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Luciana Costa, diretora de transição energética do BNDES: Consistência da atuação energética do Brasil atrai investidores, enquanto agressividade na Europa é risco ao longo prazo (Caco Parise/Bloomberg/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de março de 2024 às 11h44.
Última atualização em 15 de março de 2024 às 13h00.
Para Luciana Costa, diretora de transição energética do BNDES, o Brasil pode atrair investidores por sua consistência na busca por energias limpas. “Enquanto os países ricos assumem políticas muito agressivas pelo meio ambiente, que podem não ser sustentáveis a longo prazo, o Brasil está consistente na atuação”, pontua.
A especialista esteve presente no Fórum Anual da BloombergNEF, empresa de pesquisas sobre finanças energéticas. O evento debateu temas como descarbonização e novas energias, mercados de compensação de carbono e as vantagens competitivas do Brasil em um mundo net-zero.
O painel também contou com a presença de Luis Viga, gerente nacional da mineradora Fortescue e Gabriela Oliveira, diretora de energias renováveis na Atlas Agro, companhia de fertilizantes limpos. A mediação foi de Natalia Rypl, associada à BloombergNEF.
Para Viga, os altos preços ainda impedem o crescimento de novas energias verdes no Brasil, como o hidrogênio verde. “Ele é duas ou três vezes mais caro que o hidrogênio cinza, o que ainda impossibilita o fechamento de contratos. Se resolvermos esse gap hoje, podemos fomentar a indústria no ano que vem, desde que tenhamos incentivos governamentais e de bancos de desenvolvimento”, afirma.
Oliveira pontuou que com fertilizantes verdes de preço justo para o agricultor, o Brasil ganha ao deixar de comprar de outros países, como a Rússia. “Tem um ganho na logística, já que sem importação, tem redução em um terço dos custos. Assim, o produto fica competitivo para o consumidor final”, relatou.
Costa ainda afirmou que o Brasil, líder nas energias renováveis, pode ser uma liderança também no mercado de carbono. “É importante acelerar a regulamentação do setor. A política pública tem que agir para precificar, já que a venda ainda está muito desorquestrada no âmbito mundial. Focando nessa questão, o Brasil pode coordenar a discussão”, conta.
O mercado de compensação de carbono brasileiro também foi citado como uma oportunidade crescente por Kyle Harrison, head de pesquisas sustentáveis na BloombergNEF. Segundo ele, as dez maiores empresas do País geram 177 milhões de toneladas de CO2E todos os anos. “Se todas atingirem suas metas estipuladas de net-zero, a temperatura pode cair até 2°C. As emissões residuais, que são mais difíceis de impedir, ainda gerariam 96 milhões de toneladas de CO2E”, conta.
Por isso, ele afirma que o mercado de carbono tem uma grande oportunidade no Brasil. Enquanto muitas empresas buscam comprar créditos de carbono, mas têm receito da qualidade do CO2 comprado, o Brasil pode se destacar com a venda de carbono de qualidade a partir dos investimentos corretos.
A precificação dos créditos também pode estar nas nossas mãos, uma vez que o País está no centro das discussões ao longo dos próximos dois anos, com a liderança do G20 e a COP30, em Belém. “O Brasil já é líder em soluções baseadas na natureza para a mitigação climática. Com investimentos públicos e privados, essa ação pode definir o que é um preço justo para um crédito de carbono. Estimamos que a venda de carbono de qualidade por atingir US$ 243 por tonelada”, informou Harrison.
Para Roberta Cox, diretora de políticas da GWEC (Conselho Global de Energia Eólica), a indústria verde do Brasil pode melhorar as exportações de todo o Sul Global. “Na transição energética justa, os países do norte veem que o sul é referência no fornecimento de artigos da indústria limpa. Firmar esses acordos internacionais vai valorizar o nosso produto, e o Brasil pode liderar esse comércio”, conta.
O painel, que debateu as oportunidades comerciais para o Brasil com as energias limpas, contou também com a presença de José Pugas, head de ESG na gestora JGP, e Rodrigo Lauria, diretor de mudanças climáticas e carbono na Vale. A mediação foi de Vinícius Nunes, líder de pesquisas da BloombergNEF Brasil.
Para Pugas, os dois próximos anos não serão os mais importantes, mas os únicos que importam para tomar ações, uma vez que o Brasil estará sob o olhar de todo o mundo nas políticas ambientais.“Acredito que o mercado de carbono não vai ser definido nos próximos dois anos. A legislação não está fechada no tema. Temos que olhar outras oportunidades de mercado relevantes, como restauração produtiva, produtos florestais e transição de commodities agrícolas”, expôs.
De acordo com Lauria, o mercado deve pensar incentivos à demanda de indústrias descarbonizadas, como os minérios verdes. “Induzir esses comércios depende de adaptação, aceleração e regulamentação. Esta última deve incentivar os investimentos que ainda não estão fechados. Afinal, toda indústria tem que pagar a conta, e é nisso que a descarbonização ainda esbarra”, contou.