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Izabella Teixeira, presidente do comitê global da Ambipar: "O Brasil tem a paz como um ativo e pode ser um provedor de soluções para o mundo" (Eduardo Frazão /Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 12 de junho de 2025 às 17h55.
Última atualização em 12 de junho de 2025 às 19h45.
"O mundo mudou e não estamos mais discutindo o clima como antes. O Brasil também precisa mudar", defendeu Izabella Teixeira, atual presidente do Comitê Global de Sustentabilidade da Ambipar e ex-ministra do Meio Ambiente, se referindo a um contexto global de negacionismo, Trump no poder nos Estados Unidos e insegurança energética reflexo de guerras em curso.
Uma das maiores referências brasileiras em política climática e ambiental do país, Izabella acredita que o país precisa abandonar velhas práticas e desenvolver uma nova governança climática que integre economia, inovação e a participação de atores para além dos governamentais: setor privado, financeiro e sociedade civil.
"Todos devem ter papéis bem definidos e estruturados para que se corresponsabilizem pela visão e resultados que desejamos alcançar enquanto nação. O Brasil ainda insiste no passado", destacou a executiva, em entrevista à EXAME.
Em fevereiro deste ano, a executiva também passou a ser uma das líderes do T30, uma iniciativa inédita na América Latina que busca conectar empresas e fomentar soluções climáticas, com foco no diálogo entre setor privado e organizações internacionais.
A nova governança proposta pela ex-ministra passa por superar o que ela chama de "miopia política" e construir soluções que considerem a natureza como "um ator político" que impactará cada vez mais a vida de todos nós. Para ela, o novo contexto global exige "repensar a estratégia".
Líder em energias renováveis e com abundância em minerais críticos e recursos naturais, o Brasil se posiciona como um grande provedor de soluções verdes para o mundo. Segundo Izabella, é preciso olhar ativamente para a economia e descarbonização.
"Devemos fazer escolhas sobre nosso futuro. Será eletrificação na mobilidade? Vamos continuar com biomassa no agro?", exemplificou. "Estamos numa posição única, e além disso temos a paz como ativo, o que gera um leque de oportunidades", complementou.
Com a COP30 à vista em Belém do Pará, Izabella acredita que não se deve entender a conferência do clima como apenas um evento, "mas sim como um novo processo para mudar a escala de ambição do mundo em relação à questão climática".
Para a executiva, o legado brasileiro da COP30 será provocar o debate mundial sobre a transição da terra.Enquanto o norte global se volta para a transição energética, o país já é exemplo em renováveis e tem como sua maior fonte de emissões a gestão e uso do solo, o que exige soluções específicas que contribuam para a preservação dos recursos naturais e mitigação de carbono.
"Toda a discussão sobre desmatamento ilegal deveria acabar em 2030", disse. Esta, inclusive, é uma das metas-chave contempladas na nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) apresentada pelo governo federal e que traz uma série de compromissos firmados para que o Brasil chegue a uma redução de até 67% nas emissões até 2035.
A estratégia proposta pela ex-ministra vai além das questões ambientais tradicionais. Ela identifica o combate ao crime organizado como uma discussão de estado fundamental e destaca a existência de uma "cadeia produtiva dependente economicamente da ilegalidade" que precisa ser enfrentada, especialmente no bioma amazônico.
"Se aquecer a Amazônia, a Califórnia também esquenta. É bom entender as implicações locais, até para saber em que e onde investir", acrescentou a executiva.
Além de ser berço de soluções verdes, Izabella reforça que a paz é um ativo competitivo para o Brasil e deve ser visto como potencial econômico -- mesmo com todos gargalos em segurança pública.
"Todas as questões climáticas exigem escala. Estamos falando de economia e inovação", pontua, rejeitando o que chama de "discursos de tragédia".
"Eu não acredito em nada movido pelo medo. Nada que você queira movimentar consegue trazer a racionalidade para a ação", disse.
Seu recado final é um chamado à responsabilidade coletiva, em um mundo em constante mudança. "Hoje, todos nós somos atores da transformação. Olhem o Brasil não por quem quer empobrecê-lo, mas sim por quem quer torná-lo melhor no futuro. Não o terceirizem", finalizou.