ESG

Como uma ave gigante ameaça a transição energética da Índia

Quase extinta, a abetarda indiana vive em regiões ideiais para projetos eólicos e solares; preservação do pássaro vai custar vai US$ 4 bilhões a empresas do setor

Quase extinta, a abetarda indiana vive em regiões ideiais para projetos eólicos e solares (Andres Stapff/Reuters)

Quase extinta, a abetarda indiana vive em regiões ideiais para projetos eólicos e solares (Andres Stapff/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 20 de junho de 2021 às 08h00.

A grande abetarda indiana é digna de pena. O majestoso pássaro ameaçado de extinção é enorme e faz manobras lentas. Sua visão frontal é limitada e a ave olha para o chão quando sobrevoa as pastagens planas do oeste da Índia. Por isso, a espécie frequentemente se choca com linhas de transmissão de eletricidade.

Quem também merece pena ultimamente são os desenvolvedores de projetos de energia renovável no país.

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A região onde vive o pássaro raro é também o local ideal para projetos eólicos e solares. Na tentativa de impedir que as abetardas se choquem com linhas de transmissão, uma decisão da Suprema Corte exige que as linhas em grande parte da região sejam enterradas. As empresas argumentam que isso acarretaria US$ 4 bilhões em despesas adicionais e prejudicaria projetos já autorizados que somam quase 20 gigawatts de energia solar e eólica.

O esforço para salvar a abetarda também coloca em risco uma causa ambiental ainda maior. Segundo as empresas, a iniciativa pode prejudicar o alcance das metas climáticas da Índia, que dependem bastante da disponibilidade de terras planas — como o local onde vive a abetarda — para instalação de painéis solares e turbinas eólicas.

“Toda a indústria renovável, especialmente a solar, pode ser paralisada”, disse Parag Sharma, CEO da O2 Power, que está construindo uma fazenda solar de 780 megawatts na cidade de Jaisalmer. “Não é possível encontrar terrenos com tanta facilidade em nenhum outro lugar do país.”

Extinção é ‘certeza’

A decisão judicial de abril decorre de uma petição apresentada em 2019 pelo ativista M.K. Ranjitsinh Jhala. Os juízes basearam a ordem em um relatório do Instituto de Vida Selvagem da Índia, órgão governamental que concluiu que “a menos que a mortalidade nas linhas de energia seja mitigada com urgência, a extinção das abetardas é uma certeza.”

O tribunal decidiu que todas as linhas de baixa tensão, incluindo as já existentes, precisam ser enterradas. O problema, segundo as empresas de energia, é que o tribunal foi muito além da prescrição do relatório. Enquanto o instituto recomendou enterrar cabos na região onde a maioria das aves vive, o tribunal também pediu ação em habitats potenciais, expandindo a área de proteção e o custo para as empresas.

A grande abetarda indiana é uma das criaturas voadoras mais pesadas do planeta. A espécie tem cerca de 1 metro de altura, envergadura de 2 metros e quase 18 quilos, mais que o dobro do tamanho de um pavão. O pássaro se assusta facilmente e faz ninhos no solo. Antigamente, era visto em 11 estados do país, mas hoje se restringe principalmente ao Rajastão.

Uma pesquisa do Instituto de Vida Selvagem da Índia que cobriu 80 quilômetros de linhas de transmissão que cruzam a região do deserto de Thar encontrou quatro abetardas mortas em apenas um ano devido aos fios, incluindo alguns conectados a turbinas eólicas. O estudo descobriu que os pássaros morreram pelo impacto da colisão ou eletrocutados.

Além dos fios de transmissão, a rápida conversão de pastos em projetos agrícolas ou industriais e a baixa taxa de reprodução da espécie, que bota um ovo a cada um ou dois anos, contribuem para a queda no número de abetardas.

“Essas aves estão à beira da extinção e agora confinadas a uma área muito pequena. Salvar esse ecossistema também deve ser parte das nossas metas climáticas”, disse Sreeja Chakraborty, advogada ambiental na cidade de Bengaluru.

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