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Cerrado pode gerar US$ 100 bilhões ao PIB brasileiro com agricultura regenerativa

Estudo inédito do BCG recomenda práticas agrícolas que conciliem aumento de produtividade com sustentabilidade, em uma área potencial de 32,3 milhões de hectares do bioma

 A conversão para terras agrícolas já consumiu quase metade do Cerrado, com um aumento de 71%  entre 2019 e 2023 (Luciano Candisani/Votorantim/Divulgação)

A conversão para terras agrícolas já consumiu quase metade do Cerrado, com um aumento de 71% entre 2019 e 2023 (Luciano Candisani/Votorantim/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 25 de março de 2025 às 14h53.

Última atualização em 25 de março de 2025 às 15h04.

Em ano de Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) no Brasil, acelerar a transição para paisagens regenerativas é peça-chave. O país, com maior parte das emissões associadas ao uso da terra, é um celeiro de oportunidades para a agricultura de baixo carbono.

O Cerrado, responsável por 25% da soja consumida no mundo, é um hub de produção de alimentos  crucial para a segurança alimentar. As práticas regenerativas neste bioma podem não só recuperar áreas degradadas como gerar um retorno financeiro de US$ 100 bilhões (R$ 520 bi) e adicionar US$ 20 bilhões (R$ 104 bi) ao PIB anualmente até 2050.

É o que revela um novo estudo inédito do Boston Consulting Group (BCG), em parceria com o Ministério da Agricultura e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). 

A análise identificou 32,3 milhões de hectares com potencial para regeneração, sendo: 23,7 milhões de hectares para a recuperação de pastagens degradadas e outros 8,6 milhões de hectares para intensificação da agricultura sustentável.

Para fazermos a transição, seriam necessários investimentos estimados em US$ 55 bilhões (R$ 286 bi), com retorno de até 19% no marco de 2050. Já o valor deve retornar para a mão do produtor em uma média de 2 a 5 anos, a depender do tamanho da propriedade, diz o estudo. 

Lucas Moino, sócio do BCG, destacou que não é possível distanciar produtividade de sustentabilidade no Brasil. "Estamos falando sobre como aumentar a escala e acelerarmos este processo de transição verde. Com tecnologia, é aquele famoso 'poupa terra': aumentar a produção por área, ao mesmo tempo em que se reduz a pressão por novas áreas e se ajuda na preservação", disse a jornalistas durante evento de lançamento do estudo na sede do BCG, em São Paulo. 

Segundo o executivo, os investimentos dependem de um mix de capital privado, concessional e seguros, a fim de potencializar as vocações do bioma para a produção agrícola. "Nossos números mostram que isso é possível", reforçou.

COP30 à vista

Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade do CEBDS, organização multisetorial que representa fortemente o agronegócio, destacou que a COP30 é uma janela para avançarmos na agenda com grandes players do setor e vai de encontro ao lançamento de um Landscape Accelerator (LAB) de sistemas alimentares ainda na COP28. 

O estudo seria um marco para dimensionar o tamanho da oportunidade e apresentar para o mundo em busca de alianças estratégicas e superação das barreiras, acredita a executiva. 

"A transição para paisagens regenerativas representa não apenas uma oportunidade econômica sem precedentes, mas um imperativo para a resiliência climática e competitividade do agro brasileiro a longo prazo", destacou. 

Á EXAME, Arthur Ramos, sócio do BCG, acrescentou que o objetivo é criar as condições ideais para os investimentos no Brasil e que a COP30 é global, o que abre a oportunidade de também exportar soluções. "Isso depende de uma harmonização entre as políticas, os mecanismos de investimentos e as métricas. Em um ambiente de COP, o estudo contribui para as interessadas, especialmente agora que passamos de uma agenda de negociação para implementação", disse.

O caminho para implementação das práticas regenerativas inclui o desenvolvimento de políticas públicas, o desbloqueio de financiamento tanto público como privado e o avanço na escala de tecnologias já existentes. Entre elas, estão técnicas conhecidas como uso de bioinsumos e biológicos, gestão de resíduos na pecuária, plantio direto, cultivo de cobertura e fixação de nitrogênio, destacaram os especialistas. 

"Para ganharem escala, todas devem ser fáceis de serem integradas. Não existe ciência de foguete", destacou Lucas. Com a ampla adoção das tecnologias, o próximo passo seria encontrar métricas de monitoramento e verificação do impacto. 

Desafio de bilhões

O estudo também aponta os três maiores desafios: a mudança de mentalidade dos agricultores para que priorizem os ganhos de longo prazo em vez dos imediatos; os valores significativos de financiamento iniciais e a necessidade de mecanismos de crédito, ao mesmo tempo em que estas instituições consideram os altos riscos climáticos e financeiros; e a verificação como sendo um processo complexo e custoso para os agricultores. 

Benefícios ambientais, sociais e econômicos

O Cerrado sofreu forte impacto do desenvolvimento agrícola ao longo das últimas quatro décadas e quase metade do bioma foi convertido em áreas de pecuária e agricultura, o que influenciou a dinâmica da região e do clima.

As consequências vão desde incêndios mais frequentes e intensos, espécies de plantas e animais cada vez mais ameaçadas de extinção e períodos de estiagem e calor. 

Segundo o BCG, os benefícios ambientais e sociais de práticas regenerativas também incluem a redução de até 140 milhões de toneladas de CO2 equivalente, a melhora da saúde do solo, aumento da biodiversidade, maior eficiência hídrica e geração de renda para pelo menos 400 mil agricultores da região.

Os dados serão detalhados na Cúpula do Cerrado, em 15 de abril. 
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