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Resgate em Porto Alegre: cidade é atingida por enchente histórica (Porto Alegre City Hall/AFP Photo)
Repórter de ESG
Publicado em 8 de maio de 2024 às 07h00.
Com mais de 2.000 participantes - entre empresas e organizações não empresariais - o Pacto Global da ONU - Rede Brasil tem mobilizado diferentes frentes de atuação para a mitigação dos danos das enchentes no Rio Grande do Sul, que resulta em mais de 80 mortos e 100 desaparecidos até o momento. "Apoiamos campanhas de organizações como a Central Única das Favelas (CUFA) e a Ação da Cidadania. Também estamos mobilizando as empresas, fornecendo cartilhas, analisando os impactos e promovendo doações internas", disse Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, em entrevista à Exame.
O foco das empresas neste momento está nas resoluções imediatas. "As empresas têm participado desde a realização de doações até a logística dos itens, mobilizando parceiros locais", diz. Para ele, prestadoras de serviços essenciais também têm o esforço de garantir as operações.
"A Rio Grande Energia (RGE), do Grupo CPFL, por exemplo, está tentando fornecer a energia por meio de torres emergenciais e temporárias. Quando a gente olha para o varejo, as companhias de outros estados, podem ajudar no abastecimento de suprimentos uma vez que as lojas locais estão debaixo d'água".
Além disto, o Pacto está na mobilização pelo atendimento de saúde mental da população do Rio Grande do Sul. Em parceria com Ana Carolina Peuker, CEO e fundadora da Bee Touch, a organização adapta uma cartilha sobre como lidar com saúde mental em contextos de crises e desastres, além de um material sobre como as empresas podem ajudar nesta frente.
"Vi o caso de um senhor que havia perdido tudo na última enchente há seis meses, e agora passa pela mesma situação. Para além das questões materiais, é preciso o cuidado da saúde física e mental de pessoas como ele. É por isto que estamos trabalhando com esses conteúdos e incentivando ações, como do Hospital Israelita Albert Einstein, que está fornecendo teleatendimento, além de outras empresas já acionadas", afirma. Atualmente, a frente de saúde nas empresas parceiras do Pacto é trabalhada por meio do Movimento Mente em Foco.
Na frente de alimentos, o executivo lembra da demanda urgente por água potável e de uma questão mais a longo prazo nas lavouras. "O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil. O que, neste cenário, pode agravar a inflação de alimentos em breve".
Para Pereira, não é possível desassociar as atuais enchentes com a crise climática de todo o planeta. "Vejo pessoas publicando fotos das enchentes no Rio Grande do Sul, em 1941, questionando se os efeitos das mudanças climáticas já eram sentidos naquele momento. Mas, não consigo acreditar que as pessoas ainda estão negando o fato de que nunca o estado teve um evento como o de agora", diz.
Para os executivos, os efeitos já são sentidos antes mesmo das últimas chuvas. "Nos últimos meses problemas logísticos foram causados nas rodovias por conta das tempestades. Agora, o aeroporto Salgado Filho levará tempo para ser totalmente recuperado. O impacto é imenso e não pode mais ser ignorado". A intensidade dos efeitos deve aparecer também nas próximas semanas, quando as cadeias de produção dos outros estados brasileiros sentirem falta de suprimentos.
"Energia, tecidos, arroz e soja são exemplos das cadeias afetadas", comenta lembrando ainda dos cerca de dez dias que a população de São Paulo ficou sem energia elétrica após um temporal e a queda de árvores no ano pasado. "Isto mostra como os efeitos negativos das mudanças climáticas estão atingindo o país. Só em São Paulo foram duas mil quedas de árvores registradas em um ano".
Um dos temas das Conferências das Partes sobre Mudanças Climáticas (COPs) é justamente a necessidade de adaptação das cidades e operações para a contenção dos efeitos negativos das mudanças climáticas. Mas, de forma geral, os investimentos ainda não seguem essa premissa. "As empresas não estão 100% preparadas para a crise climática. Mas, as mais atentas, têm isto no planejamento estratégico", diz Pereira.
Exemplo disto ocorre também no setor público, uma vez que 64% da população do Rio Grande do Sul não tem cobertura de coleta de esgoto, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. "Os eventos climáticos estão ficando cada vez mais frequentes. Tanto o setor privado quanto o público precisam se adaptar, e aqueles que lançam iniciativas saem na frente", conclui.
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