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Guia de princípios éticos na negociação ajudar a orientar financiamento para transição justa e na velocidade necessária, segundo CEO da COP30 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 14 de agosto de 2025 às 18h14.
O primeiro passo foi dado na Conferência de Bonn, quando o governo brasileiro e a Organização das Nações Unidas apresentaram a criação do Balanço Ético Global (BEG). A iniciativa, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, busca integrar ética ao debate sobre o avanço das mudanças climáticas.
Agora, a pouco menos de três meses até a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a ministra do meio ambiente, Marina Silva, e a secretária-executiva e CEO da COP30, Ana Toni, apontam os caminhos até a implementação do documento em cada continente e as propostas para a crise climática com protagonismo do sul global.
“O BEG é um dos quatro círculos que a presidência da COP30 trouxe para o centro da governança. Temos quatro círculos: os povos, os presidentes e ex-presidentes, os ministros de finanças, e o quarto, o Balanço Ético Global. Esse último é um pilar fundamental para o sucesso da COP30”, explica Ana Toni.
Entre os temas-chave para o desenvolvimento desse mecanismo estão a governança, a manutenção do futuro sustentável, o financiamento climático, a transição energética justa e a escuta das vozes dos povos originários e comunidades indígenas.
O objetivo é que o balanço opere como uma bússola da governança tanto nas negociações quanto na agenda de ação até a COP30. Marina Silva compartilhou parte das dúvidas que direcionam o desenvolvimento do material. “Quais ações éticas deixaram de ser feitas para que chegássemos à emergência climática em que nos encontramos? O que precisa ser feito a partir da ética para dar maior celeridade a essa mudança, pensando em adaptação, mitigação, meios de implementação, do financiamento até a transição?”, questiona.
O BEG deve ser central nas discussões da Cúpula da Amazônia, reunião que discute os problemas do bioma, como desmatamento ilegal e o crime organizado. Na próxima semana, um diálogo regional acontece em Bogotá, discutindo temas como o aquecimento acima dos 1,5 °C. Além da América do Sul e Caribe, líderes globais de todas as regiões montam a sua estratégia para definir o regimento: reuniões devem acontecer na África, Ásia, Oceania, América do Norte, além da Europa, que já conta com um plano mais avançado.
O material final será apresentado para líderes, negociadores e tomadores de decisão, buscando que o material oriente as mudanças e ações exigidas na Conferência do Clima da ONU. “A Cúpula dos Líderes e a mobilização popular também fazem parte dessa estratégia, que nos ajudará a trazer princípios éticos para guiar e acelerar a implementação de decisões na COP”, conta Toni.
Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e co-líder do Diálogo da América do Sul e Central e Caribe, afirmou que a governança nas negociações vai separar um mundo habitável de um mundo afetado por perdas imensuráveis.
“Cada grau a mais representa famílias deslocadas, crianças crescendo em um mundo mais inseguro e desigual”, afirma.
A CEO da COP ainda comentou sobre o atraso dos países para a entrega das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), afirmando que os chefes de estado sabem bem das obrigações legais acerca da entrega das NDCs. “Ainda hoje, temos apenas 28 planos entregues, mas o balanço ético vai complementar essas obrigações legais com uma obrigação moral de todos nós, buscando mais ambição”, afirmou.
Sobre a dificuldade no financiamento, a ministra Marina Silva afirmou que vê o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) como uma solução para alcançar o US$ 1,3 bilhão necessário. “O programa não segue a lógica de pagamento para parar de desmatar, mas para pagar aqueles que preservam, já que essa é uma forma de dialogar com países em desenvolvimento que são detentores de florestas tropicais”, explica.
“Não podemos tratar desiguais como se fossem iguais, pois isso é injustiça. Governos e empresas têm maiores obrigações, atravessadas pela ética, que nos leva a dar maior suporte para enfrentar essas desigualdades”, conta a ministra.