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Ameaça hídrica: a demanda por água deve saltar de 188,7 m³/s em 1970 para 1.553,5 m³/s em 2040, um aumento de oito vezes (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Jornalista
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 19h05.
Última atualização em 18 de novembro de 2025 às 19h10.
País-sede da COP30, o Brasil destina uma parte muito pequena dos seus recursos para a pauta ambiental.
Entre 2001 e 2022, os gastos federais com meio ambiente representaram apenas 0,26% do orçamento. Cerca de 30% dos municípios não têm infraestrutura básica para gestão ambiental.
O estudo GEO Brasil 2025: Estado e Perspectivas do Meio Ambiente reúne dados inéditos e análises científicas sobre a situação ambiental do país.
O levantamento, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conjunto com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com apoio técnico e financeiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi divulgado nesta terça-feira (18), em Belém, durante a programação oficial.
O estudo chama a atenção para desafios críticos e indica oportunidades para o Brasil liderar a transição para uma economia mais sustentável e, com as informações, busca subsidiar políticas públicas e negociações internacionais.
Com base na metodologia DPSIR (Forças Motrizes, Pressões, Estado, Impacto e Respostas), do PNUMA, o GEO Brasil 2025 traz um panorama das interações entre sistemas sociais e ambientais e identifica oportunidades para que o país avance rumo a uma economia mais sustentável.
A publicação aponta ainda que a poluição do ar provoca cerca de 51 mil mortes prematuras por ano e que somente 52,2% do esgoto gerado no país é tratado — índice que cai para menos de 20% na região Norte.
O avanço da agropecuária sobre ecossistemas nativos também é destaque: a área ocupada saltou de 187,3 milhões para 282,5 milhões de hectares entre 1985 e 2022, acompanhada por um aumento de 108% na comercialização de agrotóxicos.
Entre os problemas também está o aumento significativo de temperatura em biomas como Pantanal e Cerrado, que chegaram a 3 °C e 4 °C acima da média histórica, respectivamente.
Apesar da posição de destaque do Brasil em energia renovável, o setor energético se tornou mais intensivo em carbono, passando de 11,3% para 18,3% das emissões nacionais entre 2002 e 2023.
Durante a apresentação, a ministra Marina Silva, do MMA, afirmou que o estudo reflete a urgência do momento. “O documento mostra os conflitos e as oportunidades de um mundo que caminha para enfrentar os desafios da transformação ecológica, e que precisa garantir um futuro de baixo carbono, resiliente e eficiente, baseado na natureza e no uso sustentável dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos”, disse.
Para José Antônio Puppim, pesquisador da FGV EAESP e coordenador do FGV Earth, o relatório funciona como um chamado à ação. “O documento mostra, com base científica, onde estamos e quais caminhos precisamos seguir para integrar desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Essa visão é essencial para que o Brasil cumpra suas metas climáticas e aproveite seu enorme potencial de liderar a transição para uma economia mais sustentável”, destacou.
Beatriz Martins Carneiro, do PNUMA no Brasil, reforçou o alerta sobre recursos hídricos. “A combinação entre mudanças climáticas e desmatamento já está agravando a insegurança hídrica em diversas regiões do país. A demanda por água deve saltar de 188,7 m³/s em 1970 para 1.553,5 m³/s em 2040 — um aumento de oito vezes. São dados como esses que revelam a importância deste relatório e ressaltam a urgência de fortalecer a gestão integrada dos nossos recursos naturais”, afirmou.