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Celso Athayde: torci para o ‘europeu’ Messi e o ‘africano’ Mbappé

A final mais emocionante da história também revela uma realidade global: a diversidade é fundamental e o racismo precisa ser combatido

Lionel Messi e Kylian Mbappé: craques protagonizaram a final mais emocionante da história (FIFA/Getty Images)

Lionel Messi e Kylian Mbappé: craques protagonizaram a final mais emocionante da história (FIFA/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 07h25.

Foi a final mais emocionante que eu já vi. Os improváveis empates provocados pela França compensaram a falta de brilho dos seus jogadores, ofuscados pela partida exuberante, especialmente no primeiro tempo, de Messi e seus companheiros argentinos. Embora, na minha visão, essa tenha sido a copa com a menor presença de “gênios” da história, não faltou emoção na final, e Lionel Messi e Kylian Mbappé garantiram os momentos de genialidade. O difícil foi escolher um time para torcer.

Não dá para torcer para a Argentina por conta do comportamento agressivo dos seus torcedores. Estive na final da Copa de 2014, no Maraca, e testemunhei xingamentos, gestos obscenos, e ainda fui chamado de macaco por racistas argentinos. Ao mesmo tempo a festa que eles promovem é fantástica.

Tenho a impressão de que a França não jogou no primeiro tempo por ter ficado encurralada entre as vozes argentinas, que transformaram o estádio em uma La Bombonera, o caldeirão onde joga o Boca Juniors, algoz de tantos times brasileiros.

Há motivos para não torcer para a França. Um deles é o fato de amarem os pretos com ressalvas. Os enaltecem quando levam o título, mas os xingam quando perdem, evocando suas nobres árvores genealógicas. Kingsley Coman, o atacante que iniciou a jogada do segundo gol da França, roubando a bola de Messi, acabou perdendo um dos pênaltis e, por isso, está recebendo uma enxurrada de ofensas racistas em suas redes sociais.

Também não gostei de o Mbappé ter declarado que os europeus são mais preparados do que os sul-americanos – o resultado do jogo mostra que não é bem assim. O comportamento de pseudo-torcedores nas redes sociais evidencia que ele precisa ter mais cuidado ao se referir à sua amada Europa, que não o considera tão europeu assim.

Mas não dá para não torcer para os geniais, os que promovem o espetáculo, os que transformam uma simples partida de futebol em uma grande celebração de lágrimas eternas. Torci para Mbappé, apesar de suas declarações me deixarem de nariz virado. E torci para o Messi, quem muitos consideram um europeu.

É difícil, aliás, saber quais seleções são, realmente, europeias. A França terminou a partida com 10 negros retintos em campo. Na Argentina, quase todos os jogadores jogam no velho continente. O mesmo acontece no Brasil. No caso do Marrocos, o primeiro time africano a chegar a uma semifinal, não consigo dizer quem, entre os jogadores, nasceu de fato na África.

Nada disso importa, no entanto, na hora de levantar o caneco. Seja o “africano” Mbappé, ou o “europeu” Messi, quem fica com a taça se torna o herói da nação, que explode em alegria e celebração. No final, achei o resultado dessa Copa o mais justo possível, por ter permitido que Lionel Messi, um dos melhores de todos os tempos, chegasse ao seu título mundial. E por ter consagrado Mbappé como o artilheiro.

E vamos sorrir, afinal o Brasil ainda tem Pelé e cinco Copas do Mundo. Além disso, o papa mandou liberar geral.

*Celso Athayde é CEO da Favela Holding e fundador da Central Única de Favelas (Cufa) 

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