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Brasil registra aumento de 79% na área queimada em 2024

Dados do MapBiomas divulgados nesta quarta-feira (22) revelam que 30,8 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo de janeiro a dezembro do ano passado e mais da metade está na Amazônia

A Amazônia foi o bioma mais afetado: foram 17,9 milhões de hectares queimados ao longo do ano, o que corresponde a mais da metade (58%) registrado em todo território brasileiro (Bruno Kelly/Amazonia Real/Divulgação)

A Amazônia foi o bioma mais afetado: foram 17,9 milhões de hectares queimados ao longo do ano, o que corresponde a mais da metade (58%) registrado em todo território brasileiro (Bruno Kelly/Amazonia Real/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 10h58.

Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 11h19.

Em um ano marcado pela seca extrema, 2024 registrou um aumento de 79% na área queimada e 30,8 milhões de hectares consumidos pelo fogo. É o que revelam os dados da plataforma do MapBiomas divulgados nesta quarta-feira (22): o crescimento foi de 13,6 milhões de hectares em relação a 2023 e o maior número desde 2019 no período da análise de janeiro a dezembro do ano passado. 

Em comparação, a área total perdida representaria mais do que todo território da Itália. Desta, três em cada quatro hectares (73%) foram de vegetação nativa, especialmente em formações florestais (25%).

A Amazônia foi a mais afetada: 17,9 milhões de hectares foram queimados, o que corresponde a mais da metade (58%). Apenas em dezembro, quand 1,1 milhão de hectares foram afetados em todo território brasileiro, o bioma amazônico representou 88% do total (964 mil hectares). 

Três estados também responderam por mais da metade (55%) das queimadas: Pará (7,3 milhões de hectares) ou 24% do total nacional, em seguida Mato Grosso (6,8 milhões) e Tocantins (2,7 milhões de hectares).

Vale lembrar que o programa BD Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também reportou um aumento de 46% nos incêndios em 2024, um recorde dos últimos 10 anos.  Mas enquanto estes se referem a focos de fogo causados de forma 'natural' ou pela ação humana, as queimadas são sempre intencionais e geralmente causadas por práticas agrícolas ou de manejo de vegetação. 

Luciana Gatti, cientista climática do Inpe e coordenadora do Laboratório de gases de efeito estufa, disse à EXAME, que o fogo acaba sendo usada como arma de desmatamento. 

"Muitas vezes é considerado acidental e é mais difícil de provar e responsabilizar quem o causou. No entanto, utilizando medições com avião, recebi em 2024 inúmeras fotos que mostram claramente que a queimada é planejada para desmatar. Isso torna a situação extremamente complicada", disse. 

Seca histórica e El Niño

Os pesquisadores do Mapbiomas explicam que a seca histórica no Brasil em 2024, influenciada pelo fenômeno do El Niño e agravada pelas mudanças climáticas, são os eventos associados ao aumento das áreas em chamas. Com a baixa umidade, a vegetação fica mais suscetível ao fogo.

Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, destacou que o ano foi atípico e alarmante para o país, com recordes em quase todos os biomas e especialmente em áreas florestais.  "Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações coordenadas e engajamento em todos os níveis para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana”.

Na Amazônia, o recorde foi impulsionado também por um regime de chuvas abaixo da média histórica. Felipe Martenexen, da equipe do MapBiomas Fogo, ressaltou que o fogo não é um fenômeno natural, mas sim causado pela ação humana.

"Um dado preocupante é que a classe de formação florestal foi a mais atingida, superando pela primeira vez as áreas de pastagens, que tradicionalmente eram as mais afetadas. Essa mudança no padrão de queimadas é alarmante, pois a floresta atingida torna-se mais suscetível a novos incêndios", disse. 

Outros biomas, novos recordes

No Cerrado, 9,7 milhões de hectares foram queimados, sendo que 85% (ou 8,2 milhões de hectares) ocorreram em áreas de vegetação nativa -- onde ocorreu um aumento de 47% em relação à média dos últimos 6 anos. Seu histórico geralmente evolui com queimadas naturais, provocadas por raios durante a época de chuvas. Mas o que foi observado pelos pesquisadores é um aumento expressivo do fogo em períodos de seca. 

Já o Pantanal, que teve o ápice da área queimada em agosto (648.796 hectares), registrou 1,9 milhão de hectares afetados pelo fogo. O número também representa um aumento de 64% em relação à média de 2019.

A Mata Atlântica teve 1 milhão hectares queimados entre janeiro e dezembro, sendo que 70% está em áreas agropecuárias. A maior parte aconteceu nos meses de agosto e setembro, reflexo dos incêndios que atingiram principalmente os plantios de cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Embora o fogo aconteça por lá majoritariamente em áreas antrópicas, esses eventos acabam atingindo também as naturais e preocupam pela escalada de prejuízos ambientais. 

Contrariando os demais, o Pampa registrou 3,4 mil hectares consumidos pelo fogo -- o menor valor dos últimos seis anos. 

Eduardo Vélez, da equipe do Pampa do MapBiomas, explica que o padrão de baixa está associado aos fortes efeitos do El Niño, que no sul do Brasil se manifesta de modo inverso. "Os grandes acumulados de chuva no primeiro semestre de 2024, quando notavelmente ocorreram as enchentes. Por outro lado, as condições favoráveis ao acúmulo de biomassa vegetal podem aumentar o risco de queimadas a partir de 2025 com a confirmação do La Niña, que provoca períodos de seca", explicou. 

Houve redução também na Caatinga, onde 330 mil hectares foram queimados, uma queda de 47% em relação ao mesmo período de 2023. Neste bioma, a maior parte (81,8%) das queimadas esteve concentrada em formações savânicas.

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