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Bonn (ONU/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de junho de 2025 às 16h00.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 16h45.
Um clima de tensão e desacordo marcou os primeiros dias da 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários (SB62), a Conferência de Bonn, na cidade alemã sede do secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas (UNFCCC).
O evento sobre mudanças climáticas prepara o terreno para a COP30 e começou oficialmente no último dia 16, mas as negociações propriamente ditas só tiveram início nesta quarta-feira, 18.
O atraso na abertura formal evidenciou conflitos e interesses políticos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação a temas-chave para o combate à crise climática e escancarou os desafios que aguardam o Brasil como anfitrião da próxima conferência do clima em novembro.
Segundo especialistas, o cenário que se forma é de desconfiança frente ao financiamento climático e implementação de políticas ambientais, herdada já na última COP do clima em Baku.
Até esta quarta-feira, apenas eventos mandatados já previstos por decisões anteriores das COPs foram realizados, como um sobre adaptação climática, que teve sua primeira oficina técnica ainda na segunda, 16, e é uma das apostas do Brasil em Belém. No entanto, impasses deste tipo são de praxe.
Previsto para acabar em 26 de junho, pelo menos 5 mil autoridades governamentais e representantes da sociedade civil de 197 países participam das negociações. Diferente das Conferências das Partes (COPs), o objetivo final não é um documento ou acordo, mas sim trazer fundamentos para avanços em itens da agenda.
Os próximos dias serão como um 'termômetro' para o ambiente que nos espera em Belém e definirão o futuro, além de representar um "teste de credibilidade ou prova de fogo" para a diplomacia internacional e brasileira.
Na primeira sessão plenária, Simon Stiell, secretário executivo da organização para mudança do clima, alertou para a necessidade de um progresso concreto. “As últimas 30 horas foram difíceis. E não refletiram a urgência da situação que enfrentamos”, disse se referindo aos impasses.
Entre as prioridades da presidência da ONU em Bonn, estão reforçar o multilateralismo, conectar o trabalho da convenção a bilhões de vidas e acelerar a implementação. Esta última palavra 'mágica' é o que definirá se a COP30 será bem-sucedida.
A Plenária de Abertura só foi concluída no fim do dia 17, após três dias de discussões para definir a agenda de trabalho. O impasse foi provocado por uma proposta da Bolívia, em nome do grupo LMDC (Like-minded Developing Countries) e que contempla países em desenvolvimento com posições comuns, como China, Arábia Saudita e Bolívia.
A proposta de incluir dois novos temas não previstos levou a desacordos: financiamento climático e barreiras comerciais.
O primeiro, inclusive, ficou quicando na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, quando foi acordada uma meta global muito aquém do esperado: 300 bilhões de dólares anuais destinados de países desenvolvidos para os mais vulneráveis lidarem com os efeitos mais severos da crise do clima, frente a uma necessidade de trilhões.
"Os novos itens da agenda buscam resguardar países, que estão sendo pressionados a implementar ações climáticas, mas com muito menos dinheiro do que previam, além de garantir que não sofram sanções comerciais caso descumpram compromissos coletivos. Isso tudo expõe falta de confiança", destacou André Castro Santos, diretor técnico e chefe da delegação da LACLIMA. A organização brasileira marca presença com uma delegação robusta em Bonn e um time de 13 especialistas.
Segundo o especialista, a adoção da agenda é um passo muito importante para as negociações. "Pode parecer um procedimento burocrático e formal, mas é nela que se define a pauta que será tratada ao longo dos dias", explicou.
Embora os temas propostos pela Bolívia não tenham entrado como itens independentes da agenda, eles serão abordados em outros pontos. As medidas unilaterais de comércio, por exemplo, foram incorporadas ao item que trata de transição justa — o que preocupou os especialistas. Este é um dos focos em Bonn, além do Objetivo Global de Adaptação e financiamento climático.
"Isso é problemático, pois o tema é muito complexo e polarizado e foi alocado em uma agenda muito importante", avaliou André.
Flávia Bellaguarda, diretora da LACLIMA, mantém expectativas cautelosas e destacou à EXAME que as negociações podem levar a caminhos menos conflituosos. "Contudo, um dos principais itens que é a transição justa, deve ter mais dificuldade para avançar, visto que o debate sobre medidas comerciais foi incluído".