ESG

Apoio:

logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Com esterco de vaca e esgoto, biometano avança e chega ao tanque de foguete

No Brasil, o gás produzido em aterros sanitários e material agropecuário abastece indústrias e maquinário; no Japão, fezes bovina alimentam projeto aeroespacial

Expansão: a japonesa Insterstellar Technologies comemorou projeto, enquanto no Brasil o BNDES anunciou R$ 230 milhões para dois projetos de biometano (Insterstellar Technologies/Reprodução)

Expansão: a japonesa Insterstellar Technologies comemorou projeto, enquanto no Brasil o BNDES anunciou R$ 230 milhões para dois projetos de biometano (Insterstellar Technologies/Reprodução)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 17h39.

Durante a COP28, em Dubai, o papel das alternativas aos combustíveis fósseis tem dividido opiniões. O setor de petróleo, gás natural e carvão nunca foi tão representado em uma conferência internacional do clima como neste ano, com 2.456 credenciados. As propostas colocadas à mesa hoje, no geral, dividem opiniões.

Na quinta-feira, 7, 100 grupos indígenas globais e aliados divulgaram uma carta aberta com um apelo aos negociadores da COP 28 chamando a atenção para a proteção dos direitos dos povos originários no processo de transição para energia limpa. O texto

chama a atenção para a extração de minérios e os riscos para a terra.

"Os produtos de energia limpa, como painéis solares, turbinas eólicas e baterias para armazenamento de energia e veículos elétricos, requerem muito mais minerais para serem produzidos do que os seus homólogos movidos a combustíveis fósseis. Um estudo de 2022 descobriu que 54% dos depósitos de minerais necessários na transição energética global”, apontam os signatários.

No Brasil, com sua matriz energética predominantemente limpa, surgem iniciativas para aumentar a diversificação. No entanto, há mais potencial do que avanços concretos nos números, como no caso do biogás - composto principalmente por CO2 e metano.

Na última terça-feira, 5, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aproveito o clima da COP28, em Dubai, e anunciou cerca de R$ 230 milhões em dois novos financiamentos para produção de biometano.

No projeto da Essencis Biometano o banco contratou um financiamento de R$ 93,8 milhões para construção de uma usina de biometano no maior aterro sanitário da América Latina e 3º maior do mundo, localizado em Caieiras (SP).

Já para o projeto da Cocal Energia PPT Participações foi aprovado o financiamento de R$ 135 milhões para a implantação de uma unidade de biogás, em Paraguaçu Paulista, no interior paulista.

O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, destacou em nota o potencial do biometano em substituição ao diesel em veículos pesados e máquinas agrícolas. “Tais iniciativas irão impulsionar a produção de biometano no Brasil, que apresenta enorme potencial para substituição do uso do diesel em veículos pesados e máquinas agrícolas, contribuindo para a transição energética”.

Com o material gerado no Aterro Caieiras, para onde são destinados resíduos de 20 municípios da região metropolitana de São Paulo, além da capital, a unidade terá capacidade instalada de 68.000 m³/dia. A previsão, segundo o BNDES, é de que o projeto evite a emissão de 43.068 toneladas de CO2 equivalente/ano. Já a unidade da Cocal vai usar palha de cana, torta de filtro e vinhaça, insumos gerados da produção de álcool e açúcar. A capacidade de biometano será de até 60 mil m³/dia.

Esterco de vaca e a corrida espacial

Mas se no Brasil ainda se discute a produção de biometano para abastecer tratores e indústrias, no Japão o assunto chegou a outro patamar tecnológico. Na quinta-feira, 7, foi confirmado o teste de um motor de foguete alimentado apenas por energia gerada a partir do esterco de vaca.

No teste, o motor impulsionou horizontalmente, por alguns segundos, uma chama azul e laranja de dez metros de comprimento através da porta de um hangar na ilha de Hokkaido, na região norte do país.

O esterco bovino foi fornecido por dois produtores locais de leite, segundo relatou Takahiro Inagawa, chefe da empresa japonesa Insterstellar Technologies, à AFP. “Fazemos isso não só porque é bom para o meio ambiente, mas também porque pode ser produzido localmente, porque é muito rentável e é um combustível com muito bom desempenho e grande pureza.”

De acordo com Inagawa, a Insterstellar seria a primeira empresa privada a fazer esse tipo de teste. O executivo diz ter a expectativa de enviar satélites ao espaço graças ao novo projeto, que conta com o apoio da Air Water, produtora de gases industriais que atua junto a agricultores locais usuários de equipamentos para transformar os dejetos dos bovinos em biogás.

Incluir o esterco de animais, como os bovinos, na economia circular, encontrando uma nova função para os dejetos, pode ser um caminho para a redução da pegada de carbono da pecuária. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em nível global, a pecuária responde por 12% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) vinculadas à atividade humana.

Potencial brasileiro

Segundo estimativa da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), apenas os dejetos dos suínos podem gerar 2,7 bilhões de metros cúbicos de biometano por ano. O volume seria suficiente para substituir em torno de 2,6 bilhões de litros de diesel. Ainda de acordo com a entidade, o Brasil conta com 885 unidades de biogás instaladas e utiliza apenas 2% do potencial do país.

Hoje, aponta a entidade, há no país seis unidades fabris de biometano autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANA). Juntas, elas produzem 470 mil m³ por dia.

A Abiogás projeta que, até 2029, 81 novas usinas de biometano devem ser instaladas, com capacidade instalada de 6,6 milhões de m³ por dia e investimentos de R$ 11 bilhões – o equivalente a 10% de todo o gás natural consumido hoje no Brasil. Do total de empreendimentos previstos, 52% são de resíduos de saneamento (esgoto), seguido pelo setor sucroenergético (42%), produção agrícola (5%) e proteína animal (1%).

Acompanhe tudo sobre:Exame na COP28COP28BiogásBNDESJapãoFoguetes

Mais de ESG

Cooperativa da Amazônia triplica faturamento com exportação de açaí em pó

ENGIE Brasil Energia recicla em tempo recorde 2900 toneladas de painéis solares

Mulheres negras e indígenas são foco de capacitação no setor da moda

Como as tarifas de Trump podem impactar o mercado energético brasileiro?