Turbinas eólicas offshore perto de Teesside, Inglaterra, em 16 de fevereiro de 2021. Subsídios governamentais como aqueles que ajudaram a indústria de energia eólica estão sendo considerados para captura de carbono. (Gregor Schmatz/The New York Times)
Rodrigo Caetano
Publicado em 14 de setembro de 2021 às 06h00.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lança nesta terça-feira, 14, uma análise de experiências internacionais no mercado de carbono. O estudo trará exemplos de abordagens da União Europeia, do México, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão. O lançamento será realizado em uma live, às 14h30, com as presenças de Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, e do deputado Marcelo Ramos (PL-AM).
O posicionamento da CNI é de apoio à regulamentação de um sistema de comércio de emissões de carbono no Brasil pelo sistema cap and trade, em que o governo define um teto de emissões para as empresas, que devem comprar permissões para ultrapassar o limite, se for o caso, de empresas que ficarem abaixo.
Esse costuma ser o sistema preferido do setor produtivo, em oposição à instituição de um imposto sobre o carbono, defendido, inclusive, pelo Fundo Monetário Internacional. Embora o efeito seja praticamente o mesmo – na prática, quem emite acima de um limite acaba pagando uma taxa – o sistema cap and trade utiliza um mecanismo de mercado para definir o preço do carbono, a partir de um patamar mínimo.
A vantagem do sistema de imposto sobre emissão de carbono é a velocidade de implementação. Enquanto no cap and trade é preciso aguardar que as trocas atinjam um nível suficiente para fazer diferença no orçamento das companhias, na taxação, o governo começa a arrecadar assim que instituiu o imposto.
Essa iniciativa da CNI faz parte da agenda da confederação em preparação para a COP26, conferência do clima da ONU que acontece em novembro, na Escócia. A expectativa é de, no evento, seja regulado o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado global de carbono, algo que interessa às empresas brasileiras.
Em agosto, o grupo Empresas pelo Clima, organizado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), entregou uma carta ao presidente da COP26, o britânico Alok Sharma para demonstrar o comprometimento do setor privado brasileiro com a redução das emissões.
O grupo reúne os CEOs de mais de 80 grandes companhias, que representam 45% do PIB brasileiro. Marina Grossi, presidente do CEBDS, diz que o documento deixa claro o comprometimento das empresas brasileiras com agenda da COP26.
“O setor empresarial brasileiro tem adotado ações corporativas concretas”, afirma Grossi. “A COP 26 será uma oportunidade para compartilhar esse comprometimento e reforçar nosso engajamento mundial.
O que move muitos desses CEOs, além da necessidade de salvar o planeta do caos climático, é a possibilidade de nivelar o jogo. Descarbonizar custa caro e as empresas que se comprometem com o carbono zero perdem competitividade em preço. “É ótimo que as mudanças climáticas ganhem espaço nas estratégias corporativas, mesmo que seja greenwashing”, afirma Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário. “Mas tem a questão do custo. Em algum momento, será preciso regulamentar.”
Daniela Manique, presidente para América Latina do Grupo Solvay, fabricante de produtos químicos dona da marca Rhodia, espera que essa regulamentação venha da COP26. “O fato de não termos uma cobrança global sobre as emissões das empresas cria uma diferença de custeio importante”, afirma Manique. “Não é justo um concorrente vender 20% mais barato porque queima carvão, enquanto eu invisto em alternativas há 20 anos.”