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Elnur Soltanov, presidente da COP29, que foi filmado em negociações plantadas por falso grupo de gás e petróleo. (Divulgação/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 15h25.
Última atualização em 8 de novembro de 2024 às 15h32.
Chefe executivo da COP29 e ministro adjunto de Energia do Azerbaijão, Elnur Soltanov foi flagrado em uma filmagem, conduzindo uma negociação para facilitar acordos sobre combustíveis fósseis durante a cúpula do clima, que começa na segunda-feira, dia 11, em Baku.
A gravação foi feita pela organização não governamental Global Witness, que se passou por um falso grupo de petróleo e gás, o EC Capital, barganhando vantagens na conferência, em troca de supostos patrocínios e investimentos. Nas conversas que vieram a público na quinta-feira, 7, Soltanov concorda em intermediar o contato entre os falsos investidores e a Socar, estatal azerbaijana de petróleo e gás.
O executivo, que também faz parte da direção da Socar, chegou a descrever o gás natural como um "combustível de transição". Mas acrescentou em seguida, que os planos de seu país eram aumentar a produção de gás, incluindo uma nova infraestrutura de gasoduto. O escândalo intensificou apelos de ativistas que querem que a indústria de combustíveis fósseis e seus lobistas sejam banidos de futuras negociações da COP.
COP28 viveu polêmica similar
O episódio não é exatamente novidade nas negociações climáticas que antecedem o principal evento mundial no tema. Um episódio semelhante antecedeu a COP28, em 2023, quando documentos vazados revelaram que os Emirados Árabes Unidos, país anfitrião da vez, também planejava usar as reuniões para costurar acordos para sua indústria nacional de petróleo e gás.
As negociações gravadas ainda contrastam com os compromissos firmados na COP28 sobre transição dos combustíveis fósseis, conforme recomendado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que na última Cúpula se posicionou mais fortemente sobre como o desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás é incompatível com as metas climáticas do Acordo de Paris. Na figura de Soltanov, as conversas ainda davam ao falso grupo investidor a dispensa de premissas de patrocínio em todas as COPs, como por exemplo, a promessa de corte de emissões.
Tensões confirmadas
A escolha do Azerbaijão para sediar a cúpula do clima é cercada de polêmicas desde sempre, considerando que o setor de petróleo e gás representa aproximadamente 50% da economia do país e mais de 90% de suas exportações totais.
O incidente reforça e, em alguma dimensão, confirma as preocupações sobre a influência da indústria de combustíveis fósseis nas negociações climáticas, reacendendo o debate sobre a necessidade de maior transparência e responsabilização nessas discussões.
Não houve posicionamento oficial das autoridades do país e da Cúpula a respeito do episódio.