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Belém em festa: Círio de Nazaré prepara a cidade para a COP30 e projeta a Amazônia ao mundo

Celebração religiosa e cultural reúne quase 3 milhões de pessoas neste fim de semana, impulsiona inauguração de obras culturais e é ensaio logístico para a maior conferência climática do planeta

O Círio de Nazaré, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, reúne milhões de fiéis em uma manifestação que é religiosa, cultural e social

O Círio de Nazaré, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, reúne milhões de fiéis em uma manifestação que é religiosa, cultural e social

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 18h00.

Última atualização em 10 de outubro de 2025 às 19h05.

*De Belém do Pará 

A um mês da grande conferência do clima da ONU (COP30), Belém do Pará vive um outubro de celebração e transformações.

De um lado, as ruas e praças fervilham com a programação do Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações religiosas do mundo, enquanto do outro a cidade vibra com a movimentação de obras e estruturas que se tornarão grandes legados da COP. 

Mercado Brás, inaugurado em Belém

Mercado São Brás abiu as portas na quinta-feira (9) (Edivaldo Sodré/Agência Pará)

Em uma corrida contra o tempo, a capital paraense ganhou nesta semana duas das maiores entregas previstas pelo governo e que também prometem movimentar ainda mais os quase 3 milhões de fiéis durante a festa: o Complexo Porto Futuro II e o Mercado de São Brás, ambos com o propósito de serem polos culturais, gastronômicos e turísticos e reposicionarem o Pará no mapa da economia criativa e da sustentabilidade.

Complexo Porto Futuro

O ciclo de entregas do Complexo Porto Futuro II foi entregue na quarta-feira (8) (Raphael Luz/Agência Pará)

O movimento de transformação cultural da cidade ganha reforço com a inauguração do Centro Cultural do Banco da Amazônia, com investimento de R$ 20 milhões. O novo espaço passa a integrar o circuito que já engloba o Theatro da Paz e o Cine Olympia, o cinema mais antigo em funcionamento no Brasil. Entre as primeiras atrações, recebe a exposição sobre Nelson Mandela, ícone da luta contra o regime racista do apartheid.

Já o Museu das Amazônias, dentro do Porto Futuro, abriu as portas no sábado, 4, e reúne conhecimento científico e saberes tradicionais do bioma. 

Enquanto a expectativa é que mais de 70 mil pessoas de diversas partes do mundo venham para a Círio, o maior evento de clima global deve reunir 50 mil participantes em novembro e terá neste fim de semana[grifar] "um teste de fogo logístico e de infraestrutura" rumo à COP.[/grifar]

Segundo o governo do Pará, a cidade recebe anualmente um alto fluxo de visitantes na procissão e neste ano há um aumento expressivo no número de voos e na ocupação da rede hoteleira.

Na avenida central Presidente Vargas, que abriga a Praça da República, assim como na Avenida da Nazaré onde termina a procissão, hotéis como Princesa Louçã, Grão Pará e o Grand Mercure são os mais procurados pelos visitantes que desejam ter uma visão privilegiada e estão 100% lotados há meses.

"Atualmente, o Círio de Nazaré mobiliza uma complexa estrutura de gestão pública que envolve segurança, saúde, mobilidade urbana, serviços públicos e transporte aéreo, exigindo articulação entre diferentes esferas de governo e instituições", disse em nota.

Em 2025, carrega um simbolismo que dialoga diretamente com a proximidade da COP30. O tema escolhido para este ano, "Maria, Mãe e Rainha de toda a Criação", amplia a devoção para além do aspecto religioso e a conecta ao cuidado com a vida e o meio ambiente.

A escolha não é casual: a expressão remete à natureza amazônica, aos rios que alimentam comunidades ribeirinhas, à floresta que abriga povos tradicionais e memórias ancestrais.

"A conexão entre os dois megaeventos é que eles reforçam e explodem a cultura paraense em todas as suas formas: na alegria, na religiosidade, na mistura de tudo que nos leva a uma fé feliz e inclusiva", destacou à EXAME Fafá de Belém, cantora e fundadora da Varanda de Nazaré.

A ativista também luta diariamente para driblar estereótipos e projeta a Amazônia e seus povos para o mundo.

"Muitos pensam que somos só floresta. Claro, há uma floresta fabulosa, mas muitas pessoas vivendo nela. Quando chega outubro, todos somos iguais, e quem dera fosse sempre assim. O que queremos de legado para a COP é que nós paraenses, sejamos tratados com igualdade e que isso perdure", disse.

Fé que move milhões 

No coração histórico, entre a Estação das Docas e o tradicional Mercado Ver-o-Peso, o movimento do Círio toma conta de cada esquina e o comércio espera faturar ainda mais em suas tradicionais lojas e feiras que vendem desde velas, fitas, imagens de Nossa Senhora de Nazaré, camisetas e os tradicionais lenços brancos da romaria, até itens tradicionais da culinária e artesanato da região.

Reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o evento reúne os milhões em procissões terrestres, fluviais e motorizadas em toda a cidade. 

Ao todo, são 14 procissões e romarias previstas nos próximos dias, sendo a mais longa delas nesta sexta-feira, 10, quando os devotos percorrem mais de 50 quilômetros passando por três cidades da região metropolitana: Belém, Ananindeua e Marituba.

O ápice é no domingo, 12, quando milhares terminam o trajeto da Catedral da Sé até a Basílica Santuário de Nazaré. 

Durante os dias que antecedem, o clima é de intensa programação na cidade. No sábado, a Romaria Fluvialcom barulhentos jet skis, lanchas e embarcações maiores cruzam a Baía do Guajará, desembarcando a Santa por volta das 11hs no porto de Belém.

Moto-romariacom seu barulho ensurdecedor, reúne cerca de 15 mil motociclistas na praça Pedro Teixeira e saem em cortejo por volta das 11h30 até o Colégio Bittencourt.

No fim da tarde, ocorre a  Trasladação em direção a Catedral da Sé. O caminho é iluminado pelas velas carregadas pelos fiéis. Esse é o melhor momento para ver a Santa mais de perto, principalmente na Praça Frei Galvão, em frente à Catedral.

No domingo, para acompanhar a procissão perto da corda que conecta os fiéis à imagem da santa, é preciso madrugar. Às 5h30, uma multidão de fiéis já se aglomera em frente à Catedral para assistir à missa.

Quando a procissão inicia, os mais fervorosos e corajosos formam um cordão humano em toda a extensão da corda e mal encostam os pés no chão, sendo levados no corpo a corpo por outros fiéis.

Ao som de cânticos religiosos, fiéis seguem descalços, carregam pesadas cruzesréplicas da santa ou objetos que remetem a alguma graça alcançada. Nessa imensidão humana, ver pessoas saindo em macas do meio da romaria é comum devido a alta temperatura e a aglomeração dos fiéis até Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.

A imagem fica exposta por mais uma semana na Praça do Santuário, em frente à Basílica de Nazaré, mas a festividade só termina 15 dias depois, com o chamado Recírio.

Nesta última procissão, os fiéis se despedem da Santa e a imagem volta para sua "casa" : o altar da Basílica de Nazaré, até o próximo Círio.

Tradição e gastronomia: o sabor do Círio

O Círio também se vive à mesa. Os preparativos já tomam conta das cozinhas e das ruas. O fogão aceso não descansa, sai a panela de maniçoba, entra o pato no forno, logo é a vez do jambu refogar para o tucupi, e, nesse vai e vem de panelas, o perfume da culinária paraense anuncia a chegada de familiares e amigos para a celebração. 

No domingo, famílias inteiras se reúnem para o tradicional almoço, enquanto visitantes se rendem à gastronomia paraense, considerada uma das mais ricas do país. 

Os salgados da Portinha e o catado de caranguejo do Bar do Rubão são sucesso no paladar paraense. Restaurantes mais sofisticados como o Celeste,  Restaurante do Saulo e Puba também são paradas obrigatórias. Entre uma experiência e outra, nada melhor que um sorvete da Cairu ou da Blaus para refrescar. 

Quem busca experiências autênticas junto à floresta, pode atravessar o rio Guamá até a Ilha do Combu.

O restaurante Saldosa Malocaum dos mais tradicionais da ilha, tem uma gigantesca sumaumeira de 400 anos no terreno atrás do restaurante, Boá na Ilha possui um deck com queda d’água e inaugurará em breve e hospedagem em chalés. Não deixe de experimentar também os chocolates da Dona Nena na Casa de Chocolates Filha do Combu, famosa pela visita do presidente francês Macron

Os brinquedos de miriti, confeccionados com o leve caule da palmeira de mesmo nome, também marcam presença nas ruas e feiras — relíquias artesanais que sintetizam a beleza e a leveza do Círio.

Música, arte e aparelhagens: a alma cultural de Belém

A cena musical paraense também tem ganhado protagonismo no país marcando presença em em grandes festivais como a última edição do The Town.

Para conferir de perto às quintas-feiras, no Espaço Cultural Apoenaembalados pelo som de Félix Robattoanimados dançarinos lotam a pista animados pelo carimbó e a guitarrada. 

As aparelhagens, como Crocodilo e Carabao, transformam o lazer popular em shows de luz, som e identidade regional

Nomes como Dona Onete, Gaby Amarantos, Fafá de Belém, Jaloo, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro (que recentemente teve sua obra musical declarada como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará), reafirmam o protagonismo paraense na música brasileira.

Varanda de Nazaré: 15 anos projetando a Amazônia para o mundo

Criada em 2010 por Fafá de Belém, a Varanda de Nazaré nasceu como espaço de acolhimento durante o Círio e se consolidou como palco privilegiado de expressão amazônica.

Mais do que um evento cultural, a Varanda se tornou lugar de encontro e escuta, onde fé, arte e política se cruzam.

A edição de 2025 celebra essa trajetória com o tema "Verde VagoMundo", título inspirado na obra do escritor e militante paraense Benedicto Monteiro. A escolha sintetiza a proposta de pensar a Amazônia como território vivo, plural e inquieto, que não se encerra em fronteiras geográficas.

"Verde" remete à floresta e à força da natureza. "VagoMundo" traduz a condição amazônica de se expandir, de atravessar limites, de ser ao mesmo tempo local e universal.

Durante a semana preparatória para o Círio, o Fórum Varanda da Amazônia reuniu debates que conectam ciência, ancestralidade e inovação em torno do futuro da floresta.

Nas ruas, grupos como o Arraial do Pavulagem celebram a cultura popular em cortejos coloridos que reafirmam a potência criativa da região.

O fortalecimento da cena cultural paraense também conta com investimentos privados. A Natura, pelo segundo ano, patrocina a Varanda de Nazaré e o Arrastão do Círio, além de apoiar a Casa Apoena e ações de bem-estar para romeiros na Casa de Plácido.

A gigante de cosméticos reassume seu compromisso com arte e cultura e já investiu mais de R$ 14 milhões em projetos na região Norte por meio da plataforma Natura Musical.

"Falar de cultura é sobre impacto de negócio -- e para as pessoas. Em um ano tão emblemático como o da COP30, no coração da Amazônia, precisamos renovar nossa presença em um espaço que ocupa lugar importante na história dos paraenses e do nosso país", disse à EXAME, Julia Ceschin, Head da Marca Natura e Marketing Estratégico Brasil.

Porto Futuro II: o novo cartão-postal da Amazônia

novo complexo cultural e turístico da orla de Belém será inaugurado no sábado, com investimento de cerca de R$ 568 milhões — somando recursos do Governo do Estado, do BNDES e de parcerias privadas. Ocupa 50 mil metros quadrados e revitaliza antigos armazéns portuários, transformando-os em polos de cultura, gastronomia e bioeconomia. Entre as principais atrações estão:

Mais do que uma obra de infraestrutura, o Porto Futuro II representa um legado urbano e ambiental. O projeto busca revitalizar áreas degradadas da zona portuária e criar um novo eixo de convivência e turismo, integrado à Estação das Docas e ao Ver-o-Peso.

Para o setor econômico, a expectativa é alta: geração de empregos diretos e indiretos, fortalecimento do turismo criativo e atração de investimentos em bioeconomia amazônica — tema central desta COP30. 

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