Apoio:
Parceiro institucional:
Roberto Sallouti, do BTG Pactual: "Se dependermos apenas das ONGs e dos governos, não vamos resolver a urgência da restauração florestal. Precisamos encontrar soluções baseadas no mercado". (Brazil House/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 16h08.
Última atualização em 23 de janeiro de 2025 às 17h02.
*De Davos
Um chamado a mais para mobilizar US$ 10 bilhões em investimentos privados para a restauração florestal e bioeconomia até 2030. Nesta quinta-feira, 23, na Brazil House, em Davos, um painel com a presença do cientista Carlos Nobre, que é também membro do conselho do BNDES, e de Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, a Brazil Restoration & Bioeconomy Finance Coalition foi o grande tema na agenda do último dia de programação no espaço.
A coalizão foi anunciada no Brasil em novembro de 2024 para acelerar a conservação e restauração das florestas brasileiras, com meta de investimento conjunto de pelo menos US$ 10 bilhões até 2030 entre os membros. A urgência da iniciativa foi contextualizada por Carlos Nobre, pioneiro em alertar sobre o colapso da maior floresta tropical do mundo.
"A região está à beira do ponto de inflexão. E nos últimos dois, três anos, descobrimos que o cerrado brasileiro também está", alertou o climatologista, destacando que a estação seca no sul da região está cerca de seis semanas mais longa nos últimos 45 anos.
Carlos Nobre lembrou ainda que o BNDES lançou na COP28 o Arco da Restauração, projeto que visa restaurar 24 milhões de hectares até 2050, com meta intermediária de 6 milhões de hectares até 2030. "O custo é estimado em US$ 40 bilhões. Mas é factível, é possível", assegurou.
Fundamental para chegar à escala de investimentos para soluções baseadas na natureza, o papel da iniciativa privada foi abordado por Sallouti, que apresentou os resultados do primeiro fundo de reflorestamento do banco (TRF1), que combina silvicultura comercial com restauração de florestas nativas em terras degradadas e pastagens improdutivas.
O projeto, desenvolvido em parceria com a Conservation International — representada no painel por seu CEO, M. Sanjayan —, está próximo de alcançar US$ 1 bilhão e já realizou a maior transação de carbono e soluções baseadas na natureza, de US$ 500 milhões. "Quando este fundo estiver concluído, teremos plantado mais de uma árvore por brasileiro — mais de 200 milhões de árvores", celebrou o CEO do BTG.
Para alcançar a ambiciosa meta, o executivo detalhou que o modelo combina retorno financeiro com impacto ambiental: metade das áreas adquiridas é destinada à silvicultura comercial de eucalipto, com madeira voltada para a construção civil e mobiliário, atividades que mantêm o carbono estocado por mais tempo, diferentemente da produção de papel e celulose.
A outra metade é dedicada ao plantio de espécies nativas, gerando créditos de carbono de alta qualidade por incluir benefícios à biodiversidade e às comunidades locais. "Nossa ideia é atingir um retorno de dois dígitos em dólares. Em breve, vamos começar a levantar o TRF2, que é o segundo fundo de reflorestamento, e esperamos que possa ser mais de US$ 1 bilhão para que façamos outros 2%", explicou Sallouti.
M. Sanjayan observou que, neste momento, o Brasil reúne condições únicas para liderar globalmente a agenda de investimentos em natureza. "Isso foi possível aqui por uma interessante coalizão de fatores, de coerência política, com o governo estabelecendo metas claras; sofisticação financeira, com mercados disponíveis e investidores dispostos a assumir riscos iniciais; e a relevância global da Amazônia", explicou.
"Por muito tempo, os grupos de conservação só tinham duas ferramentas: usar dinheiro privado para fazer algo bom ou fazer lobby junto aos governos. Agora há uma ferramenta realmente nova, que é essa capacidade combinada de financiamento, para capital real desempenhar um papel na recuperação do planeta", concluiu o CEO da Conservation International.
O timing da coalizão é especialmente relevante considerando que o Brasil sediará a COP30 em 2025, na Amazônia. CEO do Instituto Clima e Sociedade e mediadora da conversa, Maria Netto salientou que estamos diante de "uma das conferências mais importantes desde Paris, há dez anos".
Em complemento, o professor Nobre destacou que além da restauração florestal a iniciativa pode impulsionar uma nova economia. "Estamos tentando desenvolver esta bioeconomia da biodiversidade social, um tremendo potencial econômico, em vez de pastagem para gado, centenas de produtos da biodiversidade."
As metas da iniciativa para 2030 incluem: mobilizar US$ 10 bilhões em investimentos privados, restaurar 5 milhões de hectares de floresta e direcionar pelo menos US$ 500 milhões para comunidades locais e indígenas. Segundo Maria Netto, a coalizão conta com o suporte técnico do Laboratório de Investimentos em Natureza no Brasil, que reúne cerca de 150 organizações entre desenvolvedores de projetos, gestores de ativos, banqueiros e ONGs para identificar e pilotar projetos de bioeconomia e restauração.
Head of Nature do Fórum Econômico Mundial, Jack Hurd, também presente ao painel, ponderou sobre a importância da colaboração entre diferentes setores — em linha com o macrotema desta edição do Fórum, em que muitas agendas foram dedicadas à colaboração em diversas esferas.
"Esta é exatamente o tipo de parceria público-privada-filantrópica necessária para abordar uma questão desta escala e na velocidade que precisamos ter. Tivemos colegas do governo dos Estados Unidos que ajudaram a iniciar isso, incluindo um anúncio do ex-presidente Joe Biden, e muita participação de ONGs como a Conservation International", disse Hurd.
A importância estratégica da coalizão se estende além da meta financeira. O momento é especialmente oportuno: às vésperas da COP30 em Belém, o país tem a chance de demonstrar na prática como a colaboração entre setores pode viabilizar uma economia que preserva e valoriza seus ativos naturais, beneficiando desde investidores globais até comunidades locais.