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Brasil anuncia US$ 1 bilhão em lançamento de Fundo para Florestas Tropicais em Nova York

Mecanismo financeiro prevê mobilizar US$ 125 bilhões para remunerar países que mantêm florestas em pé e deve começar a operar na COP30, em Belém do Pará

O Brasil abriga a maior parte da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia (Andre Dib/Pulsar)

O Brasil abriga a maior parte da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia (Andre Dib/Pulsar)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 17h36.

Última atualização em 24 de setembro de 2025 às 12h41.

"O TFFF não é caridade. É um investimento na humanidade e no planeta, contra a ameaça de devastação pelo caos climático."

Com essa declaração, o presidente Lula anunciou oficialmente, durante reunião paralela à Assembleia Geral da ONU em Nova York, o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)e anunciou um aporte inicial de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões)

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou o protagonismo brasileiro e disse que o investimento é sobre "liderar pelo exemplo".

O mecanismo de financiamento remunera países que são detentores de ecossistemas florestais e atuam em prol da proteção ambiental, e deve começar a operar durante a COP30, grande conferência climática da ONU, em Belém do Pará.

Lula reforçou que a decisão de sediar a COP no coração da Amazônia veio da urgência de inserir a preservação de florestas no centro dos debates sobre clima e "a partir da perspectiva do Sul Global".

"Em Belém viveremos o momento da verdade para a nossa geração de líderes", declarou Lula, convidando a comunidade internacional a apresentar contribuições ambiciosas para o fundo.

A expectativa é mobilizar US$ 125 bilhões, com pagamentos de US$ 4 por hectare de floresta preservado.

Desenvolvido com o Banco Mundial e organizações internacionais, o grande objetivo é oferecer incentivos econômicos reais para a conservação.

As bacias da Amazônia, do Congo e de Bornéu-Mekong, que concentram 80% das florestas tropicais remanescentes do planeta, serão priorizadas. Essas regiões prestam serviços ecossistêmicos essenciais, abrigando as maiores reservas de água doce do mundo, protegendo o solo, armazenando oxigênio e absorvendo gás carbônico, esclareceu Lula.

"Mais do que proteger um bioma específico, o TFFF é um mecanismo para preservar a própria vida na Terra", enfatizou o presidente brasileiro, destacando que a degradação comprometeria o equilíbrio climático global de forma irreversível.

"Quando as florestas tropicais atingirem seus pontos de não retorno, os efeitos dessa catástrofe não serão sentidos apenas em Belém, Kinshasa ou Jacarta", acrescentou.

Como funcionará o fundo

O TFFF adotará um modelo misto de financiamento, com aportes iniciais de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os dividendos gerados serão distribuídos anualmente entre os investidores e os países que mantiverem suas florestas em pé.

Segundo Marina Silva, se trata muito mais do que apenas um mecanismo financeiro: "é um instrumento catalisador capaz de mobilizar capital em escala (sem precedentes) e fortalecer a cooperação internacional". 

O monitoramento será feito por satélite, permitindo verificar se os países estão cumprindo a meta de manter o desmatamento abaixo de 0,5% ao ano.

A remuneração poderá chegar a até US$ 4 por hectare preservado. Segundo o governo brasileiro, o valor tem potencial transformador quando aplicado aos 1,1 bilhão de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento.

O fundo já conta com o apoio dos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, após aprovação obtida em reunião realizada em Bogotá no mês passado.

Justiça social e desenvolvimento sustentável

Uma parcela significativa dos recursos será direcionada aos povos indígenas e comunidades locais, reconhecendo seu protagonismo na conservação das florestas. O fundo articula uso sustentável dos recursos ecossistêmicos e justiça social, destacou Lula.

As instâncias decisórias do TFFF contarão com representação equilibrada entre países investidores e países detentores de florestas tropicais, além da participação da sociedade civil e especialistas para avaliação e aprimoramento contínuo do mecanismo.

Países e organizações participantes

O lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) contou com ampla participação internacional. Entre os países presentes, estão aqueles detentores de importantes ecossistemas florestais como Guyana, Colômbia, Madagascar, Honduras, Camboja, Indonésia, Guiné Equatorial, República do Congo, Angola, Nigéria, México, Gana, Malásia e Equador.

Nações desenvolvidas também marcaram presença, incluindo Reino Unido, Alemanha, Noruega, França, Dinamarca e Irlanda, além da China e dos Emirados Árabes Unidos.

O evento também contou com representantes de organizações internacionais Banco Mundial, União Europeia, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep) e organizações da sociedade civil como a Aliança Global de Comunidades Territoriais e a Wildlife Conservation Society.

Reações ao anúncio

A The Nature Conservancy (TNC) reagiu ao anúncio e destacou que o Brasil pode alcançar um avanço expressivo nesta COP com o compromisso que impulsiona esse inovador mecanismo financeiro e pode representar a principal marca da conferência de Belém.

"Sua meta de destinar pelo menos 20% dos recursos comunidades locais promete estabelecer um novo patamar para os fundos ambientais e vai além, refletindo a visão da presidência de sediar a COP do clima mais inclusiva até hoje", escreveu. 

Maurício Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional (CI-Brasil), afirmou que o TFFF traz concretude para os avanços necessários no combate aos principais desafios ambientais que a humanidade enfrenta. No entanto, a conservação das florestas sempre esbarrou na falta de recursos financeiros suficientes. 

"Com sua abordagem inovadora, o fundo pode mudar esse cenário, por meio de recursos de governos, bem como investimentos do setor privado. E com um diferencial importante: a garantia de que chegue até iniciativas que beneficiem diretamente as populações originárias", disse.

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o Brasil está mirando nos problemas certos e a proposta atual é promissora. "O mesmo vale para os mercados de carbono: integrar e avançar faz sentido. Ou seja, o diagnóstico e os instrumentos são interessantes. Mas falta aplicar essa mesma criatividade e inovação à transição para longe dos combustíveis fósseis", alertou.

O WWF-Brasil também celebrou o investimento afirmou ser um 'passo decisivo no financiamento da natureza e do clima'.

"O fundo tem potencial para se tornar um dos grandes legados da COP30. Com o aporte do governo brasileiro, esperamos agora que outros países façam a sua parte e mobilizem", concluiu Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.

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