de karité.

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O plano B da L’Occitane

Um dos objetivos da companhia com essas ações é a certificação de Empresa B – que reconhece os compromissos sustentáveis de uma empresa – e, neste mês, a companhia alcançou a pontuação necessária para atestar a certificação.

O reconhecimento de Empresa B reflete em um esforço que vem sendo desenvolvido desde 2020. Bonazzi, que entrou na L’Occitane em janeiro de 2022 especificamente para facilitar este processo, explica que existe o relatório B Impact Assessment – uma espécie de questionário de preparação para a certificação. Hoje, a nota obtida pela companhia no Brasil, ajuda a posicionar o grupo em outro patamar. “A pontuação do Brasil, assim como de outras unidades de negócio no mundo, contribui para a pontuação do grupo. Então a gente tem um questionário próprio em que as ações que no Brasil acumulam pontos”, afirmou Bonazzi

Mesmo com o processo relativamente rápido para alcançar tão sonhada certificação de "Empresa B", a L'Occitane desenvolveu projetos sustentáveis pensando em conformidade e contou, internamente, com o envolvimento de diversas equipes como o time de compras, RH e, principalmente, o pessoal da fábrica em Itupeva, o que entra em convergência com a visão de sustentabilidade,  bastante transversal, da empresa. Uma das ações desenvolvidas nesse meio tempo foi a implementação de painéis solares na fábrica, que cobrem até metade da demanda energética da produção e que, em 2024, deve cobrir completamente a demanda – além do uso de caminhões elétricos na frota da companhia.

Seguindo esse raciocínio, a companhia também implementou o monitoramento da pegada ambiental e da emissão de carbono no uso de água, energia e produção de resíduos. Já na frente social, Bonazzi explica que a companhia conta com engenheiros florestais junto às áreas de atuação. “Eles visitam os produtores que trabalham com os nossos principais ingredientes e oferecem apoio com técnicas de melhoria da gestão de produção do plantio e do manejo. Se o produtor precisa de uma ferramenta para colher, o engenheiro deve identificar essas necessidades e apoiar os produtores nesse desenvolvimento para tornar a produção mais eficiente”, disse Bonazzi.

Mundialmente, existem mais três pessoas ocupando o mesmo cargo que Paula. Parte da função da executiva é entender a demanda das diferentes áreas, acompanhar os indicadores do setor e monitorar novidades e necessidades. “A inovação também surge por meio do que é possível fazer naquela frente que atuamos e nossas adaptações ao que vamos implementando”, afirmou Bonazzi. “Em geral, para sustentabilidade é preciso estar sempre antenado ao que tem surgido para tentar implementar”.

“Tem muito orgulho envolvido em conseguir a certificação. Há dois anos, os nossos funcionários ouviam falar da certificação de Empresa B e agora chegou. Sustentabilidade sempre foi uma escolha e um propósito das marcas e, além disso, é muito gratificante se juntar a este movimento global de empresas que trabalham pela sustentabilidade, ao mesmo tempo que podemos inspirar outras companhias a se juntarem a esse movimento”, disse Bonazzi.

O que são empresas B? 

“Empresa B” é um título dado pelo Sistema B Internacional da ONG B Lab. As companhias que recebem essa gratificação são aquelas que estão comprometidas com fatores da sustentabilidade e com a construção de uma vida em sociedade mais equilibrada para o planeta. Para conseguir a certificação, são necessários, no mínimo, 80 pontos na avaliação que analisa as frentes de: meio ambiente, funcionários, clientes, governança e mais

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