Apoio:
Parceiro institucional:
Fontes renováveis: novas tecnologias podem ajudar no avanço de alternativas ao petróleo (Getty Images/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 30 de novembro de 2023 às 08h13.
Como as ações dos países estão muito distantes da meta mais ambiciosa do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a um aumento da temperatura de 1,5ºC, algumas nações desejam que o documento final da COP28, em Dubai, que deve ser adotado por consenso, mencione de maneira explícita a redução do uso dos combustíveis fósseis, que representam a principal causa do aquecimento global.
Nenhuma COP conseguiu esta menção até hoje. Na reunião de Glasgow, em 2021, o documento final mencionou apenas o carvão.
Secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma entrevista à AFP, denuncia a "falta de vontade política" para evitar a "catástrofe" climática. Muito empenhado no combate às mudanças climáticas, o líder acredita que a simples promessa de redução do uso dos combustíveis não é suficiente.
Guterres lamenta a possibilidade de a COP28 limitar a uma 'redução' vaga e evasiva, cujo verdadeiro significado não seria óbvio para ninguém, avalia. "Uma redução pode significar qualquer coisa. Nunca se sabe exatamente o que significa. Eliminação significa que, em algum momento, paramos, mesmo que não possamos fazer isto amanhã", explica.
O apelo do secretário-geral é para que a eliminação total aconteça de "forma organizada", com um calendário confiável alinhado com o objetivo de +1,5°C.
"Obviamente, sou totalmente a favor de um texto que inclua a 'eliminação' (dos combustíveis fósseis), mesmo que em um calendário razoável", declarou antes de viajar para Dubai, onde se espera uma batalha sobre os combustíveis fósseis durante as duas semanas da reunião, crucial para o clima e o futuro da vida no planeta.
Com a polêmica em torno de conflito de interesses que afeta o presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber, que também é o CEO da empresa de petróleo nacional Adnoc, como pano de fundo, Guterres pede que ele aproveite a situação para convencer o mundo da necessidade de abandonar as energias poluentes.
Al Jaber, o secretário-geral, está em "melhor posição para dizer à indústria petrolífera que a "solução dos problemas climáticos exige a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis do que se fosse membro de uma ONG com resultados sólidos a favor del clima".
"Isto lhe permitiria deixar sem argumentos os que o criticam e estar na linha de frente dos esforços para criar as condições de um calendário adequado para a eliminação das energias fósseis", acrescenta Guterres, acrescentando que considera "inconcebível" que o dirigente dos Emirados Árabes Unidos tenha utilizado a função de presidente da COP28 para promover projetos de petróleo e energia de seu país.
Outra questão crucial da COP28 é o desenvolvimento das energias renováveis. "Devemos triplicar as renováveis a nível global" e não depender apenas dos compromissos voluntários de alguns Estados, afirma Guterres. Neste sentido, ele espera que a COP28 permita avançar na ideia de um grande programa mundial de investimentos na África, um continente que vive um cenário "absurdo, com 60% da capacidade solar, mas apenas 2% dos investimentos".
"Muitas medidas são essenciais para fazer desta COP um sucesso", acrescentou, antes de mencionar a "justiça climática" em particular. A COP27, realizada no Egito no ano passado, permitiu um avanço maior neste sentido com a criação de um fundo para compensar as "perdas e danos" dos países que são mais vulneráveis ao impacto climático e que têm menos responsabilidade histórica nas emissões de gases do efeito estufa. Mas o início da operação do fundo é algo complicado.
"É necessário que esta COP dê um impulso a esses fundos com anúncios de contribuições significativas", avalia Guterres.
Com as previsões de que as temperaturas devem aumentar entre 2,5°C e 2,9°C este século se nada for feito, o secretário-geral da ONU alerta para a possibilidade de "catástrofe total" e não deseja abandonar a meta de 1,5°C. Ele confia que as tecnologias, em particular as energias renováveis, ajudarão a cumprir o objetivo.
"Temos o potencial, as tecnologias, a capacidade, o dinheiro, porque o dinheiro está aí, basta apenas orientá-lo na direção correta", diz. "A única coisa que continua em falta é a vontade política. E é por isso que a COP é importante, para que as pessoas compreendam que seguimos no caminho errado".