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CCR: ignorar mudanças climáticas pode custar 5 vezes mais do que adaptar a infraestrutura

Empresa, que controla aeroportos, estradas e linhas de metrô, adota estratégia de adaptação e resiliência climática. Segundo especialistas, conceito deve se tornar obrigatório em concessões

Empresa investiu R$ 200 milhões em estratégia de mitigação de riscos, feita em parceria com empresas de gestão climática e inteligência artificial (Divulgação/Divulgação)

Empresa investiu R$ 200 milhões em estratégia de mitigação de riscos, feita em parceria com empresas de gestão climática e inteligência artificial (Divulgação/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 22 de março de 2024 às 14h54.

Última atualização em 26 de março de 2024 às 09h29.

Concessionária de aeroportos, rodovias e linhas de metrô, a CCR acaba de mapear os principais riscos às suas operações a partir de efeitos do calor, frio, chuvas excessivas ou secas, que se tornaram cada vez mais comuns nos últimos anos. A estratégia ajuda a antecipar os impactos e direcionar os investimentos em adaptação e resiliência climática.

A ideia é utilizar tecnologias — desenvolvidas em parceria com empresas especializadas na gestão do clima — para orientar as operações da CCR e mitigar os efeitos em quem utiliza os serviços e nas comunidades próximas. Isso inclui parcerias com Climatempo, companhia de meteorologia, WayCarbon, consultoria de sustentabilidade focada no net-zero, Meteo IA, que desenvolve inteligências artificiais e Cemaden, de monitoramento de desastres naturais.

Segundo o vice-presidente de sustentabilidade, risco e compliance da CCR, Pedro Sutter, o acompanhamento diminui os custos com a manutenção dos ativos e melhora a assertividade nos planos de negócios, uma vez que permite iniciar um investimento sabendo como o clima afetará a região dos ativos.

Sutter explica que identificar os riscos permitiu agir para minimizar possíveis desastres. “Já investimos R$ 305 milhões para contenção das encostas. São mais de 27 pontos de riscos para a operação da CCR e para as pessoas que vivem ali. Iniciamos até mesmo investimentos que não estavam previstos no plano de negócio, mas que vão dar a companhia mais chance de lidar com os eventos climáticos. Dessa forma, não precisamos reagir depois que um evento extremo já aconteceu, o que pode custar até cinco vezes mais”, conta.

A estratégia começou a ser criada há um ano como parte do novo plano dos negócios. O objetivo é difundir até 2025 a iniciativa em todas as 26 unidades de negócio que a empresa administra atualmente. O desenvolvimento do plano recebeu um investimento de mais de R$ 200 milhões da companhia, que, segundo Sutter, está relacionado com a atual realidade, em que eventos climáticos extremos devem ser cada mais comuns.

"Me surpreende que mais companhias não tenham seguido esse caminho. Quando entrarmos em um negócio, já saberemos quais serão os impactos dos eventos do clima"Pedro Sutter, vice-presidente de riscos e compliance da CCR

Na prática

O relatório institui procedimentos de segurança que orientam, por exemplo, fechar trechos das rodovias que podem sofrer alagamentos quando os índices de chuva indicarem uma precipitação intensa para as próximas horas, o que evitaria acidentes com enchentes e deslizamentos. Só na rodovia Rio-São Paulo são 472 pontos de deslizamento identificados.

Segundo Sutter, o benefício vai para além das operações da empresa: as tecnologias instaladas podem cooperar com a atuação de prefeituras, Defesa Civil e Cemaden, já que podem criar alertas em primeira mão sobre os riscos relacionados ao clima.

A inteligência artificial criada pelo Meteo IA, de acordo com o vice-presidente, pode calcular e precificar os efeitos de forma mais detalhada, criando cenários e os possíveis efeitos para a CCR e seus ativos de mobilidade. Por exemplo, se a temperatura de uma região aumentar em uma média de 1,5ºC, a empresa já estipulou quais os riscos envolvidos, além dos gastos com a manutenção de encostas, asfalto e outros itens do negócio. Sutter ainda informou que o objetivo é ter análises com um ano de antecedência, o que otimizaria as ações de planejamento de estradas e ferrovias.

“A partir dos históricos de precipitação, calor, frio, etc, dá para tentar prever o futuro e agir antes do problema acontecer”, conta. A empresa contou já ter estudos sobre os riscos de todos os ativos até 2050. As possibilidades se estendem a acompanhar o deslocamento de nuvens, prevendo a movimentação de tempestades.

Ação pode escalar no setor

Para Natalia Marcassa, especialista em infraestrutura e CEO do MoveInfra, movimento que busca o desenvolvimento sustentável na área, prever as necessidades de adaptação é um processo essencial. “Do lado das empresas, elas fazem a avaliação de riscos e identificam nas rodovias e ferrovias onde há possibilidade de deslizamentos e outros perigos a sua operação. Mas quem paga essa conta? Acredito que precisaremos de recursos do Fundo Clima, que financia ações sustentáveis com taxas de juros menores, para aumentar a escala de ações de prevenção aos efeitos das mudanças climáticas”, conta.

Marcassa ainda acredita que, além da criação dentro das próprias empresas, as estratégias de resiliência climática estarão em contratos de concessão nas próximas décadas. “Quando fazemos esse mapeamento, os projetos ficam mais sustentáveis no sentido ecológico e financeiro. As mudanças são inevitáveis, então mapear risco e tomar ações ajuda a orientar projetos de sustentabilidade financeira”, afirma.

A prioridade, conta, são nas áreas mais críticas. “Se o porto de Santos fechar, a economia pode ter uma perda gigantesca. Agir nesses locais essenciais é a prioridade. Corrigir as falhas vai beneficiar em muito o planejamento”.

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