ESG

Brazil Silicon Valley: é preciso diversidade para não gerar exclusão

Em entrevista exclusiva à EXAME, o ex-presidente da Microsoft e membro do Conselho da BSV Emilio Umeoka conta como a diversidade e inclusão permeiam o evento

Emilio Umeoka, da Brazil Silicon Valley
 (//Divulgação)

Emilio Umeoka, da Brazil Silicon Valley (//Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 10 de maio de 2022 às 09h35.

Última atualização em 10 de maio de 2022 às 14h08.

A Brazil Silicon Valley (BSV), conferência anual organizada por estudantes das Universidades de Stanford e Berkeley, chega a mais uma edição nos dias 16 e 17 de maio. Na ocasião, executivos, empresários, especialistas e formuladores de políticas brasileiras se unem para discutir temas relevantes para o desenvolvimento tecnológico do país. E, neste contexto, a diversidade e a inclusão se tornam necessárias para que haja uma evolução efetiva.

“É importante tratarmos o tema porque o avanço da tecnologia não pode gerar aumento de exclusão”, diz Emilio Umeoka, membro do Conselho da BSV e um dos líderes nas iniciativas de diversidade e inclusão na organização. Umeoka, que já foi presidente da Microsoft Brasil, tem passagens pela Apple e atualmente é investidor em iniciativas de impacto social, falou com exclusividade à EXAME.

Por que o senhor está investindo mais em ações ligadas à diversidade?

Estou no Vale do Silício há 11 anos, e aposentado há um ano. Então, há tempos acompanho a tecnologia e as movimentações locais, mas nesta nova fase estou mais focado em investir em startups com diversidade e inclusão. Além disto, voltei a estudar e estou na Universidade de Stanford com 30 pessoas que estão na minha fase de carreira e buscam uma redefinição de propósito, construção de nova comunidade, saúde mental, física e espiritual. Tudo isto olhando para si e para inovações sociais, o que me motivou a também assumir posições de liderança na BSV.

Além disso, a diversidade permeia toda a minha vida. Sou brasileiro, filho de japoneses, já morei nos Estados Unidos, Angola e Cingapura, onde trabalhei com times multiculturais. Nas multinacionais aprendi a focar em questões que vão desde equidade de gênero à experiência de vida.

Em uma das reuniões globais da Microsoft, por exemplo, o time da Ásia tinha que se apresentar e no grupo eram faladas 30 línguas diferentes. Agora, tenho a oportunidade de ajudar pessoas de grupos socialmente minorizados, seja investindo, trabalhando em conjunto ou oferecendo mentoria.

Por que é importante trabalhar a diversidade na BSV?

Comecei o trabalho com a Brazil Silicon Valey em setembro. Estamos falando de temas como inteligência artificial, futuro dos investimentos, vigilância, reconhecimento facial e mais. Ao abordar esses temas também estamos falando de diversidade. Em um filme chamado Coded Bias, por exemplo, é possível ver como um software só reconheceu uma pessoa preta quando ela vestiu uma máscara branca.

Já no Reino Unido a tecnologia pode gerar problemas de falso positivo para crimes até 35% das vezes quando para pessoas negras. Assim, é importante tratarmos o tema porque o avanço da tecnologia não pode gerar aumento de exclusão social.

Precisamos que a tecnologia inclua. Por exemplo, há startups do Brasil trabalhando para tirar vieses em processo de seleção e recrutamento. Isto é importante para que não se siga um padrão de contratações que priorize quem é igual por entender que este é o modelo da empresa. A perspectiva que buscamos é de como a tecnologia pode – e deve – causar impacto positivo na sociedade e o Brasil não pode ficar de fora disso.

Como o tema está estruturado na BSV?

A BSV faz a conscientização de que os problemas existem, busca promover discussões e painéis para que os investidores também incluam o tema na hora de escolher onde alocar seus recursos. Temos a consciência, no entanto, de que a evolução é um processo contínuo. Para isto, mapeamos participantes considerando as diversidades.

É importante pensar, por exemplo, que a Microsoft fala de equidade de gênero há anos, assim como o Tim Cook, presidente da Apple, tem um grande papel ao se assumir gay. Outro exemplo são as metas da Nasdaq -- há uma exigência que as empresas tenham dois diretores diversos, incluindo um que se identifique como mulher e outro como um grupo socialmente minorizado, como LGBTI+ ou negros – o que pode influenciar o mercado americano e de outros países.

A diversidade está cada vez mais na tecnologia e precisamos dar visibilidade às ações. Vejo que aos poucos estamos evoluindo, há dois anos era mais difícil encontrar startups lideradas por mulheres, por exemplo.

Haverá mais diversidade nesta edição da conferência?

Sim, buscamos mais diversidade para o time da organização, sendo que 36% da equipe é formada por mulheres, e entendemos que nos próximos anos podemos evoluir, assim como na representatividade de raça e pessoas com deficiência, por exemplo.

Entre os painelistas também buscamos pessoas diversas, mas por vezes temos algumas dificuldades com os aceites de convites. Todos são voluntários e brasileiros nas Universidades daqui, o que traz uma diversidade regional e de pensamento muito importante também.

A Brazil Silicon Valley

O evento já reuniu cerca de 70 palestrantes e mais de mil participantes. A 4ª edição da BSV contará com patrocinadores de diversos setores do mercado brasileiro, inovadores e incentivadores do crescimento tecnológico do país: Bank of America, BTG Pactual, Fundação Lemann, Google for Startups, Pinheiro Neto Advogados, SoftBank e Valor Capital Group.

O evento tem como finalidade melhorar a competitividade do Brasil por meio da inovação e da tecnologia, reunindo os mais influentes executivos, empresários, especialistas e formuladores de políticas brasileiros para discutir temas relevantes para o desenvolvimento do setor tecnológico do país.

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