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Monitoramento da qualidade da água: o barco de 28 metros conta com quatro laboratórios e cinco camarotes (Pesquisa/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2022 às 09h57.
Última atualização em 9 de maio de 2022 às 13h30.
Por Yasmim Da Silva Tabosa, Rafael Lopes e Oliveira e Igor Oliveira Ribeiro
O barco de pesquisa “Roberto dos Santos Vieira”, inaugurado em março de 2022, no Estaleiro Juruá, em Iranduba, região metropolitana de Manaus, vem como um esforço coletivo para executar o monitoramento da qualidade das águas dos rios, do ar e solos em todo o Estado do Amazonas, por meio de laboratórios instalados (no barco) e equipados com tecnologias de ponta.
A iniciativa de cunho ambiental é uma ação do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), segmento dos grupos de pesquisa "Química Aplicada à Tecnologia" e “Grupo de Estudos Meteorológicos e Modelagem na Amazônia (Gemma), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O programa é considerado pioneiro e conta com 12 projetos de Monitoramento Ambiental e Infraestrutura. Nesta primeira fase, os primeiros projetos de pesquisas na embarcação do ProQAS estão com enfoque no monitoramento da qualidade das águas dos rios que banham o estado do Amazonas. Numa segunda etapa terá início o monitoramento da qualidade do ar, particularmente no período de queimadas da região.
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Por meio do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) firmado entre o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e a UEA, será possível que pesquisadores da universidade e técnicos do Ipaam utilizem a embarcação para analisar a qualidade da água dos rios, realizem análises laboratoriais e, por consequência, mapeiem alternativas para melhorar a condição de vida das populações em comunidades nos arredores.
O objetivo é usar a embarcação do ProQAS como ferramenta de educação, impacto social e desenvolvimento científico na Amazônia.
A estrutura de 28 metros já se configura como uma das maiores para o desenvolvimento de pesquisas na Amazônia. São quatro laboratórios dinâmicos e cinco camarotes dispostos, com capacidade para atender 12 pesquisadores, incluindo seis marinheiros, uma sala de reuniões e uma cozinha, além de um refeitório, uma lavanderia e uma ponte de comando.
Durante o processo de monitoramento, a embarcação vai contar com a atuação de 15 pesquisadores doutores, 70 estudantes de pós-graduação, dos Programas de Clima e Ambiente e Biotecnologia, além de 20 técnicos da UEA, aproximadamente.
Com os resultados obtidos por meio das análises será possível medir aspectos da água, ar como também o solo e, desse modo, identificar possíveis riscos que podem comprometer a saúde daquele ecossistema.
Toda essa estrutura de equipamentos foi adquirida por meio de acordo de financiamento entre Ipaam e UEA para a licitação dos itens, assinado durante a 44ª reunião ordinária do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, em agosto de 2020.
Projetos dessa envergadura são fundamentais para a proteção de recursos naturais, bem-estar da população e prospecção de produtos para o desenvolvimento da bioeconomia, principalmente quando se trata de regiões de grande impacto e abrangência como a região amazônica. É válido ressaltar que a bacia hidrográfica amazônica, como a mais extensa do mundo, ocupa, apenas no Brasil, 3,8 milhões de quilômetros quadrados, sendo responsável por abastecer milhares de pessoas que a utilizam como fonte de água, para a pesca, agricultura, atividades domésticas e entre outros usos.
Ter a saúde desse ecossistema comprometida significa pôr em risco a realidade de não só de inúmeras populações ribeirinhas que dependem estritamente desse recurso, como também da fauna e da flora que habitam esses espaços.
O crescimento de grandes cidades, os despejos de resíduos poluentes e a carência de políticas educacionais são fatores que contribuem para a contaminação dos rios da Amazônia. De acordo com informações da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Manaus (Semulsp), são removidos, em média, 27 toneladas de lixo das águas todos os dias, sendo grande parte deste material plástico descartável, como garrafas pets e embalagens.
O que tem início em grandes metrópoles evidencia os riscos que corpos de água doce têm enfrentado nos últimos anos, fazendo com que os holofotes se voltem para essas regiões e comprovem a importância de projetos que promovam um amplo monitoramento ambiental.
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A dinâmica de monitoramento pretende avaliar as variações que ocorrem nos efeitos físicos, químicos e biológicos das águas em decorrência das atividades humanas e de possíveis fenômenos naturais, como as chuvas e o regime de estiagem sazonal, característicos da região amazônica.
Esse processo inclui a coleta de dados e de amostras de água em locais específicos, realizada em intervalos regulares de tempo, de modo a gerar informações que possam ser utilizadas para a definição das condições presentes de qualidade da água.
No caso desta pesquisa, durante a primeira fase, a embarcação vai percorrer toda a orla de Manaus, com foco nos corpos d’água da região metropolitana (bacia hidrográfica dos rios Tarumã-Açu, Tarumã Mirim, São Raimundo, Educandos e Puraquequara). Futuramente, o projeto deve ser estendido aos demais rios do estado. O cronograma prevê quatro expedições anuais, duas na cheia e duas no período de seca.
Vale ressaltar que o monitoramento da qualidade hídrica é uma das principais ferramentas que auxilia a gestão pública na tomada de decisões relacionadas ao cuidado e conservação dos corpos d'água, principalmente no que refere a conceder o direito de uso e emissão de licenças de lançamento de resíduos.
Como resultado, um dos maiores méritos do programa será proporcionar informações, de monitoramento da qualidade da água, solo e ar, atualizadas para as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), as Secretarias do Estado do Amazonas, eliminando parte das divergências em questão de parâmetros de análises para características das águas da região.
Ademais, há a possibilidade de aprofundamento no conhecimento sobre o curso d'água que está sendo analisado, o que resulta na formulação de um índice de qualidade hídrico que poderá refletir a realidade de qualidade da região onde o estudo foi realizado, beneficiando populações que dependem dessas fontes hídricas.
O barco também vai gerar informações para a Gerência de Recursos Hídricos do Ipaam e subsidiar ações de contraprova nas atividades de autuação ambiental.
O ProQAS, no segundo semestre de 2022 com a chegada da estação seca e o aumento da ocorrência de queimadas na região, também iniciará o monitoramento da qualidade do ar no Estado do Amazonas, uma vez que a poluição do ar associada às queimadas tem sido um problema cada vez maior para a saúde dos povos e funcionamento dos ecossistemas amazônicos.
A embarcação foi doada pela Atem Distribuidora de Petróleo S.A. Em 2016, o Ipaam e a empresa firmaram um “Termo de Compromisso de Medidas Compensatórias'', para atender à ampliação da base de armazenamento e distribuição de combustíveis do grupo no Amazonas. A partir desse termo, o grupo Atem se comprometeu em construir uma embarcação que atendesse às especificidades do programa de pesquisa. A partir da assinatura do termo, o barco foi construído em cerca de 12 meses. Foram aproximadamente R$ 13 milhões de investimento na construção e na aquisição da infraestrutura laboratorial.
Além disso, o barco de pesquisa foi construído com o intuito de ser uma ferramenta de uso colaborativo com outras instituições de ensino e pesquisa, nacionais e internacionais, através de diferentes formas de parcerias para a realização das mais diversas atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Os trabalhos estão iniciando, mas a certeza dos pesquisadores é de que o barco de pesquisa, as colaborações técnico-científicas e as pesquisas que serão fruto desse esforço conjunto permitirá um avanço da fronteira do conhecimento e trará benefícios diretos e indiretos para a sociedade.
Como forma de expandir seu potencial de alcance, a ação está aberta para parcerias de expedições científicas e cooperações com diferentes grupos de pesquisa e instituições de ensino nacionais e estrangeiras.
Os grupos desenvolvem pesquisas desde 2008, e possuem ampla experiência no campo de monitoramento ambiental, possuindo vários projetos concluídos e em execução nesta área do conhecimento. Apenas o ProQAS/AM possui 12 projetos de pesquisa de grande porte.
O Grupo de Química Aplicada a Tecnologia (QAT) possui cerca de 30 estudantes da Escola Superior de Tecnologia da UEA (EST), da graduação à pós-graduação, estão participando do grupo, além de nove pesquisadores doutores das áreas da Física, Química, Geologia, Biotecnologia, Meteorologia e entre outros, liderados pelo Professor Dr. Sergio Duvoisin Junior.
Para mais informações, acesse: https://www.gp-qat.com/.
O Grupo de Estudos Meteorológicos e Modelagem na Amazônia (Gemma), integra pesquisas multidisciplinares buscando aprimorar o conhecimento científico sobre os aspectos físicos e dinâmicos do clima da Amazônia. Ainda, devido ao caráter multidisciplinar das pesquisas na região, são desenvolvidos estudos sobre a variabilidade climática e as mudanças de uso do solo e seus impactos nos níveis de rios, na ocorrência de doenças epidemiológicas, na variabilidade de gases de efeito estufa, no regime de chuvas, na poluição do ar e bem-estar dos povos amazônicos. Busca-se ainda estruturar uma rede de monitoramento de variáveis meteorológicas e de qualidade do ar, para apoiar pesquisas do grupo, e firmar colaborações externas para fortalecer as linhas de pesquisa e atuar na formação de recursos humanos qualificados.
Para mais informações, acesse: http://www.dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1814727278121528
Roberto Vieira é um nome que resgata a importância do monitoramento ambiental na região amazônica. Por ter sido um dos pioneiros a destacar a relevância desse processo, bem como um dos idealizadores do primeiro curso de pós-graduação em direito ambiental na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) a escolha em intitular a embarcação com seu nome se torna uma forma de fazer memória as suas contribuições nesse campo científico.