Patrocínio:
Parceiro institucional:
Cerca de 26% dos pescadores profissionais sofreram acidentes de trabalho nos últimos dois anos
Repórter de ESG
Publicado em 6 de setembro de 2025 às 14h00.
Colocar a segurança no coração da sustentabilidade, entendendo que se um negócio não é seguro também não é sustentável.
Esta é a missão do novo Centro de Oceanos Global da ONU, no qual o Brasil se tornou um dos sete países escolhidos mundialmente para endereçar os principais desafios dos trabalhadores que giram a potencial economia azul ao lado de Gana, Quênia, Índia, Bangladesh, Filipinas e Indonésia.
A iniciativa pioneira no mundo nasceu na Conferência de Nice, na França, liderada pela Lloyd's Register Foundation, instituição global centenária baseada em Londres que atua com tecnologia e inovação para tornar a infraestrutura marítima mais segura, e considerou as maiores economias globais em trânsito de alimentos, energia e mercadorias.
No Brasil, é desenvolvida em parceria com o Pacto Global da ONU e foi lançada na quinta-feira, 4, simbolicamente no complexo portuário de Santos (SP), maior porto América Latina e o principal motor do comércio exterior brasileiro.
À frente da coordenação, está a brasileira Patrícia Furtado de Mendonça, também fundadora da Acqua Mater.
"Quando falamos de segurança, nos referimos principalmente à salvaguarda da vida humana, colocando a pessoa que atua nesta economia no centro, porque é ele que move essa indústria", destacou à EXAME.
Dados da fundação retratam o tamanho do problema. Enquanto os oceanos transportam entre 80% e 90% de todos os bens comercializados no mundo e empregam mais de 133 milhões de pessoas globalmente, cerca de 26% dos pescadores profissionais sofreram acidentes de trabalho nos últimos dois anos. O número é maior do que qualquer outro setor da economia e evidencia uma questão de direitos humanos.
"O oceano já está sob ameaça da nossa exploração. Pessoas que trabalham em torno deste ecossistema estão fazendo alguns dos trabalhos mais perigosos do mundo", disse à EXAME Tim Slingsby, Diretor de Habilidades e Educação da Lloyd's.
Sem nenhuma sede física, o foco do centro inicialmente será em mapear os desafios locais junto a todos stakeholders do setor. Na segunda fase, será construído um relatório com os principais resultados e como próximo passo, desenhar e alavancar soluções.
O projeto abrangerá quatro áreas principais: navegação e portos, pesca e aquacultura, energias renováveis offshore e finanças azuis. Através de oito workshops ao longo de 11 meses, serão propostos diálogos multissetoriais envolvendo academia, populações costeiras, empresas marítimas, autoridades portuárias e outros trabalhadores.
A abordagem prioriza as especificidades regionais, reconhecendo que os desafios de Santos serão diferentes daquelas necessárias para o Rio de Janeiro ou outras regiões costeiras.
Além disso, considera que a economia oceânica está se tornando cada vez mais central para as transições verdes no comércio, infraestrutura, energia, resiliência climática e segurança alimentar.
"Sabemos que enquanto existimos em Londres e tentamos ser influentes ao redor do mundo, não temos a capacidade de entender os problemas de outra região ou cultura ", destacou Tim ao explicar por que é tão importante ter conhecimento vindo do Brasil e dos outros países contemplados.
Um dos objetivos é também identificar riscos, barreiras e oportunidades para desbloquear financiamento para as empresas estatais no Sul Global.
"A segurança é transversal porque tem a ver com condição de trabalho para trabalho digno, tem a ver com o clima e obviamente com acesso a recursos financeiros", frisou Guilherme Xavier, CEO do Pacto.
O executivo contextualiza a iniciativa dentro da estrutura organizacional da organização e destaca que o projeto está inserido na plataforma de águas, oceanos e resíduos do Pacto Global, uma das plataformas colaborativas onde ações já são desenvolvidas.
Uma das preocupações centrais da fundação se refere à transição energética no setor marítimo, responsável por cerca de 3% das emissões globais.
Rumo à descarbonização, surgem novos combustíveis alternativos como amônia, hidrogênio e metanol que podem trazer riscos de segurança ao trabalhador. "Como garantir que seja um ambiente seguro"? A resposta a essa pergunta será uma das prioridades do centro, contou Tim.
Nesta conta também entram as renováveis offshore, especialmente com a tecnologia de turbinas eólicas em alto-mar ao trazerem desafios significativos na desmontagem e descarte.
Já na indústria pesqueira, a discussão se concentra muito na saúde dos ecossistemas e pouco nas práticas de trabalho. Em meio a ameaças crescentes, a pesca e a aquicultura são atividades de alto risco e levam a morte de cerca de 25 mil a 100 mil trabalhadores por ano no mundo.
Com o Brasil sediando a COP30 em Belém do Pará, a expectativa é que o centro contribua com uma maior da conexão dos oceanos com as mudanças climáticas.
A pauta tem ganhando espaço nos tribunais internacionais e também em outras iniciativas brasileiras, mostrando que este ecossistema representa muito mais do que exploração econômica.
Além de sustentar a pesca, o transporte e o turismo, cumpre um papel essencial para regular o clima do planeta e lidera em potencial de captura de carbono.
A expectativa dos idealizadores é que o Brasil se destaque entre os sete países, apresentando resultados que justifiquem a continuidade e expansão das atividades após a fase inicial de diagnóstico.
Segundo Patrícia, o grande objetivo é ser "uma plataforma de escuta e de amplificação das vozes de países do Sul Global", promovendo um diálogo das chamadas economias emergentes com as mais desenvolvidas do Norte.