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Blended finance, cidades verdes e protagonismo indígena: os principais debates da SW24

Semana da sustentabilidade do BID Invest contou com painéis sobre como envolver setores públicos e privados nas melhorias econômicas e ambientais da Amazônia

Almir Narayamoga Suruí, líder indígena do povo Paiter Suruí, de Rondônia, discursando sobre como elevar as ações sustentáveis e defendeu o protagonismo indígena no debate ambiental (BID Invest/Divulgação)

Almir Narayamoga Suruí, líder indígena do povo Paiter Suruí, de Rondônia, discursando sobre como elevar as ações sustentáveis e defendeu o protagonismo indígena no debate ambiental (BID Invest/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 15 de junho de 2024 às 08h00.

De Manaus*

Representantes dos governos, empresas e sociedade civil se reuniram em Manaus, na última semana, para discutir diferentes soluções verdes e mecanismos de financiamento para as práticas de sustentabilidade. O evento, Sustainability Week, promovido pelo BID Invest, braço de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), reuniu mais de 800 pessoas e teve a cobertura da Exame.

Na abertura, James Scriven, gerente geral do BID Invest, apontou que a ideia é escalar o impacto que já é feito na região. “Manaus é uma cidade como nenhuma outra, tanto em águas, biodiversidade e sustentabilidade. A ideia é que ao longo dos próximos dias todos possam aprender, ouvir e trocar ideias do que poderia estar acontecendo neta região, além de permitir a cocriação em um espaço único”, afirma.

Já durante o segundo dia da Sustainability Week 2024, realizada em Manaus, o papel da união entre ações públicas e privadas foi destaque. Entre os temas debatidos, há destaque para os investimentos e finanças necessárias para movimentar as ações ambientais e como incentivar a movimentação de capitais no setor financeiro.

Um dos painéis realizados durante o dia abordou o papel da blended finance no desenvolvimento econômico sustentável da Amazônia. A modalidade, chamada de financiamento misto, reúne investimentos de diferentes fontes, como públicas, de fomento, filantrópicas e capital privado para financiar projetos com foco ambiental, social ou de desenvolvimento socioeconômico.

Fernanda Camargo, sócia-fundadora da Wright Capital Wealth Management, apontou que embora o mercado de capitais ainda fale muito de atingir escala para projetos, como em clima e energia, o Brasil ainda precisa estabelecer o equilíbrio ambiental a partir dos investimentos. “Embora garantir escala envolva valores maiores, a regeneração de sistemas florestais é essencial, mas como leva muito tempo e detalhes, o mercado de capitais ainda não investe ne restauração florestal”, explica.

“Já avançamos muito ao unir finanças e meio ambiente nos últimos anos, mas precisamos de mais delicadeza e ouvir pequenos produtores, na ponta da produção. O mercado financeiro ainda não entrou nesse quesito”, aponta Camargo.

Andre Carvalhal, diretor de fundos de crédito e blended finance do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), aponta que um dos desafios da maior aceitação do modelo é a visão de que adquirir financiamentos misto é algo complicado. “Por ser uma agenda nova, a blended finance ainda é um sinônimo de demora e dificuldade. A gente tem que facilitar e simplificar os processos para que a modalidade seja vista como uma estrutura mais simples, além de regular as operações e garantir benefícios regulatórios para destravar as discussões no âmbito do meio ambiente”, apontou.

Elevar discussão a nível global

Já no terceiro dia do evento, os anúncios do presidente do BID, Ilan Goldfajn, movimentaram o evento. Entre as novidades, o BID trouxe uma atualização quanto ao apoio a reconstrução no Rio Grande do Sul, a criação de um título de dívida focado no desenvolvimento sustentável na Amazônia e o lançamento do Tambaqui Tanques, projeto de desenvolvimento de negócios inspirado no Shark Tank.

No início do dia, o presidente discursou sobre como a união entre setores público e privado podem ajudar a Amazônia. “Não vamos atingir o impacto e escala que queremos sem o setor privado, nem conseguir criar as condições para que a região consiga se desenvolver aliada à natureza”, aponta.

Almir Narayamoga Suruí, líder indígena do povo Paiter Suruí, de Rondônia, discursou sobre como elevar as ações sustentáveis e defendeu o protagonismo indígena no debate ambiental. “A agenda global precisa estar centrada no território indígena, mas nós não somos chamados para o debate. Quantos indígenas estão nessa plateia?”, perguntou, ao que apenas duas pessoas levantaram as mãos.

“Espero por um futuro que a maioria que apresente soluções para a Amazônia e para a sustentabilidade sejam indígenas. Isso precisa avançar, porque ainda existe muito preconceito, mas nós somos parte fundamental para compartilhar conhecimento e contribuir para as decisões”, explicou.

O painel também contou com a presença de Ana Fontes, fundadora de Rede Mulher Empreendedora. Na presidência do W20, grupo de mobilização de gênero do G20, ela explica que adicionou como prioridade na atuação o combate aos efeitos das mudanças climáticas entre as mulheres, pessoas negras e grupos indígenas e originários.

“O que falta mais avançarmos é assumir riscos. Quando fundei a RME, há 14 anos, buscava dar autonomia financeira para empreendedoras, que tem menos acesso a capital e crédito. Fizemos programas de microcrédito para mulheres, uma aposta, mas que deu muito certo para os negócios delas. A jornada nem sempre é linear ou fácil”, aponta.

Cidades verdes

Os painéis também debateram os desafios para garantir cidades mais sustentáveis. Os especialistas debateram como chegar a uma adaptação das cidades, momento crítico pelo aumento das pessoas nos locais urbanizados e o aumento da vulnerabilidade às questões climáticas.

Para Paula Carvalho, diretora na consultoria Sustainable Fitch, os maiores desafios são nos setores de transporte, construção civil e gestão de resíduos. “Em transporte, o desafio é descarbonização, assim como garantir veículos mais elétricos, transportes públicos acessíveis nos grandes centros urbanos e periferias; o setor mobiliário tem como desafio o aumento da eficiência energética na promoção de construções sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas; na gestão de resíduos, o cenário é pior na América Latina: 80% do lixo vai para aterro, então precisamos de incentivos para a reciclagem”, aponta.

Promovido pelo BID Invest, braço de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Sustainability Week aconteceu de 11 a 13 de junho em Manaus e reuniu mais de 800 investidores, empresários e especialistas no debate pelo desenvolvimento sustentável.

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