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Bioeconomia pode movimentar R$ 765 bilhões por ano até 2032, diz estudo

Modelo de desenvolvimento sustentável é agenda prioritária do Brasil na COP30 e setor de alimentos desponta com o maior potencial, segundo análise da Câmara Internacional de Comércio (ICC)

A Amazônia, berço da COP30, tem na bioeconomia o principal motor do seu desenvolvimento (iStock/Thinkstock)

A Amazônia, berço da COP30, tem na bioeconomia o principal motor do seu desenvolvimento (iStock/Thinkstock)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 7 de agosto de 2025 às 17h00.

Última atualização em 7 de agosto de 2025 às 17h38.

Uma das grandes apostas da COP30, a bioeconomia se consolida como agenda prioritária do Brasil e traz uma oportunidade bilionária de movimentar entre US$ 100 a US$ 140 bilhões (R$ 765 bilhões) por ano até 2032.

É o que revela um novo estudo lançado pela Câmara Internacional de Comércio (ICC) durante a Semana do Clima de São Paulo, em parceria com as consultorias Systemiq e Emerge e com apoio de empresas como Itaú, Natura e Nestlé, além do Ministério do Meio Ambiente.

O objetivo é trazer um "roadmap" para que o país transforme sua rica biodiversidade em soluções verdes de alto valor agregado em cinco setores estratégicos: alimentos, materiais, agronegócio e saúde animal, farmacêutico e cosméticos.

Embora este modelo sustentável geralmente seja associado à produção de alimentos, a secretária nacional de bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente, Carina Pimenta, disse à EXAME que o diferencial da nova análise é justamente "sair dos setores mais óbvios" e trazer para a discussão o "campo do conhecimento", que é impulsionado pela ciência e tecnologia para agregar valor a partir de recursos naturais.

"Os dados colocam uma lente que ninguém enxerga e propõe olhar para as cadeias não usuais. O que é uma enzima? Um processo produtivo? Uma molécula? É um mercado gigante e que tem como foco a inovação", destacou a secretária.

Outro destaque é a proposta de expandir o tradicional modelo de inovação da tríade (governo, universidades e empresas) para uma "hélice sêxtupla que inclui também investidores, sociedade civil e a própria natureza".

Segundo Daniel Pimentel, da Emerge, o estudo também traça caminhos concretos e revela um horizonte promissor e otimista para destravar o potencial brasileiro, desde que haja ação coordenada para implementar as estratégias.

Cinco setores-chave como "motores de crescimento"

O setor de alimentos desponta como o maior potencial, podendo gerar entre US$ 40 e US$ 50 bilhões até 2032. A estratégia inclui soluções como fermentação de precisão e revalorização de resíduos agroalimentares para criar ingredientes funcionais de maior valor nutricional.

Na área de materiais, o Brasil pode liderar o desenvolvimento de produtos circulares e biodegradáveis, movimentando entre US$ 20 e US$ 30 bilhões anuais. Isso inclui inovações em bioplásticos, embalagens compostáveis e madeira engenheirada.

O agronegócio e saúde animal, apoiado pela expertise da Embrapa, tem potencial para gerar entre US$ 18 e US$ 25 bilhões, focando em soluções biológicas que reduzam a dependência de insumos químicos.

No setor farmacêutico, instituições como Fiocruz e Butantan podem impulsionar um mercado de US$ 12 a US$ 20 bilhões, especialmente através da bioprospecção de plantas medicinais e produção local de ingredientes farmacêuticos ativos.

Já os cosméticos podem movimentar entre US$ 8 e US$ 12 bilhões, consolidando o Brasil como fornecedor global de bioativos sustentáveis.

COP30 é vitrine global

Com a COP30 se aproximando e o crescente interesse global por soluções verdes, o Brasil desponta com uma oportunidade única de liderar a agenda de bioeconomia pelas suas vantagens comparativas únicas.

"Vamos levar não só uma visão brasileira, mas também como entendemos o desenvolvimento de comunidades tradicionais", destacou Marcelo Behar, enviado climático da COP30 para bioeconomia, durante o lançamento do estudo.

A estratégia brasileira para a COP em Belém focará em três pilares: o Tropical Forest Finance (TFF), uma proposta de fundo de R$ 125 bilhões para manter 4,5 milhões de hectares de floresta em pé; o Earth Investment, iniciativa para canalizar investimentos privados em biotecnologia; e a ampliação de grandes ações de restauração já em curso, propostas por empresas de mercado de carbono como a Re.green e Mombak.

"Entendemos que as comunidades tradicionais preservam 80% da biodiversidade e precisam ser remuneradas pelos serviços ecossistêmicos que prestam", disse o enviado climático. "Biotecnologia também será um grande pilar, visto que temos instituições renomadas que precisam ganhar escala industrial em vários setores", complementou.

Felipe Faria, da Systemiq, também destacou o potencial do que chamou de "nova revolução verde": "É uma chance de mostrarmos ao mundo como transformar conhecimento em prosperidade e biodiversidade em soluções".

A Amazônia, berço da COP30, é o bioma em que o modelo é mais urgente, ressaltou Carina. "Grande parte da estratégia de desenvolvimento sustentável da região recai na bioeconomia", explicou.

Os especialistas entendem que o desafio agora é superar os gargalos identificados e coordenar ações entre todos os atores do ecossistema.

Os três "vales da morte" que travam a inovação

O estudo identifica três desafios críticos, denominados "vales da morte da inovação", que impedem o Brasil de deslanchar na bioeconomia.

O primeiro, é o "Vale da Morte Tecnológico", que ocorre quando tecnologias em estágio inicial não conseguem superar a distância entre pesquisa aplicada e protótipo funcional.

Em seguida, o "Vale da Morte do Escalonamento" acontece quando inovações não encontram infraestrutura para validação industrial e produção em escala.

Já o "Vale da Morte da Comercialização" impede a inserção competitiva de produtos no mercado devido a barreiras regulatórias, financeiras e de demanda.

"A percepção de risco ainda é elevada e isso acaba tornando a cadeia de financiamento mais difícil", destacou Carina Pimenta.

Plano nacional em construção

A Estratégia Nacional de Bioeconomia, estabelecida em junho de 2024 por decreto, representa um marco na política ao definir a bioeconomia como "modelo de desenvolvimento baseado em justiça, ética e inclusão".

Para Carina, "o objetivo central é que as economias que usam a sociobiodiversidade sejam o coração e parte integral de desenvolvimento de país (não só de um setor ou outro)" e "coloquem a pauta no centro da ação climática". 

Em junho de 2025, um ano após sua criação, o governo brasileiro abriu consulta pública para instituir o plano nacional.

Segundo a secretária, a abordagem integrada é essencial porque "para termos sucesso, precisamos cuidar de alguns elementos. É o que o plano se propõe: não dá para se priorizar tudo, mas é possível construir as bases em setores competitivos em 10 anos", enfatizou.

Cinco eixos para destravar a bioeconomia

Para superar esses desafios, os especialistas propõem cinco eixos de ação:

  1. Fortalecer a base científica: ampliar em 10 vezes o mapeamento genético de microrganismos da biodiversidade nacional;
  2. Consolidar o ecossistema de inovação: aumentar em 20 vezes o número de startups de base tecnológica em bioeconomia;
  3. Criar condições de mercado: ampliar em 10 vezes a participação da biotecnologia na economia global;
  4. Fortalecer a regulamentação: padronizar a Lei da Biodiversidade e criar taxonomia específica para o setor;
  5. Criar arquitetura financeira integrada: integrar subvenção econômica, crédito, equity e incentivos fiscais;

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