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Brasil pode ser um dos únicos países capazes de produzir hidrogênio verde a um custo bastante competitivo (Angel Garcia/Bloomberg/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 15h31.
O Brasil está em posição privilegiada para se tornar um dos principais produtores mundiais de hidrogênio verde (H2V), combustível considerado fundamental para a descarbonização de setores industriais de difícil transição energética. A conclusão é de um estudo recém-lançado pela EY-Parthenon, braço de estratégia e transações da EY, que identifica tanto o potencial quanto os obstáculos para o país conquistar protagonismo neste mercado em ascensão.
"O hidrogênio verde é considerado ainda mais relevante na busca pelo carbono zero, especialmente em setores que têm mais dificuldades de reduzir suas emissões, como a indústria pesada e o transporte de longa distância (aéreo, por exemplo)", explica Diogo Yamamoto, sócio da EY-Parthenon.
O Brasil reúne características ideais para liderar a produção global de H2V. O país possui matriz energética predominantemente limpa e sustentável, com previsão de crescimento nos próximos anos, o que o torna competitivo na precificação do hidrogênio verde.
De acordo com dados da BloombergNEF, o Brasil pode ser um dos únicos países capazes de produzir hidrogênio verde a um custo bastante competitivo de US$ 1,47 por quilo até 2030. Além disso, informações da International Energy Agency (IEA) mostram que o país é o terceiro maior investidor mundial em renováveis, representando 8% da produção de geração renovável global.
A capacidade energética instalada brasileira deve crescer 19% até 2030, com destaque para as fontes solar e eólica, que devem evoluir 171% e 103%, respectivamente.
Apesar das condições favoráveis, o estudo identifica quatro obstáculos principais que o Brasil precisa superar para não ficar para trás na corrida global, que inclui concorrentes como Austrália, Holanda e Reino Unido.
Planejamento energético nacional
O país ainda não possui uma estratégia clara para o hidrogênio verde no contexto de um planejamento energético nacional integrado. Isso atrasa o desenvolvimento de uma cadeia de valor competitiva capaz de atender demandas domésticas e globais.
"A estrutura atual da cadeia de valor do hidrogênio verde favorece a produção em larga escala para exportação em regiões específicas, mas ainda não está claro como distribuir competitivamente o H2V para zonas industriais e mercados no país, que tem extensão continental", observa Yamamoto.
Marcos regulatórios e políticas estratégicas
A ausência de regulamentação adequada representa um gargalo significativo. Enquanto países desenvolvidos já estabeleceram marcos regulatórios para promover a indústria do hidrogênio verde, o Brasil apresenta atraso nas políticas estratégicas focadas no fortalecimento da capacidade local.
"Não temos, por exemplo, nenhuma meta nacional de fabricação de eletrolisadores, que são as máquinas que quebram a molécula de água e consequentemente permitem a produção do H2V", destaca o executivo.
Adequação da infraestrutura
A adaptação da infraestrutura de portos e dutos para armazenamento e transporte do hidrogênio verde é outra necessidade urgente. Os gasodutos representam a opção mais econômica para distribuição local, mas a rede brasileira está concentrada nas áreas costeiras, dificultando o acesso a outros polos industriais.
Além disso, a distribuição de H2V exige gasodutos com especificações técnicas específicas que a malha atual não atende.
Fornecimento de energia renovável
O último desafio relaciona-se ao suprimento de energia renovável necessário para atender à demanda projetada de H2V em 2030. A eletrólise demanda alta capacidade energética, criando pressão adicional para expansão da produção eólica e solar.
"A produção de eletrolisadores aumentará a demanda por minerais críticos, e a transição para a eletrólise da água vai exigir o desenvolvimento de tecnologias adicionais, como a água de reuso e a eletrólise da água salgada", explica Yamamoto.
O estudo apresenta dois modelos potenciais para a estruturação da cadeia de valor do hidrogênio verde no Brasil:
Modelo descentralizado: Instalações de produção distribuídas em hubs espalhados pelo país, oferecendo maior flexibilidade no dimensionamento conforme demanda local e disponibilidade de recursos, além de reduzir perdas de transmissão.
Modelo centralizado: Instalações de produção em larga escala localizadas próximas a centros industriais e/ou fontes de energia renovável, otimizando eficiência de produção e distribuição.
"Esses dois modelos podem ser utilizados de forma orquestrada. A maximização potencial das demandas nacionais e internacionais exige planejamento estratégico da economia H2V e um modelo de cadeia de valor adaptado às necessidades únicas do Brasil", conclui Yamamoto.